Brit Bennett: “A ficção é a única coisa que nos faz ter acesso ao pensamento de outra pessoa”
Como é que uma pessoa se torna nessa pessoa? A pergunta é o ponto de partida para A Outra Metade, segundo romance de Brit Bennett, num território já muitas vezes percorrido pela literatura, mas com uma linguagem e um olhar do século XXI. Há raça, identidade, a ideia de duplo e performance. Tudo começa numa pequena cidade do Louisiana com duas gémeas iguais. Com elas, Brit Bennett segue uma linhagem literária exemplar.
“Quando soube que o livro ia sair durante a pandemia achei que ninguém o iria ler.” A frase dita assim, entre um sorriso e a sabedoria do que, entretanto, se passou, é o culminar de uma história feliz, a do percurso de A Outra Metade, romance da norte-americana Brit Bennett. Não só se tornou num êxito editorial como conquistou parte importante da crítica. Publicado em Junho de 2020 no mundo anglo-saxónico, vendeu milhares de exemplares e é um dos finalistas deste ano do Orange Prize que celebra a ficção escrita por mulheres, a par de títulos como Reino Transcendente, de Yaa Gyasi ou Piranesi, de Susanna Clarke. “Sim, acho que este livro mudou a minha vida, mas é difícil dizer até que ponto”, diz Brit Bennett em conversa com Ípsilon por videochamada, desfazendo com a voz, com o olhar, com os óculos e o cabelo apanhado, o ar por vezes duro com que aparece nas fotografias que a têm dado a conhecer nos suplementos literários um pouco por todo o mundo. Tem 31 anos, mas poderia passar quase por uma adolescente.