Sai o rei Uchimura, entra o herdeiro Hashimoto
Primeiro, veio a desilusão com a queda de Kohei Uchimura, um dos melhores ginastas de sempre. Foi a desilusão nacional japonesa. Depois, veio o herdeiro.
Um Japão triste no fim-de-semana transformou-se um Japão em êxtase nesta quinta-feira. Primeiro, veio a queda de Kohei Uchimura, um dos melhores ginastas de sempre. Foi a desilusão nacional japonesa. Depois, chegou o herdeiro.
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Um Japão triste no fim-de-semana transformou-se um Japão em êxtase nesta quinta-feira. Primeiro, veio a queda de Kohei Uchimura, um dos melhores ginastas de sempre. Foi a desilusão nacional japonesa. Depois, chegou o herdeiro.
Aos 19 anos e em estreia olímpica, Daiki Hashimoto conquistou o ouro na final da ginástica masculina do all around, tornando-se o 19.º campeão olímpico de ginástica masculina mais jovem de sempre e também vencedor da simbólica 100.ª medalha olímpica do Japão na modalidade.
Isto foi mais do que suficiente para o Japão “sobreviver” ao fim da carreira olímpica do “Rei Kohei” Uchimura, que caiu nas barras, nas qualificações, e não chegou à ronda final. Ele que ainda é o único a ganhar tudo, entre Mundiais e Jogos, durante dois ciclos olímpicos seguidos (de 2009 a 2016).
“Nasceu o herdeiro de Uchimura”, “Dezanove e extremamente brilhante” e “Que performance poderosa! O bastão foi passado com segurança”, foram algumas das manchetes na imprensa nipónica.
Muitos elogiam a juventude de Hashimoto, notando que, com 19 anos, Uchimura, “apenas” conseguiu alcançar a prata olímpica, em Pequim. Hashimoto tem, porém, algum pudor em colocar-se ao nível do lendário compatriota. “Herdeiro? Bem, precisamos de aproveitar o que o Uchimura nos deixou, melhorar e levar a ginástica japonesa ainda mais longe”, disse Hashimoto aos repórteres, após a sua vitória. “Mas estou bastante feliz por ter conseguido suceder-lhe como campeão olímpico”, acrescentou.
Japoneses celebram
Tóquio assistiu à festa japonesa pelas conquistas do país que já liderou o medalheiro olímpico dos Jogos e que segue, neste momento, em segundo lugar (25 medalhas, as mesmas 15 de ouro da líder China, que soma um total de 31).
Chiyoko Oshima e uma amiga contaram à Reuters que tinham bilhetes comprados para vários eventos, incluindo a ginástica masculina, mas a proibição de público nas provas obrigou-as a acompanharem as competições... num quarto de hotel. Foi de lá que celebraram.
Oshima, de 62 anos, ficou surpreendida por ver Hashimoto arrebatar o ouro. “Quando vimos o sucesso destes atletas pela TV, brindámos e chorámos alegria, por vermos que estas pessoas são tão jovens e prepararam-se com todas as forças e coração”.
Outros há, como Ryoko Yoshioka, que acreditam que o Japão poderia ter tido maior sucesso se não houvesse uma proibição dos espectadores nos recintos olímpicos. “Penso que se houvesse espectadores isso permitiria uma base de apoio mais forte para os atletas. Há muitos apoiantes japoneses por aí, e isso certamente traria poder aos nossos atletas”, disse Yoshioka.
Estas declarações mostram algumas excepções ao sentimento geral japonês de que o país não deveria ter aceitado organizar os Jogos em plena pandemia. E mostram como os bons resultados desportivos ajudam a esquecer outros problemas.