Faz tanto calor no Dubai que o governo está a pagar aos cientistas para criarem chuva

Perante um futuro mais quente, cada vez menos fontes de água e uma população em expansão, os cientistas no país do Médio Oriente estão a fazer chover. Literalmente.

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As temperaturas nos Emirados Árabes Unidos atingiram recentemente os 50 graus Celsius Satish Kumar/REUTERS

As autoridades meteorológicas dos Emirados Árabes Unidos divulgaram, nesta semana, um vídeo que mostra carros a circularem entre chuvas torrenciais em Ras al Khaimah, no Norte do país. A tempestade foi o resultado de um dos mais recentes esforços dos Emirados Árabes Unidos para aumentar a precipitação numa nação deserta, que tem uma média de apenas dez centímetros de chuva por ano.

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As autoridades meteorológicas dos Emirados Árabes Unidos divulgaram, nesta semana, um vídeo que mostra carros a circularem entre chuvas torrenciais em Ras al Khaimah, no Norte do país. A tempestade foi o resultado de um dos mais recentes esforços dos Emirados Árabes Unidos para aumentar a precipitação numa nação deserta, que tem uma média de apenas dez centímetros de chuva por ano.

Os cientistas conseguiram “criar” chuva através do lançamento de drones, que atingiram as nuvens com descargas eléctricas, o que fez com que as nuvens se agrupassem, relata o jornal The Independent. Deste processo resultam gotas maiores de chuva que caem no solo, em vez de evaporarem — o que costuma acontecer com as gotas mais pequenas que se formam nos Emirados Árabes Unidos, onde as temperaturas são elevadas e as nuvens altas.

“O que estamos a tentar fazer é tornar as gotículas que se encontram dentro das nuvens grandes o suficiente para que, quando caírem da nuvem, sobrevivam até chegarem à superfície”, explicou à CNN a investigadora e meteorologista Keri Nicoll, em Maio, altura em que a sua equipa se preparava para começar a testar os drones perto do Dubai.

Keri Nicoll faz parte de uma equipa de cientistas da Universidade de Reading, em Inglaterra, cuja investigação permitiu criar tempestades (provocadas pelo Homem) nesta semana. Em 2017, os cientistas da universidade receberam 1,5 milhões de dólares (cerca de 1,27 milhões de euros), para investirem na pesquisa ao longo de três anos, do Programa de Pesquisa dos Emirados Árabes Unidos para a Ciência de Intensificação da Chuva, que financiou pelo menos nove projectos de investigação diferentes nos últimos cinco anos.

Para testar a sua pesquisa, Keri Nicoll e a sua equipa construíram quatro drones com uma envergadura de cerca de 198 centímetros. Os drones, que são lançados de uma catapulta, têm capacidade para voar durante cerca de 40 minutos, avança a CNN. Durante o voo, os sensores dos drones medem a temperatura, humidade e carga eléctrica de uma nuvem, permitindo aos investigadores saber quando e onde devem iniciar o processo.

A água é um bem escasso nos Emirados Árabes Unidos. O país usa cerca de quatro mil milhões de metros cúbicos de água por ano, mas apenas tem acesso a cerca de 4% desse valor através de recursos hídricos renováveis, de acordo com a agência americana CIA. O número de habitantes nos Emirados Árabes Unidos disparou nos últimos anos, duplicando para 8,3 milhões entre 2005 e 2010, o que ajuda a explicar uma grande procura em termos do abastecimento de água, de acordo com o relatório do governo sobre o “Estado do Ambiente” de 2015. Ao longo da década seguinte, a população continuou a aumentar e é agora de 9,9 milhões.

“O lençol freático está a afundar drasticamente nos Emirados Árabes Unidos”, disse à BBC News o meteorologista e professor da Universidade de Reading Maarten Ambaum, acrescentando que “o objectivo deste projecto é tentar ajudar com as chuvas”.

Normalmente chove apenas alguns dias por ano nos Emirados Árabes Unidos. Durante o Verão, praticamente não há chuva. As temperaturas no país atingiram recentemente os cerca de 50 graus Celsius.

Nos últimos anos, o grande impulso dos Emirados Árabes Unidos no desenvolvimento de tecnologia de dessalinização — que transforma a água salgada em água doce ao remover o sal — ajudou a diminuir a lacuna entre a procura e o abastecimento de água. A maior parte da água potável nos Emirados Árabes Unidos, e 42% de toda a água usada no país, vem das cerca de 70 centrais de dessalinização lá existentes.

Ainda assim, parte da “estratégia de segurança hídrica” do governo implica diminuir a procura em 21% nos próximos 15 anos.

Às ideias para aumentar as reservas de água nos Emirados Árabes Unidos não faltam imaginação. Em 2016, o jornal The Washington Post noticiou que as autoridades governamentais estavam a ponderar construir uma montanha para criar chuva. Quando o ar húmido chega à montanha, é empurrado para cima, resfriando à medida que sobe. Depois, o ar pode condensar e assumir o estado líquido, criando chuva.

As previsões para outro projecto de construção de uma montanha nos Países Baixos apontam para um investimento na ordem dos 230 mil milhões de dólares (cerca de 195 mil milhões de euros).

Outras ideias para aumentar as reservas de água nos Emirados Árabes Unidos incluem construir um canal a partir do Paquistão e de icebergs do Árctico.

Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post