Férias e competências emocionais

As férias podem representar uma oportunidade para as crianças adquirirem ou treinarem as competências sociais e emocionais.

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@PETERCALHEIROS

Depois de verem reduzidas as relações dos mais novos com os seus pares por causa da pandemia e, em consequência, a aquisição de competências sociais e emocionais, é natural que os pais estejam preocupados em relação aos efeitos do isolamento social e procurem colmatar alguma destas lacunas.

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Depois de verem reduzidas as relações dos mais novos com os seus pares por causa da pandemia e, em consequência, a aquisição de competências sociais e emocionais, é natural que os pais estejam preocupados em relação aos efeitos do isolamento social e procurem colmatar alguma destas lacunas.

A investigação tem demonstrado que a pandemia apresentou efeitos diretos na sua saúde mental das crianças e adolescentes, nomeadamente, através da falta de convívio, das reduzidas brincadeiras entre pares e da limitação na socialização, gerando um aumento do número de problemas emocionais e comportamentais, como por exemplo, a ansiedade, a depressão, a irritabilidade e a agressividade, os medos e inseguranças, a dificuldade em lidar com a frustração e as birras, os distúrbios do sono e da alimentação.

As férias podem representar uma oportunidade para as crianças adquirirem ou treinarem as competências sociais e emocionais, sobretudo, porque proporcionam momentos de interação entre colegas e com os adultos, que os podem ajudar a aprender e a compreender comportamentos e sinais próprios da interação social e emocional. Mas cuidado para não transformar esta vontade de colmatar uma lacuna, fruto da pandemia, num fator de stress e estragar as tão almejadas férias. Para não correr esse risco, limite-se a fazer aquilo que as crianças tanto gostam: brincar!

Esta é uma forma barata e eficaz de fortalecer a sua relação com o seu filho e de desenvolver competências. As crianças aprendem muito através da brincadeira e nesta interação podem pôr as suas ideias em prática, correr riscos, partilhar sentimentos e pensamentos e experimentar diferentes papéis. A brincadeira com os pais representa um contexto seguro para fortalecer a proximidade, sobretudo se for livre de ordens ou de instruções.

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Não ensine a criança a brincar, nem a critique se ela decidir pôr uma cama na cozinha da casa de bonecas. Deixe-se guiar pela imaginação dela, em vez de impor a sua. Em alternativa, imite as suas ações e faça o que ela lhe disser para fazer. Depressa descobrirá que quando dá ao seu filho a oportunidade de exercitar a imaginação, ele ficará mais envolvido e interessado nas brincadeiras, tornando-se mais criativo e capaz de pensar e de brincar de forma independente.

Quando se trata de adolescentes, planeie caminhadas, visitas específicas, experiências de bem-estar, onde podem ativar e identificar emoções tanto neles próprios como nos outros, e criar espaço para compreender as emoções através dos seus pensamentos: “Estão todos  a olhar para mim!”, “O que vão pensar de mim?” e no corpo: pelas reações fisiológicas, como o corar da face, os tremores e o aumento do ritmo cardíaco.

Depois é importante aplicar a regulação emocional para lidar com o turbilhão de emoções de forma adequada. Por exemplo, os adolescentes podem identificar a vergonha em si e nos outros e compreenderem a sua função adaptativa, isto é, evitar a exclusão e a rejeição social. Mas quando a vergonha acontece, o que podem fazer? Aceitar e pensar que outras pessoas já passaram pelo mesmo e que a vergonha surge devido ao receio de serem avaliados pelos colegas, evitando comportamentos e atitudes menos corretas.

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Aproveite ainda para descobrir os talentos de cada um. Cante, dance e faça teatros. Não tenha vergonha de fazer figuras à frente dos seus filhos, é isso que cria intimidade. Defina momentos de colaboração onde todos ajudam na realização de uma tarefa, como as refeições por exemplo. Tudo isto pode ser muito agradável, sobretudo, quando a intenção é crescer em conjunto e criar recordações de momentos bons passados em família. O único cuidado a tomar é não cair no erro de transformar estes momentos em interrogatórios, lições de moral ou críticas às crianças sobre o que se passou durante o ano.

Relaxe, divirta-se, respeite as normas de segurança da DGS e as demais pessoas, deixando espaço para o improviso, afinal, são férias!


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990