Vinhos à deriva no Tejo, empurrados pelo vento
Os Goliardos e a Comida Independente juntaram-se para uma prova de vinhos no rio. Uma forma de conhecer produtores portugueses e outros vindos de França.
O mais difícil era impedir que os copos nos voassem das mãos. Difícil, sem dúvida, mas nada que nos travasse no objectivo a que nos propuséramos ao entrar no catamarã Go Mary, na Doca de Santo Amaro, em Lisboa: provar os vinhos dos produtores que se juntaram a esta aventura lançada pela loja Comida Independente em conjunto com Os Goliardos, que representam e distribuem vinhos de terroir europeus.
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O mais difícil era impedir que os copos nos voassem das mãos. Difícil, sem dúvida, mas nada que nos travasse no objectivo a que nos propuséramos ao entrar no catamarã Go Mary, na Doca de Santo Amaro, em Lisboa: provar os vinhos dos produtores que se juntaram a esta aventura lançada pela loja Comida Independente em conjunto com Os Goliardos, que representam e distribuem vinhos de terroir europeus.
A prova À Deriva no Tejo, no dia 9, marcou o arranque do Vinho à Deriva, Prova de Vinhateiros, que aconteceu dias 11 e 12 de Junho no Espaço Espelho d’Água, em Belém. E foi uma oportunidade para conhecer melhor alguns dos produtores, os portugueses Pedro Marques e António Marques da Cruz e os franceses Tomas Pico (Domaine Pattes Loup), La Cadette e Chamonard.
Do Domaine Chamonard, no Beaujolais, vieram pai e filha. O pai, Jean-Claude Chanudet, conhecido como Chat (gato) é, explicou Sílvia Bastos d’Os Goliardos, uma referência naquela região francesa e no mundo dos chamados vinhos naturais. Grande viajante, parou em 1985, e dedicou-se à propriedade do pai da sua mulher Geneviève, Joseph Chamonard, que desde os anos 60 fazia vinhos sem recorrer a químicos na vinha e na adega.
Jean-Claude trouxe para o Go Mary alguns dos vinhos que continua a fazer com a casta Gamay (a utilizada no Beaujolais) a partir das suas vinhas velhas, algumas delas com meio século de existência, outras com praticamente um século. Mas a novidade veio pela mão da filha, Jeanne, veterinária de profissão, que comprou as suas próprias vinhas e fez o seu primeiro vinho, que baptizou como Droit de Veto – “é veto de veterinária, não é um veto político”, explicou o pai.
“Não conseguia viver a vida sem vinho”. Foi esta a resposta, simples mas definitiva, que Jeanne deu quando lhe perguntámos porque é que tinha decidido lançar-se nesta aventura. “Cresci de tal maneira dentro deste mundo… Adoro ser veterinária, mas sentia muita falta de ter os pés na terra e de fabricar alguma coisa de A a Z. Agrada-me muito poder transformar alguma coisa, mas ao mesmo tempo não ter muita escolha e seguir a natureza.”
Na parte de cima do Go Mary – que se apresenta como “um barco sustentável, desenhado de raiz”, num projecto “inteiramente português” – estavam Pedro Marques, do Vale da Capucha, Torres Vedras (que, entre outras referências, serviu um Alvarinho de 2011 numa double magnum) e também Thomas Pico, que os Goliardos gostam de descrever como “um meteorito do Chablis”, pertencente a “uma nova geração de produtores da Borgonha”.
Faltava só provar os vinhos de António Marques da Cruz, da Quinta da Serradinha, que estava ao lado do pai “Chat” e da filha “Veto”, e do projecto La Cadette, da Borgonha, com Valentin Montanet e o seu Melon da Borgonha, casta quase desaparecida nesta região. Foi o que fizemos, entre as histórias contadas pelos produtores, e as tentativas para nos equilibrarmos, copos na mão e cabelos na cara, batidos pelo vento.
Quem quiser explorar mais profundamente estas e outras histórias de perto de 150 produtores de sete países europeus que fazem vinhos de pouca intervenção e que trabalham em agricultura biológica pode descobri-las no site dos Goliardos – cuja lista de vinhos está em promoção até ao dia 19, assinalando a semana que se segue ao evento Vinho à Deriva.