Marcelo na Madeira sugere que há vida além das contas públicas equilibradas
Presidente da República diz que o país não pode continuar a crescer abaixo dos 2%. Tem de crescer acima dos 3%, para recuperar a competitividade que tem perdido para os parceiros europeus.
Foi no final de uma dupla inauguração, no Funchal — primeiro o Hotel Savoy Palace, depois o Savoy Next, ambos do mesmo grupo —, que Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou a urgência de uma maior aposta do país no crescimento económico.
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Foi no final de uma dupla inauguração, no Funchal — primeiro o Hotel Savoy Palace, depois o Savoy Next, ambos do mesmo grupo —, que Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou a urgência de uma maior aposta do país no crescimento económico.
Os portugueses, disse Marcelo Rebelo de Sousa, já interiorizaram a importância das contas públicas equilibradas, mas é preciso agora que percebam aquilo que é necessário para fazer o país crescer. “É esse o grande desafio para os próximos tempos.”
Marcelo deu a receita. Mais inovação. Mais formação. Mais investimento no que o país tem de melhor: o capital humano. Porque, continuou, Portugal não pode continuar a crescer abaixo dos 2%. A economia portuguesa, apontou, tem de subir acima dos 3% para recuperar o terreno perdido para os outros parceiros europeus.
A intervenção do Chefe de Estado, a fazer lembrar o célebre discurso do Presidente Jorge Sampaio na sessão comemorativa do 25 de Abril de 2003, era então primeiro-ministro Durão Barroso, aconteceu no final de uma curta visita à Madeira. A primeira paragem foi no parlamento madeirense, onde Marcelo presidiu à sessão solene do Dia da Assembleia Legislativa da Madeira, e depois, à porta, inaugurou uma estátua de homenagem aos profissionais de saúde.
Oportunidade para deixar três palavras: memória, gratidão e esperança. Memória porque os portugueses não esquecem os mortos, o medo, o susto, o desassossego. Gratidão porque o país está grato aos profissionais de saúde, primeiro, e a todos os que deram o que tinham e o que não tinham para que nada faltasse no período crítico da pandemia. “Quando ainda não se sabia como era o contágio. Que riscos corriam! Não existiam máscaras, nem vacinas. Eles, os profissionais de saúde, estavam lá”, disse o Presidente da República, antes de falar de esperança. “Este monumento celebra a esperança”, afirmou, pegando novamente na palavra, novamente junto à piscina do Savoy Next. “Estarmos aqui, significa que estamos a vencer a pandemia”, resumiu, lembrando que a inauguração esteve agendada três vezes, e foi três vezes adiada pela covid-19.
Marcelo, que durante a tarde ainda visitou a delegação regional do Banco Alimentar e terminou o dia jantando na CASA (Centro de Apoio ao Sem Abrigo), disse que a autonomia avança sempre que a economia avança.
Foi a ouvir falar de autonomia, de mais e melhor autonomia, que o Presidente da República começou a tarde na Madeira. No parlamento regional, um após outro, todos os partidos pediram um reforço de autonomia. O PSD, através do líder parlamentar, Jaime Filipe Ramos, defendeu um novo ciclo autonómico, mas ressalvou que a autonomia política não se faz sem autonomia financeira. Assim, se o Estado não é capaz de fazer crescer o país no seu todo, deve dar às regiões autónomas os instrumentos para que elas possam se desenvolver.
“A nossa portugalidade não pode ser posta em causa, só porque queremos uma revisão constitucional e rever a Lei das Finanças Regionais [LFR]”, disse o deputado, depois de o socialista Paulo Cafôfo ter também defendido uma reforma da LFR e uma revisão da Constituição, mas deixando críticas ao PSD, que governa o arquipélago. “O PS não está disponível para usar a autonomia como arma de arremesso e de guerrilha institucional com a República”, avisou.
Ricardo Lume, do PCP, também considerou que há espaço de crescimento para a autonomia, mas apontou o dedo às “forças de bloqueio” que, na região, não querem nem deixam utilizar os poderes disponíveis no parlamento.
A JPP, pela voz do deputado Rafael Nunes, pediu uma autonomia cujo foco não seja “mendigar”, mas sim criar os mecanismos e soluções que ampliem competências e tragam respostas. O mesmo quis o CDS, com António Lopes da Fonseca a pedir a Marcelo para que, com a sua magistratura de influência, consiga um consenso alargado em São Bento para a revisão da LFR.
“Aqui também é Portugal”, disse José Manuel Rodrigues, o centrista que preside ao parlamento madeirense, elencando o que urge fazer: sistema fiscal próprio e uma reformulação na mobilidade área e marítima. “Somos a única ilha europeia sem ligação marítima com o continente”, disse.
Marcelo ouviu e respondeu no final do dia. “A autonomia anda para a frente, quando a economia anda para a frente”, disse exemplificando com as novas unidades hoteleiras e depois de Miguel Albuquerque, ter defendido uma maior aposta na economia. “Não é o Estado, nem o Governo que cria riqueza e emprego. São as empresas, e é preciso criar condições para elas”, afirmou o presidente do governo madeirense.