Milionário Jeff Bezos foi ao espaço, um pouco mais longe e mais rápido

A Blue Origin nunca fez um voo com pessoas a bordo. A estreia foi esta terça-feira com o empresário e outros três passageiros, numa viagem que marca mais um episódio do negócio do turismo espacial.

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No período de pouco mais do que uma semana, a corrida dos milionários que querem chegar ao espaço para lançar o negócio do turismo espacial teve grandes avanços. Richard Branson foi primeiro a 11 de Julho e Jeff Bezos foi esta terça-feira o segundo empresário a ir ao espaço, com mais três pessoas a bordo, por pura diversão. O lançamento da cápsula que mandou o homem mais rico do mundo para o espaço foi às 14h12 de Lisboa, com um ligeiro atraso de alguns minutos em relação à hora marcada. A cápsula com os quatro turistas espaciais aterrou no Texas pelas 14h22. Pouco depois, o mundo via Jeff Bezos a sorrir na mesma janela que usou para espreitar a Terra lá em cima. Pelas 14h30 saíram da cápsula sãos e salvos e, claramente, muito felizes.

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No período de pouco mais do que uma semana, a corrida dos milionários que querem chegar ao espaço para lançar o negócio do turismo espacial teve grandes avanços. Richard Branson foi primeiro a 11 de Julho e Jeff Bezos foi esta terça-feira o segundo empresário a ir ao espaço, com mais três pessoas a bordo, por pura diversão. O lançamento da cápsula que mandou o homem mais rico do mundo para o espaço foi às 14h12 de Lisboa, com um ligeiro atraso de alguns minutos em relação à hora marcada. A cápsula com os quatro turistas espaciais aterrou no Texas pelas 14h22. Pouco depois, o mundo via Jeff Bezos a sorrir na mesma janela que usou para espreitar a Terra lá em cima. Pelas 14h30 saíram da cápsula sãos e salvos e, claramente, muito felizes.

Já que não foi o primeiro, o dono da Blue Origin quis, pelo menos, ir mais rápido e chegar um pouco mais longe. Em cerca de dez minutos apenas, quatro passageiros num voo totalmente automatizado (tudo é controlado a partir da Terra) foram às bordas do espaço espreitar a Terra por uma janela a 100 quilómetros de altitude. A cápsula com Jeff Bezos, o seu irmão Mark, o jovem holandês Oliver Daemen, de 18 anos, e a ex-piloto norte-americana Wally Funk, de 82 anos, saiu do Texas e regressou ao Texas, dez minutos depois, amparada por um conjunto de pára-quedas. O propulsor aterrou cerca das 14h18 e pouco depois a queda da cápsula com os turistas era amparada pelos pára-quedas que se abriram. Voltou ao chão do Texas às 14h22.

“O melhor dia de sempre”, disse Jeff Bezos, citado pela Reuters, depois de a cápsula espacial ter aterrado, levantando uma nuvem de poeira no chão do deserto do Texas. “Astronauta Bezos no meu lugar - feliz, feliz, feliz”, terá acrescentado em resposta a uma verificação do estado de controlo da missão quando os quatro passageiros voltaram aos seus lugares a bordo da cápsula da New Shepard, após alguns minutos de ausência de peso no espaço.

Há várias diferenças entre as duas viagens realizadas por dois milionários que quiseram ir ao espaço este mês, mas no essencial o objectivo é o mesmo: fazer com que seja possível “qualquer pessoa” viajar até ao espaço. Basta que o passageiro tenha uma paixão pelo espaço, um pouco de coragem e uma choruda conta bancária.

Sem ciência, só pela diversão

Além do plano para lançar um novo e excêntrico negócio de levar pessoas a passear ao espaço e lucrar com isso, as viagens de Richard Branson e Jeff Bezos até às bordas do espaço para experimentar a gravidade zero têm outra coisa em comum: não levam a ciência a bordo. São viagens meramente recreativas. É óbvio que foi preciso muita ciência para montar este negócio, mas a ideia destes voos é a pura diversão dos milionários que quiserem e puderem pagar um bilhete para ir e voltar ao espaço. Este são os pontos comuns. Mas as viagens de Richard Branson e Jeff Bezos têm também várias diferenças.

Esta terça-feira Jeff Bezos quis ir um pouco mais longe do que Branson. No passado dia 11 de Julho o avião espacial da Virgin Galatic levou seis tripulantes para um voo suborbital a 85,9 quilómetros de altitude. O voo durou uma hora.

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REUTERS/Joe Skipper

Voo sem pilotos a bordo

Agora, o fundador da Amazon, Jeff Bezos,​ com 57 anos, também ​foi um dos passageiros do primeiro voo espacial da Blue Origin – a empresa aeroespacial que fundou. Mas há diferenças: o veículo usado hoje é muito diferente do avião da Galactic, uma vez que se trata de um lançamento totalmente automatizado. Ou seja, não há pilotos a bordo e os passageiros não têm de fazer nada a não ser desfrutar da viagem.

Outra coisa que separa estes dois momentos da milionária corrida ao espaço é que a empresa de Richard Branson já tinha antes feito voos tripulados e a Blue Origin já fez vários lançamentos (15 para sermos mais precisos), mas nunca com pessoas a bordo e o voo desta terça-feira foi a sua estreia.

Depois, há a distância e duração. Jeff quis ir mais longe um pouco mais longe do que Branson com o plano de chegar a 100 quilómetros de altitude e entrando um pouco mais na fronteira que marca o início do espaço. E, em vez de uma hora, tudo deverá acontecer em apenas dez minutos.

