A dor dos que só querem chegar à meta
Até ao final do Tour, o PÚBLICO traz histórias e curiosidades sobre a corrida e os ciclistas em prova.
No ciclismo, as montanhas são pensadas para os corredores teoricamente mais baixos e leves, enquanto os sprints e os contra-relógios para os mais altos e pesados. Embora esta divisão de valências não seja levada à letra – e cada vez surgem mais excepções a esta lógica –, tem aplicação prática naquelas que são, muitas vezes, as grandes histórias do ciclismo.
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No ciclismo, as montanhas são pensadas para os corredores teoricamente mais baixos e leves, enquanto os sprints e os contra-relógios para os mais altos e pesados. Embora esta divisão de valências não seja levada à letra – e cada vez surgem mais excepções a esta lógica –, tem aplicação prática naquelas que são, muitas vezes, as grandes histórias do ciclismo.
A modalidade não se faz só de quem vence e de quem chega à meta da última etapa com menos tempo somado. Outros vencedores existem que o são apenas pelo esforço. Falamos das odisseias vividas pelos sprinters nas etapas de montanha.
Geralmente pesados e fisicamente pouco preparados para a alta-montanha, estes homens vivem autênticas torturas para cumprirem estas etapas mais duras. Sabendo que os sprinters chegarão com muito atraso, a organização da corrida define, em função do tipo de etapa e do tempo do vencedor, um limite de atraso para que os ciclistas não sejam desqualificados da corrida.
Alguns já foram expulsos desta Volta a França por não conseguirem cumprir esse tempo máximo de atraso – como Arnaud Démare ou Bryan Coquard. Outros dariam o que tinham e o que não tinham para o cumprir – falamos de Mark Cavendish, de olho no recorde de Eddy Merckx. Por fim, houve um que não cumpriu o tempo, mas, mesmo sabendo disso, quis fazer a etapa 9 até ao final.
Nic Dlamini, o primeiro sul-africano negro no Tour, chegou uma hora e meia depois do vencedor Ben O’Connor. Por vezes, os comissários fecham os olhos a pequenos atrasos, mas os 90 minutos de Dlamini eram demasiado longos para serem ignorados.
“Foi brutal. Chuva, frio e uma queda que ainda me dificultou mais uma etapa já difícil. Apesar de saber que estava fora do tempo de controlo, estava determinado a acabar a etapa e honrar a corrida mais prestigiada do mundo”, apontou, após a etapa.
Dlamini explicou que durante a subida até viu alguns adversários entrarem nos carros das equipas, para regressarem aos hotéis, mas quis continuar até à meta. “Podia ter subido para um dos carros, mas quis respeitar o meu desporto, honrar a minha equipa e honrar o meu sonho de tentar terminar o Tour. Não ter entrado no carro da equipa será, agora, uma das coisas das quais estarei sempre orgulhoso”.
Entre o orgulho de ter chegado ao final e a alegria de incentivar mais crianças negras sul-africanas a entrarem no ciclismo, Dlamini foi o herói da etapa 9.