Mulheres afegãs estão em perigo com o avanço dos taliban, alerta a Human Rights Watch
Lei para a eliminação da violência contra mulheres ameaçada. Organização de defesa dos direitos humanos denunciou esta semana que os taliban têm levado a cabo execuções sumárias de soldados, polícias e civis com alegadas ligações ao governo.
A lei para a eliminação de violência contra mulheres no Afeganistão, aprovada em 2009, já era de difícil aplicação, diz a organização de defesa de direitos humanos Human Rights Watch (HRW), mas com a conquista de território pelos taliban os lentos avanços que tinham sido feitos nesta área estão ainda mais ameaçados.
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A lei para a eliminação de violência contra mulheres no Afeganistão, aprovada em 2009, já era de difícil aplicação, diz a organização de defesa de direitos humanos Human Rights Watch (HRW), mas com a conquista de território pelos taliban os lentos avanços que tinham sido feitos nesta área estão ainda mais ameaçados.
“Apesar da aplicação total da lei se manter difícil de concretizar, com as famílias e a polícia a impedir as mulheres de fazer queixa, a lei levou a mudanças lentas, mas genuínas, para as mulheres afegãs”, diz a organização. “Agora, com as doações a descer ao mesmo tempo que as tropas estrangeiras se retiram, grupos de defesa dos direitos das mulheres afegãs temem que leis como esta fiquem em perigo quando os taliban ganharem mais poder.”
Depois do grosso da retirada das tropas americanas e internacionais, os taliban aceleraram o avanço pelo país, conquistando território sobretudo em zonas rurais e levando a cabo, segundo um outro relatório da HRW, à execução extra-judicial de forças de segurança ou de quem pudesse estar ligado ao Governo do Afeganistão, mesmo civis - o humorista Nazar Mohammad, conhecido como Khasha Zwan, foi assassinado em Kandahar na semana passada; o poeta e historiador Abdullah Atifi teve a mesma sorte na quarta-feira à noite, morto pelos talibãs na sua casa na província de Uruzgan.
Segundo os relatos recolhidos pela Human Rights Watch em várias províncias, onde chegam, os taliban identificam quem tenha feito parte das forças de segurança afegãs. A seguir prometem aos funcionários da polícia e militares um salvo-conduto que garante a sua segurança, tendo as pessoas de se registarem junto da nova autoridade. Mas algumas delas acabaram detidas, mantidas isoladas e outras foram mesmo assassinadas.
Um jornalista de um distrito de Ghazi, que tem estado a seguir as detenções desde que as forças taliban tomaram o controlo a 13 de Julho, disse que os extremistas fizeram buscas porta-a-porta, procurando quem fazia parte das forças de segurança ou trabalhava para o governo. “Por vezes até mostravam às pessoas fotografias de funcionários do Governo, perguntando onde estavam”, contou à HRW.
O jornalista contou pelo menos 19 mortes entre pessoas das forças de segurança sob custódia dos taliban e ainda mortes de civis. A casa de um antigo comandante de um grupo armado que trabalhou com as forças norte-americanas foi incendiada.
A HRW obteve ainda uma lista de 44 homens de Spin Boldak, em Kandahar, que terão sido mortos pelos taliban. Um deles, um comandante de polícia, tinha obtido uma “carta de perdão” dos taliban, mas foi levado de sua casa por combatentes extremistas, e executado a 2 de Agosto, segundo activistas em Kandahar. Sublinhando que estas execuções são crimes de guerra, a vice-directora para a Ásia Patricia Gossman disse que “os comandantes taliban responsáveis por estas atrocidades também são responsáveis por crimes de guerra”.
Os taliban mudaram a sua estratégia mais centrada nas zonas rurais e estão a atacar cidades, estando perto conseguir o controlo de três capitais de província: Herat, perto da fronteira com o Irão, Lashkar Gah, em Helmand, no Sudeste, e Kandahar, no Sul.
Três comandantes taliban disseram à agência noticiosa britânica Reuters que a decisão de atacar as cidades foi tomada após ataques aéreos dos EUA contra as suas forças. Os comandantes acusam os norte-americanos de não cumprirem o acordado antes da sua retirada.
O negociador taliban Suhail Shaheen, que participa nas conversações infrutíferas entre o movimento e o Governo afegão em Doha, no Qatar, disse que o grupo, que controlou o país com mão de ferro entre 1996 e 2001, está a prosseguir a sua política de controlar zonas rurais e aí implementar a sharia, a lei islâmica, e que o seu objectivo não são as cidades.