Uns são delinquentes, ou outros são rebeldes
O cenário das noites algarvias, ou melhor, do comportamento dos jovens dos colégios de elite e das escolas públicas de elite nessas noites, tem-se mostrado no seu pior. Estivéssemos nós a falar de outros jovens, menos “finos” ou mais “periféricos”, e seriam delinquentes...
Talvez por efeito das restrições pandémicas e da escassez dos ingleses a quem imputar todas as responsabilidades, na sua proverbial embriaguez de álcool e turismo low cost, o cenário das noites algarvias, ou melhor, do comportamento dos jovens nessas noites, tem-se mostrado no seu pior.
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Talvez por efeito das restrições pandémicas e da escassez dos ingleses a quem imputar todas as responsabilidades, na sua proverbial embriaguez de álcool e turismo low cost, o cenário das noites algarvias, ou melhor, do comportamento dos jovens nessas noites, tem-se mostrado no seu pior.
A cena da queda (real) de um semáforo, (alegadamente) vandalizado por jovens, sobre uma outra jovem (real), que miraculosamente escapou à morte (real) com escoriações menores (ainda que reais), deve interpelar-nos e fazer-nos reflectir a todos, enquanto pais, educadores e adultos.
É que não basta encolher os ombros e dizer que todos transgredimos na adolescência. Porque transgredimos, é certo, e isso faz parte do processo de crescimento. O problema, porque é disso que se trata, por mais que o queiramos escamotear, é que aquilo a que se assiste nas ruas de Vilamoura ou de Albufeira é a um desfile de jovens desorientados pelo excesso de “coisas” e pela falta de regras, pelo excesso de facilidades e pela falta de atenção e de exigência e, consequentemente, pela falta de horizontes.
Jovens dos colégios de elite e das escolas públicas de elite, daquelas que todos fingimos não existirem. Com roupas caras e telemóveis de última geração. Com dinheiro nos bolsos, para gastar em shots legais e pastilhas ilegais, em apartamentos e moradias gentilmente cedidos pelos pais, porque sim, porque os “miúdos” (que são meninos finos e bem-educados), afinal, precisam de se divertir e de gozar a vida.
E que melhor maneira de gozar a vida do que fintando essa mesma vida, brincando às rebeldias, na certeza de que se algo “der para o torto” o dinheiro ou o apelido da família os há-de “safar” da situação. A rebeldia das festas ilegais, combinadas nas redes. A rebeldia da destruição do espaço público. A rebeldia de filmar “cenas” para, depois, sentir o prazer de humilhar nas redes.
A rebeldia de fugir à guarda e de se rir dos guardas, alguns pouco mais velhos do que eles, mas com conhecimento da dureza de que se podem vestir as vidas.
A rebeldia da juventude, porque estamos a falar de meninos educados em colégios de elite e escolas públicas de elite. Porque estamos a falar dos jovens que crescem nos bairros da classe média alta, numa sociedade que continua pequena, provinciana no seu classismo e perversamente endogâmica.
Estivéssemos nós a falar de outros jovens, menos “finos” ou mais “periféricos” e seriam delinquentes... Assim, são apenas rebeldes a usufruir de merecidas férias...
As férias, que se prolongarão ao sabor da percepção de impunidade e cujos custos sociais haveremos, todos, de pagar no futuro.
Mas, entretanto, que prossiga o folguedo, que os “miúdos” precisam de descanso e os pais também...