Custos de construção sobem 6,5% com escalada nos materiais e mão-de-obra
Dados do INE de Junho dão conta de um prolongamento da tendência de subida com o quinto maior aumento homólogo deste século.
O custo de construção de habitação nova continua a subir em Portugal, empurrado por uma escalada nos preços dos materiais e pelo custo da mão-de-obra. Em Junho, o aumento foi de 6,5% em termos homólogos, mostram os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE), mais 0,4 pontos percentuais face a Maio.
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O custo de construção de habitação nova continua a subir em Portugal, empurrado por uma escalada nos preços dos materiais e pelo custo da mão-de-obra. Em Junho, o aumento foi de 6,5% em termos homólogos, mostram os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE), mais 0,4 pontos percentuais face a Maio.
É a quinta maior subida homóloga desta série estatística iniciada em 2000. Apenas os meses de Verão de 2008 (Julho a Setembro) registaram subidas homólogas superiores à de Junho de 2021.
"Este perfil deveu-se à aceleração (0,8 pontos percentuais) dos preços dos materiais”, justifica o INE, mostrando que os alertas feitos pelo sector da construção têm razão de ser. A variação média mensal dos últimos 12 meses andava na casa dos 2% e, com os dados de Junho, passou para os 3,3% (contra 2,9% em Maio).
Em finais de Junho já se falava na formação de uma “tempestade perfeita" que pode pôr em risco a execução do Plano de Recuperação de Resiliência (PRR). Os particulares interessados na compra de habitação nova e as empreitadas de empresas ou do sector público podem ser afectados por esta escalada, se os construtores não abdicarem das suas margens.
O preço dos materiais e o custo da mão-de-obra apresentaram, ambos, variações de 6,5% face ao período homólogo, segundo o INE. O aumento dos preços dos materiais em Junho (6,5%) foi superior ao de Maio (5,7%). Para tal concorrem diversos factores, como o aumento do preço dos combustíveis ou dos custos logísticos relacionados com transporte de matérias-primas.
O custo da mão-de-obra aumentou igualmente 6,5%, mas com uma ligeira desaceleração face a Maio (6,6%). Neste cenário, o custo da mão-de-obra contribuiu com 2,7 pontos percentuais para a variação homóloga de 6,5% do Índice de Custos de Construção de Habitação Nova e a componente dos materiais contribuiu com 3,8 pontos percentuais.
Na construção nova e na reabilitação de habitação consome-se muitos materiais e emprega-se muita mão-de-obra. Só no PRR estão previstos investimentos de 2733 milhões de euros nos programas de Apoio ao Acesso à Habitação (1.º Direito), construção de um parque público de habitação para arrendamento acessível e Bolsa Nacional de Alojamento Temporário e Urgente. São obras que têm de ser feitas num prazo curto, até 2026, para aproveitar o PRR.
O sector teme, no entanto, que os concursos sejam lançados a preços “irrealistas” e alerta que, por isso, podem ficar desertos. É que a tendência altista dos preços dos materiais ameaça penalizar a construção mais acessível, afectando materiais muito diversos como o cobre, níquel, estanho. Isto para já não falar para a pressão da procura: 27 países da UE a tentarem aproveitar cada um o seu PRR leva a imaginar uma corrida aos materiais cerâmicos e cimentos, cujo custo de produção está também influenciado por energia a preços crescentes e taxas de emissões de CO2.
Além disso, o custo de transporte também disparou, desde logo pela subida dos combustíveis, mas não só. Como o PÚBLICO referia em Junho, o transporte de um contentor de 40 pés do Porto de Leixões para a China, via Roterdão, custava 1550 dólares em Novembro de 2019. No Verão de 2021, o mesmo transporte custa quase três vezes mais, 4375 dólares (cerca de 3600 euros ao câmbio actual).