A redenção nas mãos de Kevin Durant
Team USA ficou com a medalha de ouro olímpica no basquetebol após bater a França na final. É o quarto título consecutivo para os norte-americanos.
Houve tempos em que a medalha de ouro no basquetebol era a mais previsível nos Jogos Olímpicos. Mas o basquetebol tornou-se um jogo global e a dificuldade dos EUA em construir uma equipa a partir das “estrelas” da NBA (umas recusam e as que aceitam nem sempre encaixam bem umas com as outras) faz com que esse título antecipado seja cada vez menos evidente. E o caminho do Team USA em Tóquio, diga-se, nem sempre foi fácil, mas o resultado foi o mesmo de quase sempre. Medalha de ouro para os norte-americanos, depois de um triunfo na final no Super Arena de Saitama sobre a França (87-82), com mais uma exibição dominante de alguém que, há pouco mais de um ano, não se sabia se alguma vez voltaria a ser o mesmo.
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Houve tempos em que a medalha de ouro no basquetebol era a mais previsível nos Jogos Olímpicos. Mas o basquetebol tornou-se um jogo global e a dificuldade dos EUA em construir uma equipa a partir das “estrelas” da NBA (umas recusam e as que aceitam nem sempre encaixam bem umas com as outras) faz com que esse título antecipado seja cada vez menos evidente. E o caminho do Team USA em Tóquio, diga-se, nem sempre foi fácil, mas o resultado foi o mesmo de quase sempre. Medalha de ouro para os norte-americanos, depois de um triunfo na final no Super Arena de Saitama sobre a França (87-82), com mais uma exibição dominante de alguém que, há pouco mais de um ano, não se sabia se alguma vez voltaria a ser o mesmo.
Já o tinha mostrado na última época regular e estes Jogos de Tóquio confirmaram-no. Kevin Durant é o mesmo Kevin Durant de sempre. Só nesta final, marcou 29 pontos e foi ele que levou o Team USA às costas para o quarto título olímpico consecutivo – uma série retomada em 2008 depois do descalabro em Atenas 2004. Durant esteve nos títulos de 2012, 2016 e neste, tornando-se, de caminho, no melhor marcador da história do torneio olímpico de basquetebol. Nada mau para quem, há ano e meio, estava a lidar com uma rotura no tendão de Aquiles, uma lesão que não é fácil de tratar e que costuma deixar os basquetebolistas muito limitados quando regressam.
Era com ele que Gregg Popovich contava para a redenção do Team USA que no último Mundial de basquetebol, com “Pop” ao comando, nem ao pódio foi. Nesse Mundial de 2019, tinha sido a França a eliminar os EUA e, já em Tóquio, tinham sido os franceses a derrotar os norte-americanos logo a abrir o torneio olímpico. Esta final iria funcionar como uma espécie de dupla vingança.
Popovich largou Durant em campo e deixou-o trabalhar. Raramente o tirou do jogo (35 minutos jogados em 40 possíveis) porque ele, com a sua altura e precisão absoluta a lançar, era o mais imparável de todos. A França tinha as suas armas, muitas delas com experiência da NBA (Gobert, Fournier, Batum), mas Durant e quaisquer que fossem os quatro outros norte-americanos em campo davam conta do assunto.
Foi uma final de estica e encolhe permanente, mas nunca de igualdade. Os franceses chegar a tornar o jogo interessante – Fournier tanto acertava uns triplos como também tomava opções de lançamento inacreditáveis – mas os norte-americanos encontraram sempre uma solução e conquistaram o seu 16.º título em 20 torneios de basquetebol olímpico. Três deles foram às custas da França, que ficou com a prata pela terceira vez depois de 1948 e 2000.
“Bem sei que o Kevin fez um grande jogo e marcou muitos pontos, mas do que eu me lembro é do Draymond Green tirar a bola do cesto num lance livre da França. Tirou-lhes um ponto. Nós, os treinadores, somos um bocado doentes, é assim que olhamos para as coisas”, foi o que Popovich disse na conferência de imprensa quando lhe perguntaram se Durant era um jogador especial. O treinador dos San Antonio Spurs, um dos mais titulados da história da NBA e coadjuvado por Steve Kerr, outro multicampeão, só se limitou a responder com a ironia habitual.
McGee também é campeão
O processo de escolha da selecção norte-americana de basquetebol não é nada tradicional. Não há propriamente uma convocatória, mas uma lista de jogadores convocáveis que são convidados a participar no Team USA. Alguns não abdicam das férias após uma época longa na NBA e isso abre a porta a outros menos óbvios (ou nada óbvios). E nesta selecção norte-americana não haverá um nome tão inesperado como Javale McGee, um poste com uma carreira itinerante na NBA (sete equipas diferentes em 16 temporadas) e de utilidade limitada, que, para além de ser três vezes campeão na NBA, tem agora uma medalha de ouro olímpica.
McGee, que irá jogar nos Phoenix Suns na próxima época, pode considerar-se como uma solução de emergência para tapar um buraco no Team USA, que ficara sem Kevin Love e Bradley Beal, o primeiro por lesão e o segundo obrigado a uma quarentena. E assim, o poste meio trapalhão que era sempre gozado por Shaquille O’Neal na televisão viu-se integrado numa equipa com jogadores com a dimensão de Durant, Damian Lillard e outros.
Teve pouca ou nenhuma influência e não jogou qualquer minuto na final, mas entrou para a história dos Jogos Olímpicos, por ser filho de Pamela McGee, basquetebolista norte-americana que foi campeã olímpica em 1984 – é a primeira vez que mãe e filho são campeões olímpicos. Agora Javale já pode medir currículos com a mãe. “Ela estava sempre a dizer que eu não era nada enquanto não ganhasse um campeonato. Eu ganhei campeonatos e ela continuou a dizer: não és nada se não ganhares uma medalha de ouro”, contava McGee depois de ter sido chamado para o Team USA. Agora, há duas medalhas de ouro na família.