Por uma vez, o título português escolhido para o filme dos irmãos d’Innocenzo (a segunda longa-metragem da dupla, premiada em Berlim 2020 com o Urso de melhor argumento) não é tão descabido como se possa parecer: é de Verão que tudo se passa, e nada do que aqui se passa é bonito, solar ou bem-disposto. Antes pelo contrário. Basta reparar como é preciso esperar quase pelo finzinho do filme para ouvir a palavra que os Beatles diziam ser “tudo de que precisamos” — “amor” — e como tudo em Contos de um Verão Negro parece concebido para confirmar como os homens são animais para os outros homens. Todas estas famílias, supostamente amigas e vizinhas, parecem fechadas sobre si próprias, ao redor de uma certa ideia de “estatuto” que se esgota em si mesma. Todas elas são disfuncionais ao ponto de nem se aperceberem disso (ou, se se apercebem, ignoram-no) — à excepção das crianças, vistas menos como filhos e mais como adereços, testemunhas e vítimas do mal-estar ao seu redor. “Cuidado, as crianças estão a ver”, rezava um título de há umas décadas, e sim, elas vêem e não são burras. Aqui, os adultos são mais cruéis do que os miúdos (porque, afinal, a vida não é uma canção popular).
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Por uma vez, o título português escolhido para o filme dos irmãos d’Innocenzo (a segunda longa-metragem da dupla, premiada em Berlim 2020 com o Urso de melhor argumento) não é tão descabido como se possa parecer: é de Verão que tudo se passa, e nada do que aqui se passa é bonito, solar ou bem-disposto. Antes pelo contrário. Basta reparar como é preciso esperar quase pelo finzinho do filme para ouvir a palavra que os Beatles diziam ser “tudo de que precisamos” — “amor” — e como tudo em Contos de um Verão Negro parece concebido para confirmar como os homens são animais para os outros homens. Todas estas famílias, supostamente amigas e vizinhas, parecem fechadas sobre si próprias, ao redor de uma certa ideia de “estatuto” que se esgota em si mesma. Todas elas são disfuncionais ao ponto de nem se aperceberem disso (ou, se se apercebem, ignoram-no) — à excepção das crianças, vistas menos como filhos e mais como adereços, testemunhas e vítimas do mal-estar ao seu redor. “Cuidado, as crianças estão a ver”, rezava um título de há umas décadas, e sim, elas vêem e não são burras. Aqui, os adultos são mais cruéis do que os miúdos (porque, afinal, a vida não é uma canção popular).