Dois terços dos casais românticos começam de forma platónica
Trabalho mostra que cerca de 70% dos participantes afirmaram que não começaram as suas amizades com intenções românticas. Na comunidade LGBTQ+, essa taxa é ainda maior.
A cultura televisiva e cinematográfica sempre nos vendeu histórias de amor à primeira vista, em que dois estranhos se conhecem e apaixonam-se. E ao que parece essas mesmas histórias foram também vendidas à investigação científica. Um estudo publicado na revista Social Psychological and Personality Science dá conta de que 75% dos estudos analisados sobre como começam os relacionamentos amorosos se focam no romance que nasce entre estranhos. Mas a vida real é um bocado mais complicada do que isso e, na verdade, dois terços dos casais românticos começam como amigos, descobriu o grupo de cientistas que publicou este novo estudo.
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A cultura televisiva e cinematográfica sempre nos vendeu histórias de amor à primeira vista, em que dois estranhos se conhecem e apaixonam-se. E ao que parece essas mesmas histórias foram também vendidas à investigação científica. Um estudo publicado na revista Social Psychological and Personality Science dá conta de que 75% dos estudos analisados sobre como começam os relacionamentos amorosos se focam no romance que nasce entre estranhos. Mas a vida real é um bocado mais complicada do que isso e, na verdade, dois terços dos casais românticos começam como amigos, descobriu o grupo de cientistas que publicou este novo estudo.
O início de relações amorosas através da amizade parece ser algo pouco tido em conta quando chega à hora de investigar sobre o assunto. Uma investigação feita por três cientistas das universidades de Victoria e de Manitoba (Canadá) começou por revelar que os estudos sobre inícios de relacionamentos publicados em revistas científicas e citados em livros “focam-se no romance que surge entre estranhos e ignoram o romance que se desenvolve entre amigos”. “Dos estudos analisados [108], 75% focavam-se no início de uma relação amorosa entre estranhos, enquanto apenas 8% se focavam no início de uma relação amorosa entre amigos”, pode ler-se no artigo científico.
“Esse foco limitado poderia justificar-se se o início de relações amorosas através da amizade fosse rara ou indesejável, mas a nossa investigação revela o oposto.”
Além disso, a equipa analisou também dados de quase 1900 estudantes universitários e adultos canadianos e norte-americanos, aos quais foram feitos inquéritos para este trabalho. Neste caso, o grupo de investigadores observou que cerca de dois terços (68%) dos inquiridos relatou que a sua relação amorosa actual (ou então a última) começou de forma platónica.
Uma percentagem que se mostrou ser ainda maior – cerca de 85% – quando se tratava de relações amorosas entre pessoas do mesmo sexo. “Houve pouca variação entre género, nível de educação ou grupos étnicos, mas a taxa de relações amorosas que começaram com amizades foi ainda maior entre os jovens na faixa dos 20 e dentro das comunidades LGBTQ+”, dá conta um comunicado de imprensa sobre o trabalho.
Amizades sem segundas intenções
Dentro dos estudantes universitários, os investigadores tiveram também em conta outros factores para perceber melhor as relações amorosas que começavam com amizades. Um deles foi o período de tempo durante o qual as duas pessoas foram amigas antes de se tornarem um casal - que rondou entre um a dois anos. “Em média, os que iniciaram um relacionamento como amigos foram amigos durante 21,9 meses antes de se tornarem um casal.”
Além disso, a maioria da população do estudo relatou que não tinha iniciado a sua amizade com intenções ou atracções românticas (70%) e quase metade (47,4%) relatou que começar como amigos era a sua forma preferida de desenvolver um relacionamento amoroso. “Assim, não só a amizade é o tipo mais comum de início de uma relação amorosa, como esse é também o método preferido para iniciar uma relação entre os estudantes universitários.”
Dado o predomínio de relacionamentos românticos que começam de forma platónica e o facto de ter sido utilizada uma amostra ocidental (foram inquiridas apenas pessoas dos Estados Unidos e do Canadá), os investigadores esperam ver mais estudos feitos neste campo e com amostras mais amplas. “Futuras investigações devem examinar as diferenças culturais no predomínio das relações amorosas que começaram com amigos e outras formas que podem não ser comummente reconhecidas no Ocidente, mas que podem ser igualmente esquecidas por teorias e dados científicos existentes.”
Citada no comunicado de imprensa, Danu Anthony Stinson, professora de psicologia na Universidade de Victoria e principal investigadora deste estudo, espera que este trabalho faça com que as pessoas revejam as suas noções preconcebidas de amor e amizade, já que observa que somos ensinados de que são dois tipos diferentes de relação e que servem propósitos distintos. “A nossa investigação sugere que as linhas entre amizade e romance são confusas”, afirma a investigadora. “Isto força-nos a repensar as nossas suposições sobre o que constitui uma boa amizade, mas também o que constitui um bom relacionamento romântico.”
O texto editado por Teresa Firmino