Descalça os sapatos e pára!
Não tenham dúvidas: parar, por momentos, é muito importante para a nossa vida, para a nossa saúde. A nossa mente necessita desse ponto e vírgula na lufa-lufa habitual para se situar no mundo e para se reorganizar.
Já não será a primeira vez que digo que por vezes temos de parar e, com calma, observar a paisagem que nos rodeia. Todos temos tendência a olhar e a seguir sempre em frente, procurando não perder a nossa atenção do objectivo, não olhando para a esquerda ou para a direita. O futuro está logo ali à nossa espera e não podemos perder tempo. E é por isso que, quando damos conta, a vida foi passando, decorrendo, devagar e, no entanto, numa urgência tal que nem demos conta dos bons momentos que decorreram naquela semana, mês ou ano.
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Já não será a primeira vez que digo que por vezes temos de parar e, com calma, observar a paisagem que nos rodeia. Todos temos tendência a olhar e a seguir sempre em frente, procurando não perder a nossa atenção do objectivo, não olhando para a esquerda ou para a direita. O futuro está logo ali à nossa espera e não podemos perder tempo. E é por isso que, quando damos conta, a vida foi passando, decorrendo, devagar e, no entanto, numa urgência tal que nem demos conta dos bons momentos que decorreram naquela semana, mês ou ano.
Esta urgência, de viver e de não parar, mais do que se acentuou ao longo destes quase dois anos de pandemia. Vivemos com a preocupação dos números (Quantos mortos? Quantos infectados? Quantas vacinas disponíveis?...), com a preocupação das regras (Cumprir? Não cumprir? Castigar quem não cumpre?...) e, como sempre, com o pensamento num futuro que há de vir e que será bem mais simpático e brilhante do que este presente sombrio que vivemos actualmente. E assim seguimos numa espécie de lufa-lufa, esperando os resultados da semana ou da quinzena para saber o que nos é ou não permitido a partir daquele dia.
E, quando damos conta, o Inverno passou, a Primavera passou, e o Verão está quase passado. E, mais uma vez, não parámos. Trabalhamos até que nos seja permitido ter uns dias de férias. Mas, ainda assim, não iremos parar, nesses dias. Na ânsia de aproveitar da melhor forma as férias, iremos, mais uma vez numa correria, procurar os divertimentos permitidos, a praia, piscina ou praia fluvial que nos permitirá descansar e que nos fará chegar a casa com o corpo moído de cansaço. Iremos ler até altas horas ou ver séries em catadupa porque, afinal, temos tempo e temos, acima de tudo, de recuperar o tempo perdido ao longo de todo este interminável ano! Chegaremos ao fim das férias com a típica sensação de que “precisamos de férias das próprias férias”. Afinal, todas aquelas idas à praia, as visitas a locais nunca antes visitados por nós, foram fabulosas mas deixaram-nos fisicamente cansados e a desejar um simples “parar”.
E tudo isto porque, parar significa “cessar no movimento ou na acção”. E, pensando assim, fica no ar a questão: “Quantas vezes nos damos ao luxo de parar, efectivamente?” Ao que responderei, sem dificuldade: “Muito poucas!”.
Desconfio que algumas pessoas temem este parar pois terão, nesse momento, que se encontrar consigo mesmas. E, muitas vezes, esse encontro não é fácil, tendo em conta que poderão ter um perfeito desconhecido à sua frente. Mas, digo eu cheia de mim mesma: “Ajam com coragem e sem medos”. O meu conselho será: escolham uns dias do mês, escolham locais agradáveis (pode ser mesmo em casa) e escolham ficar parados, entrar em inactividade, tal como tão bem o fazem os gatos, num qualquer local por eles escolhidos.
A minha proposta para este fim de mês é esta mesmo: Parem! Tirem uns dias. Não façam rigorosamente mais nada que não seja degustar, com tempo, os pratos que têm à vossa frente, saboreiem as imagens que a natureza (do campo ou citadina) vos proporciona, degustem o tempo que vos é dado para dormir, provem o doce sabor que tem o não fazer nada, o doce sabor, como os italianos o imortalizaram, do dolce fare niente. Será esse tempo que irão oferecer a vocês próprios (e apenas a vocês) que vos permitirá reencontrarem-se com vocês próprios e com o mundo que vos rodeia. Não tenho qualquer dúvida que irão dar atenção a pormenores que nunca antes tinham visto e irão ver o mundo, assim como as suas qualidades e os seus problemas, com outros olhos.
Não tenham dúvidas: parar, por momentos, é muito importante para a nossa vida, para a nossa saúde. A nossa mente necessita desse ponto e vírgula na lufa-lufa habitual para se situar no mundo e para se reorganizar. Não o fazer é condenarmo-nos a perder tempo e, sobretudo, a perder qualidade de vida. É muito importante por vezes parar, descalçar os sapatos que utilizámos todo ao ano e dar tempo para esticarmos as pernas. É importante e necessário, não só para o corpo se restabelecer mas, também, para que a alma não adoeça.
Um conselho: coloquem estas ideias em prática já este ano, e digam-me, em Setembro, como se sentiram. Eu mesma vou descalçar os sapatos e esticar as pernas. Não só os sapatos de professora, que me ocupam a maior parte do tempo, mas também os sapatos da cronista que gere um blogue durante o ano inteiro. Até lá, desejo-vos um dolce fare niente!