Otelo: Marcelo lembra que não houve luto nacional por outras “figuras cimeiras” do 25 de Abril
Chefe de Estado foi ao velório do “Capitão de Abril”, por onde também passou o presidente da Assembleia da República.
O Presidente da República disse nesta terça-feira que para a decisão de não haver luto nacional pela morte do militar de Abril Otelo Saraiva de Carvalho contribuiu o facto de ter acontecido o mesmo quando morreram outros protagonistas da revolução.
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O Presidente da República disse nesta terça-feira que para a decisão de não haver luto nacional pela morte do militar de Abril Otelo Saraiva de Carvalho contribuiu o facto de ter acontecido o mesmo quando morreram outros protagonistas da revolução.
Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas depois de ter passado pela capela da Academia Militar, em Lisboa, onde esta tarde decorre o velório de Otelo Saraiva de Carvalho, que morreu no domingo, e que, como referiu o Presidente, foi uma “figura cimeira” da operação militar de 25 de Abril de 1974, a par de outros nomes já desaparecidos, como Salgueiro Maia, “a protagonizar”, ou Ernesto Melo Antunes, “a pensar”.
“Penso que pesou o facto de figuras que eu já referi, Salgueiro Maia, Melo Antunes, não terem merecido essa homenagem. Olhando para trás, é pena que não tenham merecido”, afirmou o Presidente, depois de lembrar que a decisão de propor luto nacional é do Governo.
“Na altura não ocorreu e, portanto, para não abrir um debate sobre vários nomes cimeiros, qual o mais cimeiro, penso que foi isso que levou o Governo a não dar o passo”, acrescentou.
O Presidente da República disse que as polémicas em torno do percurso de Otelo Saraiva de Carvalho, depois do 25 de Abril, não pesaram para a decisão de não haver luto nacional e reiterou que cabe agora à história fazer a avaliação definitiva.
“Não. Isso é um juízo que a história fará. A história está cheia de personalidades que marcam momentos históricos e, no entanto, antes e depois, foram controversas e tiveram momentos em que suscitaram paixões e que suscitaram rejeições. Isso faz parte da história e nós, quando aceitamos a história, aceitamos como um todo. Agora, o facto é que Otelo Saraiva de Carvalho, no 25 de Abril e no momento do comando operacional do 25 de Abril teve um papel para a história, um papel cimeiro, um papel proeminente, é um facto que devemos todos respeitar, por um lado, e associar àquilo que foi 25 de Abril na viragem de uma ditadura para a liberdade e para a democracia”, acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa esteve alguns minutos dentro da capela onde decorre o velório e onde têm estado diversos membros da Associação 25 de Abril, entre eles, o presidente, Vasco Lourenço, que Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou.
Uma fila permanentemente com várias dezenas de pessoas está desde antes das 16h00 à porta da capela da Academia Militar.
Muitos dos que a integram levam cravos vermelhos, o símbolo da revolução de 25 de Abril de 1974, que derrubou a ditadura do Estado Novo.
Além do Presidente da República, já passou pelo velório de Otelo Saraiva de Carvalho o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
Nascido em 31 de Agosto de 1936 em Lourenço Marques, actual Maputo, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.
No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril. Depois do 25 de Abril, foi comandante do Copcon, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.
Na década de 80, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por dezenas de atentados e 14 mortos, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado cinco anos depois, uma decisão que levantou muita polémica na altura.