Como se viu recentemente, pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho, a cultura de esquerda pode integrar hoje o “romantismo”, na sua “visão do mundo”. As aspas, num caso e noutro, têm funções diferentes: na palavra “romantismo”, elas servem para dizer que não se trata do movimento literário, na sua definição e delimitação históricas, mas de uma atitude, um modo de pensar, sentir e agir que atravessa os tempos e torna-se uma categoria do pensamento. Quanto a “visão do mundo”, as aspas servem para dizer que é uma expressão problemática e uma inevitável citação. Por mais naturalizada que esteja, por muito vulgar que se tenha tornado o seu uso, ela pertence a uma tradição escondida. Na verdade, quando analisada de perto, ela revela-se como a tradução de uma palavra forjada em data e por autor incertos (Kant? Schelling? Os estudiosos da sua história semântica divergem na atribuição) mas que irradiou com vigor precisamente no contexto histórico do romantismo alemão: Weltanschauung. A curva semântica desta palavra, como mostrou Victor Klemperer no seu famoso estudo sobre a língua do Terceiro Reich, vai da configuração intuitiva do mundo à ideologia. Na fraseologia nazi, Weltanschauung substituiu “Filosofia”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Como se viu recentemente, pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho, a cultura de esquerda pode integrar hoje o “romantismo”, na sua “visão do mundo”. As aspas, num caso e noutro, têm funções diferentes: na palavra “romantismo”, elas servem para dizer que não se trata do movimento literário, na sua definição e delimitação históricas, mas de uma atitude, um modo de pensar, sentir e agir que atravessa os tempos e torna-se uma categoria do pensamento. Quanto a “visão do mundo”, as aspas servem para dizer que é uma expressão problemática e uma inevitável citação. Por mais naturalizada que esteja, por muito vulgar que se tenha tornado o seu uso, ela pertence a uma tradição escondida. Na verdade, quando analisada de perto, ela revela-se como a tradução de uma palavra forjada em data e por autor incertos (Kant? Schelling? Os estudiosos da sua história semântica divergem na atribuição) mas que irradiou com vigor precisamente no contexto histórico do romantismo alemão: Weltanschauung. A curva semântica desta palavra, como mostrou Victor Klemperer no seu famoso estudo sobre a língua do Terceiro Reich, vai da configuração intuitiva do mundo à ideologia. Na fraseologia nazi, Weltanschauung substituiu “Filosofia”.