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Os quatro passageiros na primeira missão de tursimo espacial da Blue Origin DR

O veículo foi programado para viajar a uma velocidade de mais de 2200 milhas (cerca de 3540 quilómetros) por hora até uma altitude de cerca de 62 milhas (100 quilómetros), ou seja, até atingir a chamada linha de Kármán, que é usada para definir o limite entre a atmosfera terrestre e o espaço exterior.

O mais novo e a mais velha

O irmão de Jeff, Mark Bezos, que tem 53 anos, foi o segundo passageiro. “Desde os meus cinco anos que sonho viajar no espaço. No dia 20 de Julho farei a viagem com o meu irmão, a maior aventura com o meu melhor amigo”, anunciou Jeff no Instagram em Junho.

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REUTERS/Joe Skipper

A bordo esteve ainda o jovem holandês Oliver Daemen, de 18 anos, o único passageiro que terá comprado o bilhete, e Wally Funk, convidada da empresa. O turista espacial mais novo e a mais velha no espaço. A cápsula da Blue Origin tem capacidade para seis lugares, mas no voo inaugural houve apenas quatro ocupados.

O programa anunciava que os quatro passageiros iam poder olhar para a Terra através de uma janela e ficar em microgravidade durante três ou quatro minutos antes de regressarem a uma zona deserta do Texas, dez minutos depois da descolagem. Foi o primeiro voo espacial não pilotado com uma tripulação inteiramente civil sem nenhum astronauta ou piloto a bordo.

Jeff Bezos, o irmão, o estudante e a ex-piloto regressaram poucos minutos depois ao ponto de partida numa cápsula equipada com pára-quedas. “Estou animado, mas não estou ansioso. Veremos como me sinto quando estiver amarrado ao meu assento. Estamos prontos e o veículo está pronto. Esta equipa é incrível, sinto-me muito bem e acho que meus companheiros de viagem também”, dizia Bezos em entrevista à Fox Business Network nesta segunda-feira.

Wally Funk concretizou o sonho de ir ao espaço depois de na década de 60 ter feito parte de um programa privado, com outras 12 mulheres, em que passou pelo treino dado aos astronautas da NASA. Nunca conseguiu ir ao espaço, no entanto, já que a NASA só admitia pilotos de teste de jactos com diplomas de engenharia, para as missões espaciais, e as mulheres não podiam, na altura, desempenhar essas funções.

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Interior da cápsula do foguetão New Shepard REUTERS/Isaiah J. Downin

Oliver Daemen conseguiu lugar na viagem porque o pai, um multimilionário e CEO numa empresa na Holanda, lhe cedeu a vez depois da desistência de outro candidato, que pagara 23,7 milhões de euros pelo único bilhete que foi leiloado. O jovem é fascinado pelo espaço, pela Lua e por foguetões desde os quatro anos e tem uma licença de piloto privado.

O foguetão New Shepard, da Blue Origin, no topo do qual estava acoplada a cápsula onde seguiram os quatro turistas espaciais, é autónomo e estava previsto que alcançasse uma altitude de 100 quilómetros, acelerando em direcção ao espaço a uma velocidade três vezes superior à do som. Depois de se ter separado da cápsula, o New Shepard aterrou na vertical no Texas.

Branson, Bezos e Musk

Seis pessoas, incluindo o empresário Richard Branson, efectuaram a 11 de Julho a primeira viagem recreativa ao espaço a bordo do avião VSS Unity, que descolou e aterrou com sucesso da base SpacePort America, no deserto do Novo México, nos Estados Unidos. A viagem da Virgin Galatic foi a primeira e bem-sucedida.

A aventura do turismo espacial destaca-se ainda mais um concorrente, o empresário Elon Musk com a empresa Space X que, tal como Jeff Bezos e Richard Branson, tem investido milhares de milhões de dólares neste negócio de levar pessoas (muito ricas) ao espaço.

Este novo e excêntrico negócio tem alguns “ses” e “mas”. A segurança é uma questão-chave quando sabemos que existem cerca de 3400 satélites operacionais em órbita e cerca de 128 milhões de fragmentos de destroços que representam centenas de riscos de colisão.

Depois há a questão ambiental: o lixo que estes voos de recreio podem deixar no espaço e o impacto que estes lançamentos têm logo à partida aqui na Terra. Um exemplo simples: o Falcon 9 da SpaceX (que já cumpriu várias viagens, algumas em colaboração com a agência espacial norte-americana NASA) queima tanto combustível como um carro médio durante mais de 200 anos, para um único lançamento.

Ainda que o plano a longo prazo já anunciado por Jeff Bezos seja transformar o planeta Terra, o “planeta bom”, numa zona exclusivamente residencial transferindo para o espaço todas as indústrias poluentes. Falta saber se será possível.

Os três empresários dizem que querem tornar o espaço acessível “a todos”. Mas, para já, é um “todos” muito limitado. Se o negócio avançar como pretendem, os bilhetes que agora custam milhões de dólares e que ficarão ao alcance de um pequeno e exclusivo grupo de pessoas podem até baixar de preço. Mas ainda faltará muito tempo para o dia em que uma qualquer pessoa corajosa e apaixonada pelo espaço possa embarcar nesta viagem. Por enquanto, um dos principais requisitos será também ter muito, muito dinheiro. O próximo episódio da saga dos milionários no espaço terá Elon Musk, que já nos habituou a aparatosos espectáculos, como protagonista.