Há cinco anos a pedir uma alternativa forte, Marcelo vira-se para os empresários
O Presidente da República está preocupado com a fraca capacidade de influência dos líderes políticos, económicos e sociais, incluindo os parceiros sociais. Por isso foi ao Fórum da Competitividade pedir aos empresários para fazerem a sua parte.
Marcelo Rebelo de Sousa já não está apenas preocupado com a falta de uma alternativa política forte, a tal que pede há cinco anos mas que continua a não vislumbrar. As suas preocupações estendem-se hoje à deficiente capacidade de intervenção de outros líderes políticos, económicos e sociais — onde se incluem os parceiros sociais —, para influenciar as decisões políticas.
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Marcelo Rebelo de Sousa já não está apenas preocupado com a falta de uma alternativa política forte, a tal que pede há cinco anos mas que continua a não vislumbrar. As suas preocupações estendem-se hoje à deficiente capacidade de intervenção de outros líderes políticos, económicos e sociais — onde se incluem os parceiros sociais —, para influenciar as decisões políticas.
“Ou se encontram novos protagonistas políticos, económicos e sociais, e isto inclui os parceiros sociais, ou se muda de discurso. O que não se pode é desaproveitar o Plano de Recuperação e Resiliência”, ouviu o PÚBLICO em Belém, numa versão mais curta e clara da mensagem que o Presidente da República levou ao Fórum da Competitividade na quinta-feira.
No dia de debate sobre o estado da nação, Marcelo apresentou-se perante uma plateia que tem criticado o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pelo facto de apostar sobretudo no investimento público em vez de abrir caminho ao sector privado com um desafio: que eles próprios trabalhem “para ter protagonistas institucionais, políticos e outros, mais fortes, para ter discurso político com mais eco nos momentos de decisão popular e eleitoral”.
“Os protagonistas políticos, económicos e sociais defensores de um percurso diferente não têm logrado alcançar força persuasiva para que o seu discurso constitua um discurso alternativo e, sobretudo, constitua uma solução alternativa”, sublinhou.
Por outras palavras: se os empresários querem mudar alguma coisa, têm de fazer a sua parte — e para isso devem também pensar nos seus próprios protagonistas, numa altura em que muitos dos seus representantes mais influentes se reformaram ou retiraram da primeira linha e em que outra parte tem ainda muito que lutar para ter peso efectivo capaz de influenciar o campo político.
O PÚBLICO sabe que Marcelo lamenta que a direita se tenha abstido de intervir activamente na discussão do PRR — “O PSD nunca falou nisso, o CDS ainda menos”, ouvimos em Belém. Mas também não aprecia o facto de haver um sector privado que protesta, protesta, mas depois pragmaticamente prefere negociar com o Governo de António Costa.
Foi nesse sentido que aconselhou os empresários a não dependerem tanto do poder político, numa parte do discurso que passou quase despercebida, tendo em mente, por exemplo, que noutros países, como Espanha ou Grécia, a banca emprestou dinheiro aos governos para responder à crise pandémica, enquanto em Portugal é o Estado que tem de emprestar dinheiro à banca.
Uma alternativa também no PSD
Subjacente a tudo isto está também, naturalmente, a questão da alternativa de Governo que ocupa e preocupa o Presidente da República desde o primeiro momento do mandato. Há cinco anos, Marcelo Rebelo de Sousa fez a sua primeira intervenção como Chefe de Estado no encerramento do Fórum da Competitividade com estrondo: em frente a Pedro Passos Coelho, então líder do PSD — e de olhos nele —, pediu “clareza de demarcação de alternativa de Governo”, naquilo que foi entendido como um apelo a uma nova alternativa política que já não se cumpriria com o ex-primeiro-ministro e protagonista de uma política de austeridade.
Ele próprio ajudou a essa interpretação ao acrescentar que era preciso “criar condições para que os dois termos e pólos da presente alternativa governativa, o do Governo e o da oposição, sejam o mais claros e fortes possíveis, para assegurarem aos portugueses caminhos inequívocos de escolha no presente e no futuro”. Uma alternativa clara e forte que Marcelo continuou a pedir desde então, sugerindo que, aos seus olhos, Rui Rio também não lhe conseguiu dar corpo.
A seis meses da renovação da liderança do PSD — as eleições directas deverão realizar-se em Janeiro, com ou sem Rui Rio, conforme os resultados das autárquicas — e perante uma nebulosa sobre os putativos candidatos, as preocupações do Presidente da República adensam-se. E por isso também deixou perante os empresários um apelo a que ajudem a encontrar novos protagonistas políticos, com perfil para responder aos desafios da economia que vão marcar o país nos próximos anos. O que sugere que os nomes de quem se fala não enchem as medidas de Marcelo. Mas aí, ele pouco pode fazer.