Em nome da saúde mental, pais precisam de descontrair
Uma atitude de aceitação de que algumas coisas podem não correr tão bem e que pode ser preciso um reajuste ajudará a manter alguma tranquilidade.
Ainda não conseguimos dar “o grito do Ipiranga” no que toca às medidas de protecção contra a covid-19, mas as crianças precisam e querem conviver, e os seus pais também! Como é que podemos, então, encontrar um equilíbrio entre manter as medidas de protecção e, aos poucos, libertar as crianças para aquilo que é parte fundamental do seu desenvolvimento, a socialização?
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Ainda não conseguimos dar “o grito do Ipiranga” no que toca às medidas de protecção contra a covid-19, mas as crianças precisam e querem conviver, e os seus pais também! Como é que podemos, então, encontrar um equilíbrio entre manter as medidas de protecção e, aos poucos, libertar as crianças para aquilo que é parte fundamental do seu desenvolvimento, a socialização?
A nossa saúde psicológica depende também das relações interpessoais e a pandemia impôs-nos fortes restrições, afastando-nos do convívio, das relações de proximidade e retirando espontaneidade na comunicação. No que toca às crianças, muitas ficaram mais vulneráveis, sentiram-se isoladas, sozinhas, distantes dos amigos e colegas, outras transitaram de ano com aprendizagens mal conseguidas e quase todas com défices de socialização. Sabemos que as pandemias aumentam o risco para o surgimento das doenças mentais, sobretudo porque temos de lidar com a incerteza.
Actualmente, estamos em vantagem em relação ao ano passado porque já conhecemos o vírus, já iniciámos a vacinação e tanto as pessoas como os espaços que prestam serviços estão mais sensibilizados para as medidas de higiene que se mantêm necessárias. Parece-nos certo que a pandemia manter-se-á activa durante mais alguns meses, sendo importante encontrar um compromisso entre desconfinar e manter as medidas de higiene e de protecção. Os pais são figuras em quem as crianças confiam e se estes demonstrarem ansiedade ou medo, os filhos reagirão da mesma forma.
É preciso explicar aos mais pequenos o que está a acontecer, porque facilmente poderão sentir-se confusos, dado que, até pouco tempo, os pais obrigavam-nos a estarem em casa e a não se aproximarem dos outros, mas agora querem pô-los lá fora, embora não possam estar assim tão perto...
É certo que nem todos os pais lidam com o fim das restrições da mesma forma; as suas características individuais, a forma como vivem a parentalidade e a capacidade de lidar com o imprevisível poderão torná-los mais ou menos descontraídos. É importante ter em mente que, para a maior parte das pessoas, uma atitude gradual tem maior probabilidade de ser mais bem-sucedida, principalmente para os mais ansiosos ou com história de infecção na família, e para as crianças mais vulneráveis.
Uma atitude de aceitação de que algumas coisas podem não correr tão bem e que pode ser preciso um reajuste ajudará a manter alguma tranquilidade. As crianças são capazes de perceber rapidamente como podem movimentar-se em cada ambiente, sendo que a transmissão de informação clara e que passe confiança e o envolvimento da criança na identificação de algumas medidas de higiene a tomar nas saídas de casa e nos encontros com outras pessoas ajudarão a gerar segurança e ao cumprimento das regras.
Estar com os pares é essencial para o desenvolvimento das crianças, por isso, importa que nesta abertura cuidada e no próximo ano lectivo, além da recuperação das aprendizagens, haja possibilidade de recuperação e de promoção de competências sociais e emocionais através da interacção social, da brincadeira, da partilha, das actividades físicas e lúdicas dentro e fora da escola e da redução do stress.
Pais e professores devem estar mais sensibilizados para identificar e procurar ajuda especializada para as problemáticas instaladas ou agudizadas com a pandemia, como, por exemplo, o cyberbullying, as perturbações alimentares, a depressão, as perturbações do sono, as dificuldades de aprendizagem e as dependências. Estejam atentos aos comportamentos diferentes do habitual, como o isolamento, o choro fácil, a irritabilidade, ou ao uso em excesso dos dispositivos electrónicos em detrimento do convívio com os pares. Esta sinalização pode contribuir para reduzir o impacto destes problemas e para promover uma boa saúde psicológica, dando oportunidade às crianças de respirarem liberdade e de se sentirem seguras para explorar o mundo à sua volta.