Na estrada com um cão
Antes de uma viagem de média ou longa duração, aconselho vivamente uma “simulação” de uma roadtrip durante um fim-de-semana. Para além de servir como um teste, funcionará como um treino.
O meu gosto pela estrada surgiu há cerca de 10 anos, numa viagem aos Países Baixos, na carrinha de um grande amigo, o Eduardo. Levámos muito pouco: apenas uns colchões, o nosso equipamento de surf, um fogão de campismo, alguma comida e umas mudas de roupa. Foi uma viagem incrível, com paragens no País Basco, Sul de França, em Paris, Bruxelas e, finalmente, Amesterdão. Apenas utilizo este episódio como introdução, pois foi aqui que me apercebi como poderia viajar sem ter que deixar o meu cão em casa, com um familiar ou num hotel para cães.
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O meu gosto pela estrada surgiu há cerca de 10 anos, numa viagem aos Países Baixos, na carrinha de um grande amigo, o Eduardo. Levámos muito pouco: apenas uns colchões, o nosso equipamento de surf, um fogão de campismo, alguma comida e umas mudas de roupa. Foi uma viagem incrível, com paragens no País Basco, Sul de França, em Paris, Bruxelas e, finalmente, Amesterdão. Apenas utilizo este episódio como introdução, pois foi aqui que me apercebi como poderia viajar sem ter que deixar o meu cão em casa, com um familiar ou num hotel para cães.
As nossas primeiras viagens realizaram-se durante o meu percurso académico, ao longo da costa portuguesa e território espanhol (destaque para a Galiza e Astúrias). O orçamento era especialmente reduzido e, dada a minha falta de experiência, decidi manter-me mais próximo de casa. Com o passar do tempo, as distâncias alongaram-se e o meu mais antigo parceiro de viagens, o Becas, já pisou, entretanto, cerca de 13 países e principados, tendo chegado à Dinamarca e a Montenegro. O nosso ponto de partida foi sempre o mesmo: a nossa maravilhosa cidade do Porto. O que nos esperava durante o percurso: uma incógnita. Deixo aqui algumas sugestões que podem vir a ser úteis para quem estiver a pensar na possibilidade de levar um amigo de quatro patas numa viagem de estrada.
Pensar bem nas prioridades, o que se pretende de uma viagem
Quando viajamos com um cão, provavelmente vamos ter limitações no que toca a entradas em museus e outras atracções turísticas. No meu caso, sempre que viajei com o meu cão foquei-me em conhecer parques naturais, praias e deambular pelas ruas das cidades em que parávamos. Além disso, nem todos os restaurantes são dog-friendly; por isso, as esplanadas, os serviços de take-away ou mesmo as merendas preparadas com algo comprado no supermercado serão, com certeza, as melhores alternativas. Nem todos os empreendimentos turísticos admitem a entrada de animais. Por conseguinte, a nossa prioridade passará por ter condições de alojamento para o nosso cão. Este será o factor mais decisivo na escolha, mesmo que implique prescindir do nosso próprio conforto. Durante as minhas viagens, houve situações em que cheguei mesmo a dormir no meu automóvel.
Perceber bem o cão e qual será a sua reacção a uma viagem de carro
Antes de uma viagem de média ou longa duração, aconselho vivamente uma “simulação” de uma roadtrip durante um fim-de-semana. Para além de servir como um teste, funcionará como um treino. Ao meu parceiro mais antigo de viagens juntou-se um outro que adoptei, mais recentemente, o Gaspar, que enjoou na sua primeira viagem de carro, desde o abrigo de adopção até nossa casa, um percurso de uns meros 15 minutos. Depois de se ter habituado a viajar de carro pela cidade, eu quis perceber como é que reagiria à partilha do carro com um outro cão e, mais tarde, a uma viagem de longo curso. Felizmente, em todas as etapas tivemos sucesso e todas se revelaram importantes. Como em muitas viagens, utilizei o carpooling (partilha de boleias) e outra questão relevante foi entender a sua reacção à presença de pessoas desconhecidas no nosso carro.
Planear as paragens e a sua periodicidade
Tal como nós, que precisamos de descansar depois de um longo período de condução, é importante para um cão poder caminhar, esticar as patas, beber água e, claro, ir ao WC. Vários factores, como a temperatura ambiente, a idade e até a raça do cão, podem ser determinantes. Por exemplo, em dias mais quentes, a necessidade de beber água aumenta; relativamente às raças temos as que estão mais aptas a frequentar locais mais quentes e outras a frequentar locais mais frios; finalmente, cães mais velhos ou doentes podem exigir cuidados especiais. Cada caso é um caso, e por isso não existe uma regra única. Cada um deve ser sensível aos cuidados a ter com o seu cão.
Prestar atenção à legislação de cada país relativa à entrada e permanência de cães
Cada país tem legislação própria. Por isso, devemos ter em conta as respectivas exigências relativamente à documentação, vacinação, autorização de entrada, raças permitidas e regras de segurança no veículo. Aconselho que cada cão viaje com o seu passaporte. É semelhante a um boletim de vacinação, o qual deverá estar sempre actualizado. O chip é igualmente obrigatório. Eu próprio já vivenciei duas situações em que a polícia me pediu o referido documento. A mais recente foi na Dinamarca, no controlo de fronteiras. Finalmente, reforço que, durante a viagem, por muito tranquilo que seja um cão, devemos sempre mantê-lo preso, para prevenir qualquer situação de perigo. Alguns cães poderão apenas utilizar um cinto de segurança apropriado, outros deverão utilizar uma casota de transporte.
Não se preocupem demasiado, aproveitem a viagem e usufruam da companhia do vosso melhor amigo
Apesar de parecer uma grande aventura, algo que obriga a um grande planeamento, posso afirmar que viajar com os nossos cães não é assim tão difícil. Bem pelo contrário: eles podem mesmo ser os nossos melhores e mais fáceis companheiros de viagem. Para eles, está sempre tudo bem. Apenas necessitam da nossa companhia, comida, água e um local para dormir. Com eles, mesmo em silêncio, nunca estamos sós. Em qualquer lugar os seus olhos dizem-nos algo como “Estou a gostar muito de passear contigo” ou “Podes dar-me um pouco do teu almoço?”.
Boas viagens!