Como está a mudar o mundo?
Cerca de um terço do novo relatório do IPCC é dedicado às alterações climáticas a nível regional. Como mudaram e como poderão continuar a mudar regiões e espaços concretos do planeta, se o aumento de temperatura não for travado? Olhámos para o retrato traçado para a Europa, os oceanos, as regiões geladas e as áreas urbanas.
Europa
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Europa
A temperatura vai subir no continente europeu, seja qual for o cenário, numa média superior à do aquecimento global. Os fenómenos de calor extremo, que já se têm verificado, deverão continuar a aumentar, em simultâneo com uma diminuição do frio extremo e da formação de gelo. Prevê-se que chova mais no Norte da Europa e menos no Mediterrâneo, e que fenómenos de precipitação extrema e de inundações a eles associados aumentem assim que a temperatura suba 1,5 graus Celsius, comparada com níveis pré-industriais, excepto no Mediterrâneo. O nível do mar vai subir, com excepção do Báltico, e deve continuar a fazê-lo para lá de 2100, com as linhas de costa a regredirem e as praias de areia a desaparecerem em muitos locais. Na zona mediterrânica, prevê-se um aumento da aridez, condições propícias ao fogo e secas hidrológicas, agrícolas e ecológicas.
Oceanos
O IPCC é um novo “banho de realidade”: em qualquer cenário, o planeta deve aquecer 1,5 graus até 2040">Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) tem elevada confiança que as ondas de calor marinhas se tornaram mais frequentes durante o século XX e é com esse mesmo nível de confiança (superior a 90% de probabilidade) que estima que irão continuar a aumentar. O aumento global da temperatura irá levar a uma diminuição da concentração do oxigénio no oceano e é “praticamente certo” que o nível médio do mar continuará a subir, com consequências para a maior parte das localidades costeiras. Em relações aos diferentes oceanos, projecta-se que o Árctico e o Pacífico (na zona ocidental equatoriana) verão as maiores diferenças ao nível das ondas de calor marinhas (confiança média dos cientistas do IPCC, o que quer dizer acima de 66%). Para já, o Índico foi o que aqueceu mais do que a média dos restantes oceanos, enquanto o oceano do Sul, o Atlântico Norte e a parte leste equatoriana do Pacífico aqueceram a um ritmo mais lento do que a média ou até arrefeceram ligeiramente. Enquanto o Atlântico se tornou mais salino, o Pacífico terá diminuído os níveis de salinidade. Os padrões de temperatura e salinidade destes oceanos devem manter-se idênticos.
Regiões polares
Tanto a temperatura média como a precipitação deverão continuar a aumentar durante este século em todos os cenários previstos pelo IPCC, nas regiões polares. No Árctico, a intensidade de precipitação vai aumentar, tornando-se “dominante”, nesta região, enquanto na Antárctida a queda de chuva deverá substituir a neve nas regiões costeiras. Os dados científicos permitem dizer com “elevada confiança” (mais de 90%) que os glaciares perdem massa em todas as regiões polares desde 2000 e que irão continuar a perdê-la por muitas décadas, mesmo que a temperatura estabilize. Na Gronelândia e na Antárctida, a perda de massa que se vem detectando desde pelo menos 1990 foi mais elevada entre 2010-2019, e também deverá continuar.
No Árctico tem-se como muito provável que a temperatura aumentou mais do que o dobro do que a média global, nos últimos 50 anos, e é praticamente certo que esse aumento continue a ser mais pronunciado ali durante este século. Como consequência disto, a época de fogos deverá aumentar, o permafrost diminuir (com o potencial de libertar mais carbono para atmosfera), a camada de neve na Primavera diminuir e o nível do mar subir. O IPCC afirma, com elevada confiança, que a camada de gelo do Árctico está no nível mais baixo desde, pelo menos, 1850, e poderá desaparecer praticamente quando atingir o pico do Verão, pelo menos uma vez antes de 2050, em qualquer um dos cenários previstos.
Na Antárctida as alterações são menos evidentes, mas a região também tem sido marcada pelo aumento de temperatura. A elevada variabilidade interna da região não permite, contudo, estabelecer uma tendência clara para a evolução do lençol de gelo.
Áreas urbanas
Vários factores intrínsecos à própria estrutura das cidades contribuem par que elas aqueçam mais do que as áreas rurais em redor. O efeito conhecido por “ilha de calor” gerado pelas áreas urbanas decorre de factores que incluem a reduzida ventilação e acumulação de calor provocada pela concentração de edifícios altos, as actividades humanas, pouca vegetação e a absorção de calor por parte dos materiais utilizados na construção. O IPCC considera que, embora tenha um baixo impacto no aquecimento global anual, a urbanização exacerbou os efeitos do aquecimento global nas cidades.
Espera-se que o aquecimento global venha a ter implicações mais gravosas nas cidades, com as ondas de calor mais frequentes a juntarem-se ao stress de temperatura já típico das cidades. Aquelas que se situam junto à costa terão ainda que lidar com o problema crescente da subida do nível do mar, bem como a elevada probabilidade de aumento de tempestades, o que fará crescer o risco de cheias.