Ermelinda Freitas, uma casa de todos
Mais do que os prémios, são os afectos e as memórias que falam mais alto nesta casa matriarcal centenária de onde saem alguns dos vinhos mais prestigiados da Península de Setúbal. Para descobrir, após uma caminhada num “jardim de vinhas”.
Contar a história dos vinhos Ermelinda Freitas é contar a história de uma família que honra a humildade e faz por preservar a arte de receber. Leonor Freitas, filha da mulher que dá nome à casa, comanda o negócio com base nestes valores e é neles que alicerça o prestígio da marca, fundada em 1920 pela sua bisavó, e que se dedicava inicialmente à produção a granel.
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Contar a história dos vinhos Ermelinda Freitas é contar a história de uma família que honra a humildade e faz por preservar a arte de receber. Leonor Freitas, filha da mulher que dá nome à casa, comanda o negócio com base nestes valores e é neles que alicerça o prestígio da marca, fundada em 1920 pela sua bisavó, e que se dedicava inicialmente à produção a granel.
Com os olhos postos no futuro, mas mantendo bem vivas as tradições agrícolas de outros tempos, a casa é o reflexo de uma vida dedicada à terra, “profundamente ligada ao meio rural” e onde os afectos e memórias são preservados na antiga adega, convertida em espaço museológico aberto ao público e que dá a conhecer o percurso das quatro gerações que ali fizeram nascer vinhos extraordinários.
Ao longo do passadiço que percorre a adega, Leonor Freitas começa por apontar para as alfaias usadas noutros tempos, quando começou, ela própria, a fazer vinho. Fala pouco dos prémios dispostos pela sala porque não gosta de se gabar e, por isso, demora-se mais na explicação do processo de produção, desde a plantação da vinha ao engarrafamento, e sorri quando refere que os 550 hectares de vinha onde hoje se produzem mais de 30 castas foram crescendo a partir de uma “pequena” parcela de 60 hectares com apenas duas castas, fernão pires e castelão, sendo esta última a protagonista do vinho Leo d’Honor, uma homenagem à própria e que “só se faz em anos bons, por a produção da vinha ser muito pouca”. Daí resulta um tinto complexo, estruturado “e de muita qualidade, perfeito para celebrar ocasiões especiais”.
A produção de Moscatel Superior, diz, só começou em 2000, dez anos depois da sua plantação, que foi o tempo necessário para que estagiasse calmamente em barricas de carvalho até estar pronto para consumo. “É um trabalho de paciência”, diz.
A aposta na vertente enoturística [ver caixa] tem servido de complemento ao negócio, mais pelo prazer de abrir as portas de casa e partilhar a história da família Freitas do que propriamente pela necessidade de exposição. Por isso mesmo, as visitas à adega, à cave e à sala de prémios são o remate, após um passeio pela vinha pedagógica – que Leonor apelida carinhosamente de Jardim de Vinhas –, que é, de facto, “o coração da casa” e para onde estão pensadas novas actividades, como piqueniques e eventos gastronómicos à volta dos produtos da região. Enquanto esse momento não chega, brinde-se à vida e à família Freitas – e seja-se bem-vindo, que esta é uma casa de todos.
Esta reportagem foi publicada no n.º 1 da revista Solo.