OCDE recomenda aposta do ensino superior nas micro credenciais
Novas formas de certificação são, também para a Comissão Europeia, uma forma de responder à crise provocada pela pandemia.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) está a recomendar às instituições de ensino superior que expandam a oferta das chamadas micro credenciais de modo a responderem aos desafios criados pela pandemia e asseguraram novos públicos. Este é um dos principais destaques do novo relatório da OCDE sobre a situação no ensino superior após um ano de covid-19.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) está a recomendar às instituições de ensino superior que expandam a oferta das chamadas micro credenciais de modo a responderem aos desafios criados pela pandemia e asseguraram novos públicos. Este é um dos principais destaques do novo relatório da OCDE sobre a situação no ensino superior após um ano de covid-19.
Antes de se avançar mais refira-se que se chamam micro credenciais às certificações digitais adquiridas em cursos de curta duração ou em módulos. Esta é a formulação apontada pela Comissão Europeia, que entre Abril e Julho promoveu uma consulta pública com vista “a recolher ideias para o desenvolvimento de uma definição comum de micro credenciais e de normas da União Europeia (UE) para a sua qualidade e transparência”. Ainda não são conhecidos os resultados.
As micro credenciais são também uma das apostas do programa Skills 4 pós-Covid – Competências para o futuro, lançado em Maio pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). Esta iniciativa é, aliás, apontada no relatório da OCDE como exemplo da nova atenção dos governos aos cursos curtos de aprendizagem. Constituem uma forma de promoverem “o aperfeiçoamento e reconversão de competências” nos grupos etários que, devido à crise provocada pela pandemia, terão mais dificuldades em encontrar um lugar no mercado de trabalho se não reorientarem as suas competências.
Mas nem tudo são rosas, constata OCDE, que alerta para o seguinte: “Apesar de prometedoras, subsistem dúvidas sobre as formas como esta credenciação alternativa poderá ser integrada nos quadros de qualificações existentes, como é que a sua qualidade será assegurada, como financiar a sua oferta e garantir a sua aceitação pelas instituições do ensino superior e pelos alunos, como garantir que a equidade no acesso e que sejam reconhecidas pelo mercado de trabalho, bem como monitorizar as remunerações que serão pagas”, alerta a OCDE.
Já a Comissão Europeia dá como adquirido que, independentemente da forma como são garantidas, estas novas formas de creditação são uma forma de aprendizagem “extremamente flexível e inclusiva”. No seu relatório, a OCDE aponta dois públicos-alvo: os estudantes que devido à crise económica deixaram de ter meios para completar o ensino superior tradicional e os adultos que já estão no mercado de trabalho, mas precisam de adquirir novas competências de uma forma mais flexível e acessível do que a garantida nos cursos actuais do ensino superior.
Não será por acaso, nota a OCDE, que a procura no Google do termo micro credenciais “aumentou significativamente a partir de Março 2020, o que coincide com o início dos confinamentos em todo o mundo”. A partir daquela data, 36,7% dos estudantes europeus que tinham empregos perderam o trabalho, de forma temporária ou definitiva. A OCDE dá também conta, com base em estudos entretanto realizados, que devido aos efeitos da crise provocada pela pandemia, pelo menos “13% dos estudantes estão a pensar adiar a sua graduação e que outros 30% esperam ter resultados negativos na sua avaliação”.
Também em Portugal, os últimos dados da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência dão conta de um aumento do abandono no ensino superior no primeiro ano da pandemia, invertendo-se assim a tendência de decréscimo deste fenómeno que se vinha registando nos últimos anos. Especialistas ouvidos pelo PÚBLICO atribuíram sobretudo este aumento a razões de ordem económica. Mas também à “desmotivação” potenciada pelo ensino à distância.
Estudantes preferem ensino presencial
Esta é outro dos aspectos abordados pela OCDE, tendo na base uma sondagem realizada pela European Students’ Union na qual a maioria dos inquiridos apontou a sua preferência pelo ensino presencial. O ensino à distância foi “encarado por muitos estudantes como uma experiência de aprendizagem insuficiente e incompleta. As conferências e aulas práticas não foram sempre substituídas por algo equivalente online. O apoio ao estudo foi sobretudo garantido por familiares ou amigos e não pelos professores. E o estudo online criou novos desafios. Muitos dos inquiridos deram conta de que as suas horas de trabalho aumentaram, alguns queixaram-se de dificuldades no acesso à internet e em garantirem um lugar adequado para estudar”.
Resultados que levam a este aviso da OCDE: “Para responderem às expectativas dos estudantes, as instituições do ensino superior precisam de criar ambientes educativos em que a digitalização continue a expandir-se, sabendo que esta não substitui a relações entre estudantes e entre estudantes e professores”. Serão dois modelos que se complementam, mas que também terão de ser adaptados às preferências manifestadas pelos estudantes por “opções de estudo mais flexíveis, de que são exemplo as aulas em part-time”.