Por que motivo é tão importante vacinar todos os adolescentes contra a covid-19?
Como mãe, anseio que os meus três filhos adolescentes vivam como antes da pandemia, logo que possível. Como pediatra, anseio pela diminuição das consequências psicológicas a que assisto diariamente nas consultas.
Não é fácil explicar, em meia dúzia de frases, por que motivo é tão importante vacinar todos os adolescentes contra a covid-19. Porque são muitos os motivos. Demasiados. E a dificultar a explicação da importância desta vacina, está a corrente antivacinas, que já infectou muita gente.
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Não é fácil explicar, em meia dúzia de frases, por que motivo é tão importante vacinar todos os adolescentes contra a covid-19. Porque são muitos os motivos. Demasiados. E a dificultar a explicação da importância desta vacina, está a corrente antivacinas, que já infectou muita gente.
As opiniões que formamos sobre um determinado assunto também podem ser alvo de contágio, tal como o são as doenças infecciosas. Neste caso, as fontes são as fake news, o exagero sensacionalista de notícias verdadeiras sobre raras reacções vacinais e as inúmeras tribos de comentadores light em fóruns virtuais, cuja influência através da psicologia de grupo é outra ameaça pandémica.
Sempre existiram reacções a vacinas, reacções a medicamentos. Os próprios alimentos que consumimos diariamente estão cheios de pesticidas, aditivos, corantes e conservantes, cujo efeito a longo prazo ninguém sabe com exactidão.
Estamos a atravessar um capítulo complexo da história da Humanidade, uma crise sanitária à escala mundial semelhante à da peste negra. E só não é mais parecida porque a medicina está incomparavelmente mais evoluída.
Em vez de nos congratularmos com a rapidez com que surgiu a vacina contra a covid — actualmente a única arma comprovadamente eficaz para travar a pandemia, sem esquecer as máscaras, desinfecção das mãos e as medidas de distanciamento social, que nos privaram de uma grande fatia da nossa vida de afectos — perdemos tempo em longas discussões infrutíferas sobre riscos/benefícios.
Enquanto isso, o vírus esfrega as mãos de contente: está a ganhar tempo para se mutar, quem sabe numa estirpe mais agressiva e dirigida a quem não foi vacinado ou naturalmente imunizado. Quem sabe os adolescentes.
Parece um filme de ficção científica, mas é a realidade. E que triste realidade, quando todos os avanços notáveis do conhecimento científico médico, que permitiram celeremente dispormos de uma vacina contra a covid, são impotentes perante a invasão vertiginosa de uma “ciência” fast food. De acesso fácil a toda a gente, é fundamentada em pedaços soltos de comentários de negacionistas somados a teorias absurdas de conspiração baseadas em dados obscuros e receios obsessivos dos efeitos laterais desta vacina, supostamente experimental.
A Humanidade tornou-se demasiado desconfiada.
Claro que é importante medir prós e contras, mas com sensatez, sem extremismos cegos e sem medos paralisadores irracionais.
Em vez de continuar a divagar, porque neste assunto perder tempo faz o vírus ganhar terreno, vou directa ao assunto: É fundamental vacinar todos os adolescentes contra a covid-19, como está a ser feito em tantos países europeus e do resto do mundo.
É o único meio que lhes poderá voltar a permitir o acesso a vivências parecidas com a da nossa própria adolescência, sem o receio permanente de conviverem entre os seus pares por causa de uma infecção. Sem a incerteza de interromperem constantemente as aulas nas suas escolas, para ficarem fechados em casa, presos aos monitores num ensino faz-de-conta (por muito que todos, alunos, professores e pais se esforcem para que seja parecido ao presencial).
Como mãe, anseio que os meus três filhos adolescentes vivam como antes da pandemia, logo que possível. Como pediatra, anseio pela diminuição das consequências psicológicas a que assisto diariamente nas consultas, também elas uma verdadeira e trágica pandemia.
Sou a favor da vacinação de todos os adolescentes contra a covid-19, logicamente após os grupos de risco prioritários, mas o mais rapidamente possível. O SARS-CoV-2 é um vírus impaciente, não nos vai dar tréguas facilmente. A vacina pode levar a que as vagas de pandemia terminem e o vírus amanse, tornando-se endémico.
Quantas mais vai ser preciso para entendermos que mais vale prevenir do que remediar?