México processa fabricantes de armas dos EUA para tentar deter comércio ilegal através da fronteira
Governo mexicano acusa empresas norte-americanas de “negligência” e de “promover abertamente” as armas junto dos cartéis de droga.
O Governo do México lançou uma acção civil na justiça norte-americana contra uma série de fabricantes de armas dos Estados Unidos pelo que classifica de “comércio negligente”, numa tentativa de deter o “tráfico ilegal” de armas através da fronteira, destinadas principalmente aos cartéis.
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O Governo do México lançou uma acção civil na justiça norte-americana contra uma série de fabricantes de armas dos Estados Unidos pelo que classifica de “comércio negligente”, numa tentativa de deter o “tráfico ilegal” de armas através da fronteira, destinadas principalmente aos cartéis.
Ao anunciar o inédito processo, interposto num tribunal do Massachusetts, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Marcelo Ebrard, afirmou que o tráfico ilegal de armas “está intimamente ligado à violência no México” e referiu que a acção pretende que as empresas em questão indemnizem o Estado mexicano pelas “suas práticas negligentes”. O valor pedido ascende aos 10 mil milhões de dólares (8,5 mil milhões de euros)
O chefe da diplomacia mexicana alegou que as empresas norte-americanas Smith & Wesson, Barrett Firearms, Colt’s Manufacturing Company, Glock e Ruger atenderam aos “gostos e necessidades” dos cartéis mexicanos de drogas, dependendo mesmo das vendas ilegais no México para impulsionar os seus resultados financeiros.
A acção alega que os fabricantes promoveram abertamente as suas armas aos criminosos mexicanos, citando como exemplo a edição especial da pistola .38 da Colt, gravada com uma imagem do revolucionário mexicano Emiliano Zapata. Uma dessas armas foi usada no assassinato em 2017 da jornalista Miroslava Breach, de Chihuahua, que investigava ligações entre políticos e o crime organizado e foi assassinada quando levava o seu filho à escola.
O processo tem também como objectivo que os fabricantes de armas norte-americanos desenvolvam “padrões razoáveis e verificáveis” para controlar e disciplinar, se necessário, os seus distribuidores, referindo que as empresas têm consciência do problema, mesmo que argumentem “que não têm responsabilidade quando as armas são colocadas à venda.”
O Governo mexicano pede que as empresas visadas na acção civil implementem “mecanismos de segurança” para evitar que as armas cheguem às mãos de criminosos e, ao mesmo tempo, financiem campanhas de consciencialização sobre o tráfico ilegal, resultado de “práticas negligentes que provocam danos graves ao Estado mexicano”.
“Esta acção legal não substitui outros esforços. O México tem que fazer mais e melhor para controlar a sua fronteira”, disse Marcelo Ebrard, acrescentando: “Não substitui, mas é essencial, sob o risco destas empresas continuarem a fazer o mesmo.”
Revelando que o processo resulta de dois anos de trabalho, o ministro mexicano dos Negócios Estrangeiros prometeu “litigar com toda a seriedade para ganhar o julgamento”.
“Vamos reduzir drasticamente o comércio ilegal de armas. Quem fabrica, promove e incentiva este tráfico a partir dos Estados Unidos não pode ficar impune”, frisou Ebrard, esclarecendo que a acção não é contra o Governo dos Estados Unidos, a quem reconhece os esforços para reduzir o tráfico ilegal de armas através da fronteira com o México.
Um estudo encomendado pelo governo mexicano revelou que 2,5 milhões de armas foram contrabandeadas ilegalmente para o país nos últimos 10 anos, incluindo armas de nível militar, como espingardas Barrett calibre 50, capazes de destruir helicópteros em pleno voo.