Candidaturas chinesas às universidades britânicas ultrapassam as da UE pela primeira vez

Efeitos do “Brexit” começam sentir-se e o número de candidatos europeus diminui em 43%. Dependência em estudantes chineses acontece numa altura de grande tensão diplomática entre Londres e Pequim.

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Governo britânico quer chegar aos 35 mil milhões de libras anuais em receitas com estudantes internacionais Jason Alden / EPA

O número de candidaturas de estudantes chineses às universidades do Reino Unido para o período lectivo de 2021-2022 ultrapassou, pela primeira vez, o número de candidaturas de cidadãos da União Europeia, evidenciando o impacto das novas regras de mobilidade estudantil e de imigração – como o aumento das propinas – trazidas pelo “Brexit” no sector e o aumento do interesse chinês pelo ensino superior britânico.

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O número de candidaturas de estudantes chineses às universidades do Reino Unido para o período lectivo de 2021-2022 ultrapassou, pela primeira vez, o número de candidaturas de cidadãos da União Europeia, evidenciando o impacto das novas regras de mobilidade estudantil e de imigração – como o aumento das propinas – trazidas pelo “Brexit” no sector e o aumento do interesse chinês pelo ensino superior britânico.

Segundo os dados divulgados pelo Universities and Colleges Admissions Service do Reino Unido (UCAS), o número de candidaturas dos estudantes europeus teve uma queda de 43%, em comparação com o ano lectivo anterior. Houve apenas 28,4 mil candidaturas para o período de 2021-2022, ao passo que para 2020-2021 houve 49,6 mil. Nos quatro períodos lectivos anteriores, o número de candidaturas vindas da UE rondou os 50 mil por período.

Por outro lado, o número de candidatos da República Popular da China aumentou, de 24,4 mil (2020-2021) para 28,5 mil (2021-2022), e duplicou em comparação com o período lectivo de 2017-2018, quando se candidataram 13,4 mil pessoas.

A principal consequência das regras definidas pelo Governo britânico após a saída do Reino Unido da UE foi o aumento do valor das propinas nas universidades britânicas. 

Só a Irlanda do Norte é que manteve propinas a valores acessíveis para a maioria dos estudantes da UE e, por isso, é o único território do país que assistiu a um aumento de 35% das candidaturas para 2021-2022. Inglaterra (-41%), Escócia (-41%) e País de Gales (-44%) registaram quedas no número de candidatos, segundo a UCAS.

Citada pela Bloomberg, Stephanie Harries, do grupo de pressão Universities UK, diz que a redução do número de candidaturas da UE já era perspectivada pelo sector, mas assume que, mesmo assim, a nova realidade não deixa de ser “desapontante”. 

Para além disso, Harries sublinha que a “diversidade de experiências no campus” pode sair prejudicada se o Governo não tomar medidas para atrair estudantes europeus.

De acordo com um estudo do Higher Education Policy Institute, a presença de estudantes internacionais no país em 2015-2016 teve um impacto de 22,6 mil milhões de libras (cerca de 26,5 mil milhões de euros) na economia britânica. Downing Street já disse, porém, que quer aumentar esse número para 35 mil milhões de libras.

Mas se o aumento exponencial das candidaturas vindas da China pode ajudar o Governo a aproximar-se dessa meta, a dependência do sector em alunos chineses causa alguma preocupação junto das universidades e organizações de interesse.

Numa altura em que a tensão entre Londres e Pequim é palpável, por causa das divergências sobre autonomia de Hong Kong, sobre tratamento chinês da minoria uiguir em Xinjiang ou sobre os exercícios militares da Marinha britânica no Mar do Sul da China, entre outras, há quem tema que os estudantes chineses possam ser usados como arma de arremesso.

As alterações no fluxo da entrada estudantes chineses no Reino Unido teriam impacto, sobretudo, nas receitas destinadas ao financiamento da investigação universitária.

“O motivo pelo qual as pessoas acham que as universidades britânicas estão entre algumas da melhores do mundo é o facto de a nossa investigação ser tão boa”, sublinha Nick Hillman, director do Higher Education Policy Institute, citado pela Bloomberg.

“As universidades britânicas sentiriam um vento frio na espinha se os estudantes chineses parassem de vir. Não há estudantes suficientes a chegar de outros países do mundo, em comparação com os números chineses”, diz Hillman.