Do outro lado da sorte

Uma história sobre a riqueza e a pobreza na Venezuela, mas podia ser em qualquer geografia. Há sempre quem padeça por nascer “do outro lado”. Ainda assim, há lugar para o sonho.

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Já não bastava as cheias terem levado a ponte, agora o cabo da tirolesa partiu-se e Juan José não consegue atravessar o rio com a ajuda da gravidade e da roldana. Sente raiva. “A raiva de ter de ficar ali, sem poder atravessar, sem poder ir ao mercado vender a massa de milho, sem poder ganhar o pão e não ter nem uma moedinha para pôr de parte, para comprar aquela bicicleta com que sonha há tanto tempo, aquela amarela em segunda mão que está como nova.”

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Já não bastava as cheias terem levado a ponte, agora o cabo da tirolesa partiu-se e Juan José não consegue atravessar o rio com a ajuda da gravidade e da roldana. Sente raiva. “A raiva de ter de ficar ali, sem poder atravessar, sem poder ir ao mercado vender a massa de milho, sem poder ganhar o pão e não ter nem uma moedinha para pôr de parte, para comprar aquela bicicleta com que sonha há tanto tempo, aquela amarela em segunda mão que está como nova.”

O colega Alepo há-de duvidar e troçar dele. Diz-lhe que são “histórias para contar à professora” e que é um “folgazão, do que gosta é de vadiar”.

Alepo não sabe como se vive “do outro lado”. A esse rapaz “levam-no à escola de carrinha” e, além disso, “tem sempre dinheiro para comprar o que quer no quiosque”.

Do Outro Lado é uma história inspirada numa criança venezuelana que a irmã da autora conheceu e a quem contou a sua forma de vida.

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Mariona Cabassa

Desde que ouvi a história do Juan José, não consegui deixar de pensar nele, nos seus sonhos, na sua família, nas pessoas que vivem ‘do outro lado’ e lutam por seguir com as suas vidas, apesar de serem os esquecidos nas sociedades da desigualdade, porque continuam a estar lá: Ahmed, Sravani, Lin, Chén, Sara, Mousa, Violeta, Prince...”, escreve Cristina Falcón Maldonado no final do livro.

Venezuelana, viveu em Itália (Bolonha) e agora reside em Espanha (Cuenca). Conta ainda, numa breve nota biográfica: “Antes de aprender a ler, aprendi poemas de memória, graças à minha avó, que me abriu caminho para viver rodeada de palavras, brincar com elas e reinventá-las. Desde muito pequena que adoro livros, lê-los e relê-los. Cada um continua a contar-me coisas diferentes a cada nova leitura.”

Um texto comovente e muito bem acompanhado pelas cores fortes e luminosas das ilustrações de Mariona Cabassa, que aqui desenha a fauna e a flora daquela região dos Andes.

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Mariona Cabassa

Cor e luz

Natural de Barcelona, onde vive, estudou Ilustração na Escola Massana e depois fez uma pós-graduação na L’École Supérieure des Arts Décoratifs de Estrasburgo. Já ilustrou dezenas de álbuns, livros de texto, jogos, puzzles, discos de vinil, cartazes, rótulos e muitos outros produtos artísticos.

Diz a ilustradora: “Pinto, dou aulas de ilustração em algumas escolas de arte de Barcelona, dirijo as minhas próprias oficinas de criatividade para mulheres, coso grandes pedaços de tecido, tiro milhões de fotos constantemente, há alguns anos comecei a tatuar e ainda há montes de coisas que um dia gostaria de experimentar.” 

Mariona Cabassa diz-se fascinada pela cor e pela luz, mais do que pela forma. “Estes dois aspectos [cor e luz] reflectem-se em qualquer das ramificações que o meu trabalho tem seguido ao longo dos anos”, constata.

Quanto à história do livro, o rapaz há-de voltar a poder atravessar o rio e até a convidar o colega Alepo a usar a tirolesa. Uma aventura que os obrigou a contar com a ajuda de um macaco. Sim, o macaco Bartolo. Será este a salvar o menino rico de uma grande aflição.

Assim, Alepo ficou a saber que “o outro lado” da sorte existe mesmo, num dia cheio de emoções para ambos. E também para os pequenos leitores.

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