A biodiversidade de mãos dadas com o ser humano?

Conservação da natureza implica sermos activos, encontrando as melhores soluções para gerir o território e a nossa vida. E podemos fazê-lo no nosso prato e nas nossas compras.

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Sergio Azenha

Sou um jovem biólogo, bolseiro e activista. Sou do Norte e uso palavrões como se fossem vírgulas. Não só aqueles que todos conhecem, mas também os que revelam logo a minha faceta nerd em relação ao mundo que nos rodeia. Palavrões como biodiversidade, serviços de ecossistema, alterações climáticas, sustentabilidade, conservação da natureza. Na realidade não sei se os posso considerar como palavrões, mas que os uso como vírgulas, lá isso uso.

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Sou um jovem biólogo, bolseiro e activista. Sou do Norte e uso palavrões como se fossem vírgulas. Não só aqueles que todos conhecem, mas também os que revelam logo a minha faceta nerd em relação ao mundo que nos rodeia. Palavrões como biodiversidade, serviços de ecossistema, alterações climáticas, sustentabilidade, conservação da natureza. Na realidade não sei se os posso considerar como palavrões, mas que os uso como vírgulas, lá isso uso.

Uso porque no meu dia-a-dia lido com cidadãos e entidades que gerem o território e os seus recursos com diferentes objectivos e onde a biodiversidade, um dos meus palavrões preferidos, normalmente não é considerado na equação.

Biodiversidade: um palavrão para definir a diversidade de organismos que ocupam o nosso planeta, da micro-escala dos genes das diferentes espécies à macro-escala do ecossistema, não esquecendo pois claro as relações que existem entre os diferentes seres vivos (inclusive o humano).

Biodiversidade é e dá-nos vida. Como seres utilitaristas, fomos capazes de quantificar tudo o que os outros organismos nos dão, dando a isto o nome de serviços de ecossistema. Esta quantificação só nos mostra que dependemos de muito mais do que nós próprios para continuarmos por cá. Dependemos das plantas, algas e outros seres que nos fornecem oxigénio enquanto sequestram carbono, dos predadores que controlam pragas e vectores de doenças, mas também dos decompositores que ajudam a reciclar matéria e devolver nutrientes aos solos, sem esquecer os polinizadores. São tantos, e com tantas funções. E temos sido capazes de prejudicar grande parte deles.

Portugal é “apenas” o quarto país da Europa com mais espécies em risco de extinção. É também um dos países europeus com maior percentagem do território na mão dos privados e onde a acção humana individual e corporativa raramente equaciona a biodiversidade no seu dia-a-dia, havendo uma mentalidade de segregar esta questão para áreas “protegidas”. Mas é possível integrar tudo, equacionar a biodiversidade na produção agrícola e gestão florestal, na gestão dos espaços urbanos e ainda tirar proveito disso. Exemplos não faltam, só precisam de ser replicados.

Equacionar a biodiversidade no dia-a-dia é fazer conservação da natureza. Gestão dos recursos disponíveis por forma a compatibilizar a ocorrência da biodiversidade com o ser humano, melhorando a nossa qualidade de vida e até ajudando a mitigar as alterações climáticas. É também gestão da vida, humana e selvagem. É a gestão dos recursos naturais e dos serviços que nos prestam tendo em conta as dinâmicas naturais, mas também (algumas) das humanas.

Conservação da natureza implica sermos activos, encontrando as melhores soluções para gerir o território e a nossa vida. E podemos fazê-lo no nosso prato e nas nossas compras. Podemos conhecer melhor o que nos rodeia, sendo, por exemplo, cidadãos cientistas. De sermos cidadãos activos em diversas áreas, do voluntariado e associativismo ou simplesmente apoiar quem anda a tentar encontrar novas soluções para tudo isto.

A biodiversidade está em todo o lado. Basta abrirmos os olhos que rapidamente se apodera de nós.