Boris Johnson não queria impor medidas de confinamento porque a pandemia só matava idosos, diz ex-assessor

Novas revelações de Dominic Cummings mostram como o chefe do Governo britânico desvalorizava o impacto da covid-19. Johnson queria encontrar-se com a rainha, apesar das recomendações.

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Boris Johnson duvidava que a covid-19 pudesse esgotar os recursos do NHS PETER NICHOLLS / Reuters

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não estava inclinado a impor medidas de confinamento para travar a covid-19 e salvar a população mais idosa, e rejeitou que o Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla original) viesse a entrar em ruptura, disse o seu antigo conselheiro Dominic Cummings, numa entrevista televisiva exibida na segunda-feira.

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O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não estava inclinado a impor medidas de confinamento para travar a covid-19 e salvar a população mais idosa, e rejeitou que o Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla original) viesse a entrar em ruptura, disse o seu antigo conselheiro Dominic Cummings, numa entrevista televisiva exibida na segunda-feira.

Na sua primeira entrevista à televisão desde que deixou o cargo, Dominic Cummings afirmou que Johnson não queria aplicar um segundo confinamento no Outono do ano passado porque “as pessoas que estão a morrer têm, na sua maioria, mais de 80 anos”.

Cummings também disse que Johnson queria encontrar-se com a rainha Isabel II, de 95 anos, apesar dos indícios de que o vírus estaria a espalhar-se entre membros do seu gabinete no início da pandemia e numa altura em que a população era aconselhada a evitar todos os contactos desnecessários, particularmente com idosos.

O conselheiro político, que acusou o Governo de ser responsável por milhares de mortes evitáveis por covid-19, partilhou uma série de mensagens de Outubro que alegadamente foram enviadas por Johnson a funcionários. Numa delas, Cummings diz que Johnson fez uma piada em que disse que os idosos podiam “apanhar covid-19 e viver mais” porque a maioria das pessoas que estavam a morrer haviam superado a esperança média de vida.

Cummings afirmou ainda que Johnson lhe enviou uma mensagem a dizer: “Já não acredito nessa história do NHS em ruptura. Companheiros, acho que teremos de recalibrar.”

A Reuters não conseguiu verificar de forma independente a veracidade das mensagens.

Um porta-voz de Johnson explicou que o primeiro-ministro tomou “as acções necessárias para proteger as vidas e os meios de subsistência, guiado pelos melhores conselhos científicos”.

Para o Partido Trabalhista, na oposição, as revelações de Cummings fortalecem os argumentos a favor da abertura de um inquérito público e são “mais provas de que o primeiro-ministro tomou más decisões várias vezes à custa da saúde pública”.

Cummings disse à BBC que Johnson afirmava aos responsáveis governamentais que não deveria ter concordado com o primeiro confinamento, e que teve de ser ele próprio a demovê-lo de arriscar encontrar-se com a rainha.

“Eu disse ‘o que é que estás a fazer?’ e ele respondeu ‘vou ver a rainha’ e eu disse-lhe ‘mas que raio é que estás a dizer? É claro que não podes ir ter com a rainha’”, contou Cummings. “Ele respondeu que realmente não tinha ponderado bem a situação”.

Apesar de levantarem algumas questões sobre a capacidade de Boris Johnson como primeiro-ministro e mancharem a sua gestão no combate à pandemia, as críticas de Cummings ainda não prejudicaram a popularidade do líder do Partido Conservador nas sondagens.