Dielmar sucumbiu à covid-19 e pediu insolvência

Empresa histórica de vestuário e confecção masculina, com sede em Castelo Branco, tem 300 trabalhadores. Autarquia fala em “situaçao trágica”, sindicato apela à viabilização da empresa

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Dielmar, empresa textil que confeccionou os fatos do equipamento oficial do euro 2004 CARLA CARVALHO TOMAS

A empresa de vestuário Dielmar, com sede em Alcains, Castelo Branco, e cerca de 300 trabalhadores, pediu a insolvência ao fim de 56 anos de actividade, uma decisão que a administração atribui aos efeitos da pandemia de covid-19.

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A empresa de vestuário Dielmar, com sede em Alcains, Castelo Branco, e cerca de 300 trabalhadores, pediu a insolvência ao fim de 56 anos de actividade, uma decisão que a administração atribui aos efeitos da pandemia de covid-19.

Fundada em 1966 por quatro alfaiates da vila de Alcains, a empresa apostava na alfaiataria masculina, e chegou a ser conhecida como a “Hugo Boss” portuguesa. Tinha entre outros clientes e fornecedores as marcas Ermenegildo Zegna e Cerrutti. Em comunicado, a administração diz que a empresa “após ter ultrapassado várias crises durante 56 anos”, sucumbiu à pandemia da covid-19, “contaminada por um conjunto de situações que foram letais”.

“Esta crise atacou, globalmente, o que de melhor sustentava a sua actividade: o convívio social, os eventos e casamentos, com a elegância, o glamour da alfaiataria por medida e a personalização em que nos especializámos, e o trabalho profissional no escritório, que eram a base fundamental do negócio da Dielmar”, sublinha a empresa.

No comunicado, a empresa sublinha que os últimos 16 meses foram “longos e duros” e que fez “um esforço imenso e solitário” para conseguir sobreviver e manter os actuais cerca de 300 postos de trabalho.

“Por isso, não podemos deixar de dar uma palavra de gratidão os nossos trabalhadores, que estiveram sempre ao lado da empresa e do nosso lado, a lutar diariamente connosco pela sobrevivência da empresa, com um imenso empenho e dedicação”, afirma o conselho de administração.

Sublinha igualmente que a indústria lançada pelos fundadores da Dielmar há 56 anos “criou milhares de empregos, formou milhares de pessoas, gerou uma imensa riqueza para a região e para o país e levou o nome de Portugal pelo mundo”.

“Honrámos a história da Dielmar e a memória dos seus fundadores, porque a Dielmar pagou pontualmente até à data os salários aos seu trabalhadores e manteve, durante mais de cinco décadas, a prosperidade e a tranquilidade de muitas famílias em Alcains e nas terras em redor”, lembra.

A empresa lamenta a decisão, frisando que tem ainda “maior preocupação” pois sabe “o quanto a desertificação” afecta a região (Castelo Branco), “que se vê a braços com uma nova e forte redução populacional, conforme o demonstram os recentes censos”.

“Talvez a insolvência da Dielmar seja o alerta e o farol para que possam repensar com carácter de urgência o interior e apoiar as indústrias que ainda aqui existem e que suportam, há décadas, a fixação das pessoas e a economia e equilíbrio social da região. E que proporcionam, sobretudo, oportunidades de trabalho para as mulheres”, sublinha o conselho de administração da empresa.

Pede ainda que sejam tomadas “verdadeiras medidas e iniciativas a favor do interior”, para que todos estes trabalhadores “voltem a poder ter o seu emprego aqui e não tenham que sair da sua terra para trabalhar”.

“Ficam a marca e o know-how da Dielmar, as instalações e os equipamentos fabris e a vontade de trabalhar destas gentes que – porventura com a “bazuca” que um dia certamente chegará à economia do interior para promover a retoma – possam ainda ter uma segunda oportunidade e dar mais 50 anos a este projecto empresarial”, realça.

“A insolvência abrirá novas oportunidades que terão certamente a mobilização e apoio do próprio Estado e da autarquia e poderão proporcionar o ressurgimento da empresa e a manutenção dos seus actuais postos de trabalho”, acrescenta.

Autarca fala em “situação trágica"

Em reacção, o Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Baixa pediu hoje medidas para evitar a paragem da laboração na Dielmar, que garantam a continuidade da empresa e dos postos de trabalho.

“Não basta falar do interior, têm de ser tomadas medidas concretas para o interior, neste caso a continuidade da empresa e dos postos de trabalho”, salientou Marisa Tavares, dirigente daquele sindicato, alertando que a insolvência da Dielmar “coloca em causa não apenas a vida destes trabalhadores, mas também das respectivas famílias e de toda a comunidade”.

Explicando que “as trabalhadoras estão de férias até dia 17”, Marisa Tavares defendeu que “as entidades competentes têm de tomar todas as iniciativas e todas as acções possíveis para a manutenção dos postos de trabalho, por via do Governo”.

Esta segunda-feira decorre um plenário junto à porta da empresa para decidir eventuais acções para a manutenção dos postos de trabalho e o sindicato têxtil já fez uma comunicação à Câmara de Castelo Branco, presidida por José Augusto Alves, “para que faça junto das entidades competentes todos os esforços para a empresa continuar a laborar”, e vai ser feito um pedido de reunião ao Ministério da Economia, adiantou Marisa Tavares.

Ouvido pela Lusa, o autarca fala de uma “situação trágica para o concelho”. “É, obviamente, lamentável chegarmos a este ponto. A Câmara Municipal tem estado sempre a acompanhar esta situação, no entanto, aquilo que não queríamos que acontecesse, aconteceu”, afirmou José Augusto Alves.

Segundo o autarca, a insolvência “era uma situação que se vinha a desenhar de há uns tempos a esta parte”, pelo que “era expectável”. José Augusto Alves esclareceu que “há bastante tempo” pediu uma reunião com o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, “porque esta situação poderia acontecer”, pedido que reiterou no fim-de-semana, aguardando uma resposta.

Notícia actualizada às 13h00