João Almeida sem diploma olímpico em Tóquio
O ouro em Tóquio ficou para Primoz Roglic, numa história que define na perfeição a base do espírito olímpico, depois de estar no “fundo do poço”. Hoje, o esloveno “esmagou” a concorrência.
Um 16.º lugar para João Almeida, um 21.º para Nélson Oliveira. Foi este o desempenho dos ciclistas portugueses na prova olímpica de contra-relógio, nesta quarta-feira, ganha por Primoz Roglic, que já tinha sido apontado como possível figura destes Jogos. A prata ficou para o holandês Tom Dumoulin (a 1m01,39s) e o bronze para o australiano Rohan Dennis (a 1m03,90s), na maior diferença de sempre entre o ouro e a prata.
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Um 16.º lugar para João Almeida, um 21.º para Nélson Oliveira. Foi este o desempenho dos ciclistas portugueses na prova olímpica de contra-relógio, nesta quarta-feira, ganha por Primoz Roglic, que já tinha sido apontado como possível figura destes Jogos. A prata ficou para o holandês Tom Dumoulin (a 1m01,39s) e o bronze para o australiano Rohan Dennis (a 1m03,90s), na maior diferença de sempre entre o ouro e a prata.
Para Almeida, este é um resultado agridoce. Por um lado, o ainda jovem ciclista fica na primeira metade da tabela (entre 38 corredores) e teve um dia para ganhar experiência em Jogos Olímpicos – que muito útil poderá ser em Paris 2024. Por outro, o português, actual campeão nacional da especialidade, era apontado quase unanimemente como um candidato a diploma olímpico (as casas de apostas previam-lhe um top 6) e, num dia particularmente forte, a uma eventual medalha.
Nada disso aconteceu e a glória olímpica do ciclista das Caldas da Rainha, a dias de anunciar a equipa para 2022, terá de esperar pelo menos mais três anos. O português, assumindo que não esteve no seu melhor, apontou à RTP que o percurso era demasiado duro e que talvez tenha começado o “crono” demasiado forte. Gastou mais quase três minutos e meio do que vencedor.
Ainda menos feliz foi Nélson Oliveira, com um “crono” também modesto (a 3m55,03s de Roglic). O ciclista da Anadia, sétimo nos últimos Jogos, no Rio de Janeiro, sai de Tóquio com o 21.ºlugar, posição que o próprio já previa quando cruzou a meta.
Oliveira rodou nas primeiras séries de corredores e ficou com o quarto melhor tempo quando cruzou a meta – uma honra, na teoria, mas o próprio, com um abanar de cabeça, percebeu que seria uma posição provisória.
O espírito olímpico
Entre os melhores, a vitória de Primoz Roglic ilustra na perfeição o espírito dos Jogos Olímpicos, feitos para espoletar a superação humana.
O ciclista esloveno perdeu o Tour de forma dramática, em 2020, perdeu-o novamente em 2021, devido a uma queda, e rodou de forma sofrível na prova de fundo, já em Tóquio. Mas é a sair do fundo do poço que se faz um campeão.
Roglic, que um dia até sonharia ser medalhado olímpico nos Jogos de Inverno, pedalou em modo “comboio humano” e esmagou a concorrência – e, em pleno evento olímpico, não há concorrência melhor do que esta. A própria felicidade exteriorizada por Roglic, quase sempre sóbrio nos festejos, mostrou o quanto o esloveno tinha para libertar para o mundo.
Mais do que o próprio tempo final, o nível de Roglic pode ser atestado por um detalhe curioso: a dada altura do “crono”, Roglic, Kasper Asgreen e João Almeida rodavam juntos na estrada. Quer isto dizer que o esloveno tinha um ritmo tal que apanhou dois grandes contra-relogistas na estrada, anulando as diferenças nos tempos de partida – entre o português e Roglic eram… três minutos.
Também a prata de Tom Dumoulin é um exemplo de ressurreição, com o ciclista dos Países Baixos a surgir novamente no topo depois de ter colocado a carreira em pausa, por incapacidade de lidar com a pressão – um tema muito caro nos dias de hoje, como provou Simone Biles.
De resto, este percurso de Tóquio, de 44 quilómetros, confirmou que não era para roladores puros. Com várias secções de “sobe e desce”, pedia potência em distâncias curtas e várias mudanças de ritmo, mais do que a constância na pedalada que se pede a um contra-relogista tradicional.
Essa diferença de valências ficou clara olhando para os tempos de contra-relogistas puros como Filippo Ganna ou Stefan Küng, por comparação com nomes como Roglic ou Dumoulin.
E mesmo entre os dois portugueses esta diferença também ficou clara: Oliveira, mais rolador puro, teve dificuldades. Almeida, mais versátil, teve um desempenho melhor.
Com os “cronos” ganhos por Roglic e Van Vleuten, está fechado o ciclismo de estrada. Venha a pista, com a portuguesa Tata Martins em prova.