GDA insta Parlamento a avançar com transposição de directiva dos direitos de autor
Comissão Europeia já abriu procedimento de infracção contra Portugal por ter falhado o prazo, que expirava a 7 de Junho.
A GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas apelou na quarta-feira ao Parlamento para que avance com a transposição da directiva europeia dos direitos de autor e direitos conexos, que deveria ter acontecido até 7 de Junho.
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A GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas apelou na quarta-feira ao Parlamento para que avance com a transposição da directiva europeia dos direitos de autor e direitos conexos, que deveria ter acontecido até 7 de Junho.
Num comunicado enviado esta quinta-feira à agência Lusa, a GDA revela que enviou “um apelo à Comissão Parlamentar de Cultura e Comunicação, para que seja feita a transposição da directiva europeia relativa aos direitos de autor e direitos conexos no Mercado Único Digital (MUD) para a ordem jurídica portuguesa”, recordando que este apelo “surge depois de, no dia 26 de Julho, a Comissão Europeia ter aberto procedimentos de infracção contra Portugal por não ter transposto a nova legislação da União Europeia”.
A Comissão Europeia abriu em 26 de Julho procedimentos de infracção contra 23 países da União Europeia, por não terem comunicado como transpuseram a nova legislação comunitária sobre direitos de autor ou por o terem feito apenas parcialmente.
Em causa está a lei europeia relativa aos direitos de autor e direitos conexos no MUD, que entrou em vigor em Maio de 2019, tendo-se então estipulado um período de adaptação de dois anos, até Junho de 2021, para os países da UE transporem as novas regras para a legislação nacional, devendo até essa data ser adoptadas as disposições legislativas, regulamentares e administrativas correspondentes.
No apelo enviado aos deputados da comissão parlamentar de Cultura e Comunicação, a GDA, entidade que gere os direitos de propriedade intelectual de actores, bailarinos e músicos em Portugal, “destaca o manual de recomendações para regulamentar o mercado digital que o Parlamento britânico apresentou em 14 de Julho ao Governo do Reino Unido, não só pela metodologia utilizada para auscultar todas as partes com interesses atendíveis, mas também pelas soluções propostas para que os músicos possam receber uma remuneração justa”.
De acordo com o presidente da GDA, Pedro Wallenstein, citado no comunicado, “o trabalho realizado pelo Parlamento britânico – no qual todos os titulares de direitos e as plataformas digitais tiveram total liberdade para expor os seus argumentos – propõe soluções legislativas para a criação de um regime justo e equilibrado no mercado digital que vale a pena conhecer e discutir”.
O responsável salientou que “os artistas portugueses precisam urgentemente de ter mecanismos de protecção que não sejam a mera liberdade contratual”, lembrando que “esta não é uma preocupação exclusivamente portuguesa”.
“Tanto a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) como os grandes mercados da indústria criativa partilham a mesma posição relativamente às medidas para equilibrar a distribuição de receitas no mercado digital”, disse.
Em Abril, numa proposta da transposição daquela directiva europeia para Portugal enviada para o Ministério da Cultura, o gabinete do primeiro-ministro, a Presidência da República e todos os grupos parlamentares, a GDA alertava para a apropriação, pelas plataformas, produtoras e editoras, de cerca de 93% das receitas geradas por autores e artistas.
Serviços como o YouTube, o Facebook, o Spotify, o Google ou o iTunes, “juntamente com produtoras e editoras fonográficas, apropriam-se de cerca de 93% das receitas geradas: em cada dez euros pagos pelo utilizador das obras artísticas no mercado digital, apenas 0,70 cêntimos chegam, em média, aos autores e artistas que as criam, interpretam e executam”.
A “concessão legal de poderes de fiscalização a entidades de gestão colectiva de direitos de autores, artistas, intérpretes ou executantes”, é uma das medidas apresentadas pela GDA na proposta, com o objectivo de “tornar os negócios no MUD mais transparentes”.
Em 14 de Julho, numa audição parlamentar, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, garantiu que o Governo já tem uma “proposta para a transposição da directiva” e que espera “em Setembro ter condições para avançar para uma primeira aprovação em Conselho de Ministros, e depois colocar o documento em consulta pública”. Após esse período, a proposta do Governo será remetida à Assembleia da República.
A directiva europeia foi criada para proteger a titularidade dos conteúdos de artistas, músicos, escritores e jornalistas na Internet, criando regras para a utilização do seu trabalho por terceiros.
Estão, assim, em causa, instrumentos para a renegociação dos contratos, compensações financeiras a suportar por quem usar conteúdos sem ser para fins privados, e o controlo do material que é partilhado por utilizadores nas plataformas online.
O objectivo é que a directiva incida, principalmente, sobre gigantes tecnológicas como Facebook, Google e YouTube, que passam a ter responsabilidades de assegurar o respeito pelos direitos de autor.
“As novas regras garantem uma protecção adequada aos autores e artistas, ao mesmo tempo que criam novas possibilidades de acesso e partilha de conteúdos protegidos por direitos de autor em toda a União”, salientou, na altura, o Conselho da União Europeia, quando a directiva foi aprovada.
Os artigos desta directiva que causaram mais polémica entre os Estados-membros dizem respeito à protecção de publicações de imprensa para utilizações digitais, prevendo um pagamento a essa mesma publicação na partilha de links ou de referências, e à criação de um mecanismo para controlar o material que é carregado nas plataformas por parte dos utilizadores.