Graça Freitas: a partir de Setembro poderemos “assumir a nossa vida com alívio das medidas”

Directora-geral da Saúde adiantou que apenas 0,1% das pessoas vacinadas com duas doses contraiu o vírus. Comportamentos ao fim-de-semana são diferentes dos restantes dias da semana, defende Graça Freitas, concordando com as restrições impostas ao sábado e domingo.

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Graça Freitas, directora-geral da Saúde Daniel Rocha

A directora-geral da Saúde considera que Portugal poderá retomar alguma da normalidade perdida para a covid-19 já em Setembro. As autoridades de saúde prevêem que 80% da população tenha recebido, até ao final desse mês, pelo menos uma dose da vacina, com 70% a estar já completamente vacinada. Esta previsão conta já com o pressuposto de que a vacinação de crianças entre os 12 e os 15 anos contra a covid-19 será autorizada, revelou Graça Freitas. A partir deste nível, que confere à população um nível de imunidade “bastante bom”, a responsável considera que a tendência será para aliviar as medidas de restrição.

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A directora-geral da Saúde considera que Portugal poderá retomar alguma da normalidade perdida para a covid-19 já em Setembro. As autoridades de saúde prevêem que 80% da população tenha recebido, até ao final desse mês, pelo menos uma dose da vacina, com 70% a estar já completamente vacinada. Esta previsão conta já com o pressuposto de que a vacinação de crianças entre os 12 e os 15 anos contra a covid-19 será autorizada, revelou Graça Freitas. A partir deste nível, que confere à população um nível de imunidade “bastante bom”, a responsável considera que a tendência será para aliviar as medidas de restrição.

“Há sempre uma margem de erro em todas estas previsões, quando dizemos 70% ou 80% temos um intervalo de confiança. Se isso acontecer, e apesar de termos a variante Delta em circulação, dá-nos já um nível de imunidade bastante bom. Não havendo risco zero, e dependendo, mais uma vez, da situação epidemiológica nessa altura, creio que a tendência será para assumir a nossa vida com alívio das medidas. Mas, sabendo que, de vez em quando, teremos de fechar a torneira, porque o vírus está com maior capacidade de expandir”, adiantou, em entrevista ao Jornal de Notícias e TSF.

Das quase três milhões de pessoas que levaram as duas doses da vacina em Portugal, 3580 contraíram o vírus da covid-19. Ou seja, 0,1% do total de inoculados foi infectado após esta vacinação. Questionada sobre se este número tinha alguma relação com as diferentes marcas das vacinas, a responsável reconheceu existirem “pequenas diferenças” entre estes medicamentos: “Teoricamente as vacinas são mais ou menos semelhantes em termos da sua efectividade. Há pequenas diferenças, de facto há, das várias marcas. E há até pequenas diferenças entre as duas vacinas MRNA. Neste momento, pelo menos na Europa e nos Estados Unidos, nos países que fazem mais estudos, há uma assimetria imensa no fornecimento das vacinas. E portanto, as vacinas que são mais estudadas, são aquelas em que há mais milhões de doses administradas.”

Comportamento diferente ao sábado e domingo

Este fim-de-semana entrou em vigor a obrigatoriedade de aceder a hotéis e restaurantes nos concelhos de risco com um teste negativo à covid-19 ou certificado digital. Graça Freitas considera que esta é a alternativa possível para evitar o encerramento destes espaços. A directora-geral da Saúde diz também que faz sentido implementar estas medidas ao fim-de-semana – e não prolongar esta restrição durante o resto da semana –, pelo facto de o nosso comportamento e hábitos de convívio serem significativamente diferentes ao sábado e domingo.

“É, de facto, complexo perceber-se. Mas há uma diferença no comportamento das pessoas, e no nosso estilo de vida, ao longo da semana e ao longo dos meses. Não é sempre igual. Habitualmente, e estou a falar da grande maioria, temos um comportamento em relação às refeições nos dias de semana que é muito mais comedido, digamos assim. A maior parte de nós tem refeições curtas, com poucas pessoas, mais ou menos sempre com as mesmas, e portanto não há um ritual, não há convívio intenso. Diferente é o nosso comportamento ao fim-de-semana porque temos mais tempo, outras pessoas com quem podemos estar e, portanto, aqui as refeições são de facto um momento de risco”, garante.

Questionada sobre o desgaste provocado pelo trabalho – e se alguma vez pensou em abandonar funções na Direcção-Geral da Saúde no último ano e meio – Graça Freitas não esconde alguma fadiga. Mas, garante, são sentimentos rapidamente dissipados: “Olhe, eu vou ser, como costumo ser, absolutamente sincera. A sensação de ‘quero sair, quero ir-me embora, vou gozar a reforma’ acontece com alguma frequência. Mark Twain dizia: ‘não sei, não percebo porque é que as pessoas acham que é fácil deixar de fumar, só eu já deixei mais de 300 vezes’. Portanto, essa questão do querer sair, do querer ir descansar, do querer ir dormir, do querer ir fazer outras coisas, obviamente que me assalta o espírito várias vezes e depois tal e qual como nasce morre. Passa rapidamente”, confidencia.

Reparo “pertinente” de Marcelo

Questionada sobre as declarações do Presidente da República sobre a necessidade de explicar publicamente o motivo para ter sido imposto isolamento ao primeiro-ministro, apesar de vacinado com as duas doses e possuir um certificado digital covid-19, por ter tido contacto com um infectado, Graça Freitas deu razão a Marcelo, mas relembra o “princípio de precaução” e que o período de isolamento foi encurtado de 14 para dez dias

“Acho que foi um reparo pertinente porque, de facto, a ideia que as pessoas têm é que as duas doses da vacina são completamente efectivas. Mas, neste momento, nós ainda não temos tanta certeza sobre essa protecção. Ou seja, nós sabemos que duas doses mais 14 dias na maior parte das pessoas resultam e as pessoas estão protegidas. Mas ainda há uma percentagem que não fica imunizada. Portanto, ainda havendo aqui uma margem de incerteza, se há um contacto de alto risco, pelo princípio da precaução, as autoridades de saúde recorrem a um regime de isolamento, já não dos 14 dias, mas encurtado para dez dias com dois testes, um feito no início e outro feito depois no fim da doença”, explicou a directora-geral da Saúde.

Agora que conhecemos melhor o comportamento e funcionamento do vírus existe a necessidade de o isolamento profiláctico durar duas semanas? Graça Freitas adianta que uma eventual alteração ao período de isolamento está a ser estudada, com as autoridades de saúde a aguardarem pelo melhor timing: “Na semana passada, fizemos uma reunião para decidir se fazíamos já essas medidas. E foi considerado que, estando nós numa fase ascendente da curva epidémica, é arriscado tomar medidas de alívio numa fase em que a doença ainda está em franca expansão. Provavelmente, equacionaremos um timing mais favorável numa altura em que a doença esteja controlada.”