Um disco é um disco, um disco é um livro
É precipitado dizer que é uma tendência generalizada em termos culturais e editoriais, mas, enquanto o século XX se afasta, os discos que a pop e o rock nos deixaram vão-se tornando temas autónomos de livros. Nos Estados Unidos, a colecção 33-1/3, actualmente com mais 150 títulos, foi a percursora e, noutras latitudes, vão aparecendo projectos semelhantes. Ocasião para explorar o desejo e o fascínio de escrever sobre discos de música pop e rock. E lançar a pergunta: é ele suficientemente escutado entre nós?
Os discos pop e rock podem ser livros. Ou, reformulando, podem originar livros. Estas proposições nada têm de surpreendente. Desde os anos 60 do século passado que a música pop, no seu mais sentido mais lato, solicita as palavras de outros que não os músicos. Sem elas, aliás, a sua inscrição na história cultural teria sido, porventura, mais incerta. Não será necessário recordar os nomes, a maioria anglo-saxónicos, que para tal contribuíram no domínio do jornalismo e da imprensa. Nos Estados Unidos e, entre os anos 1960 e 1980, na Inglaterra, a música popular urbana fez florescer uma série títulos e publicações que influenciaram gerações de leitores e críticos vindouros. Noutras esferas, entretanto, foi ganhando os contornos de assunto académico; se ainda não era considerada música elevada, tornara-se, pelo menos, tema sério.