O estado do conflito nas vésperas do 25 de Abril
Quando Spínola, ainda governador da Guiné, se propôs negociar com Amílcar Cabral, Marcelo recusou, alegando que seria um precedente perigoso para Angola e Moçambique: “Para a defesa global do ultramar é preferível sair da Guiné por uma derrota militar com honra, do que por um acordo negociado com os terroristas, abrindo caminho a outras negociações [...]” Também à iniciativa de Jorge Jardim, em agosto de 1973, para negociar o Programa de Lusaka que poderia incluir a FRELIMO, Caetano negou cobertura
No início de 1961 Salazar, desprezando os apelos de negociação dos nacionalistas das colónias africanas e todos os avisos que lhe chegavam do exterior e do interior do país, lançou o país na guerra colonial. Fê-lo na base de um mito que a ditadura impusera como um dogma, o Portugal multirracial e pluricontinental, uno e indivisível do Minho a Timor. Quando, em março, a UPA desencadeou a vaga terrorista no norte de Angola, o povo português, na maioria abúlico, ignorante, desinformado, embarcou embalado ao ritmo do “Angola é nossa”! Com a “Operação Viriato”, que em agosto desalojava a UPA da emblemática base de Nambuangongo e, instalando um dispositivo de quadrícula, recuperava o controlo dos centros urbanos e administrativos, as Forças Armadas Portuguesas (FAP) conferiam ao Governo a grande oportunidade para negociar com os nacionalistas em condições favoráveis. Salazar desperdiçou-a e ignorou o ensinamento de Raymond Aron a que Kissinger chamou “equação básica da guerrilha”: «[…] nas guerras de libertação nacional […] aos partisans basta não perderem, para ganharem […] à partida a superioridade do armamento e do número pertence ao detentor do poder […] mas […] ameaça inverter-se com o tempo […]»[i] Apostou na guerra, que seria longa.