Vestidos, saia-calção, hijabs: no badminton, as mulheres vestem o que lhes apetece
Há uma década, a Federação Mundial de Badminton queria determinar que as jogadoras usassem sempre saias, de forma a tornar o desporto mais “feminino e “atraente”. Hoje, as atletas podem usar o que quiserem.
Das mais de 30 mulheres que, esta quarta-feira, participaram na competição de badminton, incluindo a indiana P.V. Sindhu ou a taiwanesa Tai Tzu Ying, dois terços usavam calções, enquanto as restantes se apresentaram de saia-calção, vestidos e saias. Uma delas jogou, inclusive, de hijab. É que, no badminton, ao contrário de noutras modalidades, as desportistas usam o que quiserem.
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Das mais de 30 mulheres que, esta quarta-feira, participaram na competição de badminton, incluindo a indiana P.V. Sindhu ou a taiwanesa Tai Tzu Ying, dois terços usavam calções, enquanto as restantes se apresentaram de saia-calção, vestidos e saias. Uma delas jogou, inclusive, de hijab. É que, no badminton, ao contrário de noutras modalidades, as desportistas usam o que quiserem.
Os uniformes desportivos das mulheres têm dado que falar nos últimos dias: primeiro, foi a atleta paralímpica Olivia Breen que denunciou o facto de uma oficial de pista do Campeonato inglês de atletismo, que incluiu provas do campeonato de atletismo para deficientes, ter criticado os seus calções por serem “demasiado curtos e inapropriados”; depois, foi conhecida a decisão da Comissão Disciplinar de Andebol de Praia do Euro 2021 de multar a selecção da Noruega em 1500 euros por as jogadoras se terem apresentado com “vestuário impróprio”, ou seja, calções mais compridos. E, nos Jogos Olímpicos, a selecção alemã de ginástica encontrou uma brecha no regulamento, que admite fatos completos por motivos culturais e religiosos, e fez as provas de maiô e leggings.
No badminton, porém, não há lugar a polémicas. “Temos sorte de podermos usar o que quisermos”, disse Sindhu, medalhista de prata dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que usou um dos seus vestidos quando derrotou Cheung Ngan Yi, de Hong Kong, em Tóquio. Já Soraya Aghaei Hajiagh, do Irão, usou um vestido, com perneiras e hijab, na partida com He Bing Jiao da China.
No campo de badminton viu-se um pouco de tudo, mas as saias-calções brilharam, sendo o traje favorito de Lianne Tan, da Bélgica, ou de Nozomi Okuhara, do Japão.
Há perto de uma década, antes dos Jogos Olímpicos de Londres de 2012, o badminton terá passado por uma polémica semelhante à que as outras modalidades vivem agora. A Federação Mundial de Badminton (BWF, na sigla original) queria determinar que as jogadoras usassem sempre saias, de forma a tornar o desporto mais “feminino e “atraente” para adeptos e patrocinadores. Todavia, graças a protestos das atletas, a regra foi eliminada antes da competição mundial.
A BWF terá aprendido com o erro, que garante não repetir. “Em retrospectiva, demos a volta pelo caminho errado, mas aprendemos com isso e os nossos fornecedores também”, disse a bicampeã mundial e membro do conselho da federação, Nora Perry, cujos patrocinadores incluem a Adidas e a empresa japonesa de equipamentos desportivos Yonex, tendo a última apoiado a revolta das atletas, sobretudo porque há “muitas coreanas e chinesas que não querem usar saias”, acrescentou Perry.
Nos anos 1980, quando a vencedora de mais de 75 títulos internacionais competia, era moda usar saias e vestidos com “folhos por baixo”. As jogadoras de hoje agradecem a luta de Perry e de outras atletas. “Foi bom que as vozes das mulheres tenham sido ouvidas. Pessoalmente, não me sinto confortável com uma saia. Por isso, gosto da escolha de calções curtos e calções longos”, sublinhou a desportista britânica Kirsty Gilmour. “Tai Tzu Ying gosta dos seus tops sem mangas”, assinalou ainda. “Temos sorte de não sentir pressão sobre como devemos estar.”