Brasileiros dão a Bolsonaro a pior avaliação de sempre e consideram-no falso, incompetente e autoritário

Depois das últimas denúncias de casos de corrupção e de mais uma vaga de contestação, não sobra um único indicador positivo na percepção da população sobre o chefe de Estado brasileiro.

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Para 51% dos inquiridos, o Governo de Bolsonaro é mau ou péssimo ADRIANO MACHADO/Reuters

Mais de metade dos brasileiros reprova agora a actuação do Presidente, Jair Bolsonaro, mostra a ultima sondagem do Instituto Datafolha. Com 51% dos inquiridos a descrever o seu Governo como mau ou péssimo, em relação aos 45% que já o via assim a meio de Maio, esta é a pior avaliação de sempre nos inquéritos regulares publicados pelo jornal A Folha de S. Paulo.

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Mais de metade dos brasileiros reprova agora a actuação do Presidente, Jair Bolsonaro, mostra a ultima sondagem do Instituto Datafolha. Com 51% dos inquiridos a descrever o seu Governo como mau ou péssimo, em relação aos 45% que já o via assim a meio de Maio, esta é a pior avaliação de sempre nos inquéritos regulares publicados pelo jornal A Folha de S. Paulo.

Actualmente, a maioria dos brasileiros descreve Bolsonaro como falso (55%), desonesto (52%), incompetente (58%), mal preparado (62%), autoritário (66%), pouco inteligente (57%) e indeciso (57%), num retrato arrasador. Face às últimas denúncias de casos de corrupção na compra de vacinas para a covid-19 na Índia e na sequência de novos protestos nacionais contra o chefe de Estado, não há um único indicador positivo na percepção da população.

Alguns dados serão particularmente preocupantes para a presidência, nota a Folha, como a questão da desonestidade. A estratégia eleitoral de Bolsonaro sempre passou por promover uma imagem de “sinceridade”, reforçada pelo seu desprezo pelo politicamente correcto e insistência em frases polémicas.

O autoritarismo é agora o traço que mais brasileiros associam ao seu Presidente, com apenas 28% a considerá-lo um democrata.

Com base na sondagem realizada presencialmente nos dias 7 e 8 de Julho (2074 entrevistados com mais de 16 anos em 146 municípios e uma margem de erro de dois pontos percentuais), a única boa notícia para o Planalto é a estabilidade do número dos que ainda avaliam positivamente a actuação do Presidente, que desde Março está nos 24% (ainda assim, o pior nível de sempre). Já o número de brasileiros que avalia como normal o trabalho do Governo também desceu, passando dos 30 para os 24%.

A percepção do mau desempenho do Presidente tem crescido a pique desde Dezembro do ano passado, quando 37% dos brasileiros o avaliavam como óptimo ou bom.

A erosão da popularidade de Bolsonaro atravessa quase todos os grupos socioeconómicos da população, mas recuou entre os mais ricos: há agora menos pessoas a reprovarem o seu desempenho no grupo dos que ganha cinco a dez salários mínimos e entre os que recebem mais de dez salários. No outro extremo, é entre os que ganham menos de dois salários mínimos (o grupo mais populoso da amostra, que representa 57% da população), que a reprovação do Presidente mais cresceu desde Dezembro, passando de 45 a 54%.

Estes dados surgem quase uma semana depois da última jornada de manifestações antigovernamentais em todo o país, com protestos marcados por partidos da posição, sindicatos e organizações da sociedade civil. As manifestações foram antecipadas (estavam previstas inicialmente para 24 de Julho) para sábado passado quando foram conhecidos os casos de corrupção que envolvem o Ministério da Saúde na aquisição de vacinas Covaxin.

Inquéritos e detenção

Face aos indícios conhecidos, a Procuradoria-Geral pediu ao Supremo Tribunal Federal para abrir um inquérito ao Presidente, para apurar se ele nada fez depois de ter sido alertado para suspeitas de que o seu irmão, funcionário do Ministério, estaria a exercer pressão para que o negócio avançasse.

Entretanto, o director de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, foi detido depois de ter cometido “perjúrio na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga a conduta do Governo na pandemia.

Perante o mau momento, Bolsonaro voltou a tentar desviar atenções levantando, uma vez mais, suspeitas de fraude eleitoral quando Dilma Rousseff derrotou Aécio Neves, em 2014 – não só o actual chefe de Estado continua sem apresentar quaisquer indícios que comprovem as suas suspeitas, como o próprio vice do candidato derrotado nega a existência de irregularidades. “É evidente que ele não tem prova nenhuma, porque não houve fraude”, disse Nunes Ferreira. “A eleição foi limpa, perdemos porque nos faltaram votos”, afirmou Nunes Ferreira à Folha.

A insistência nas acusações de fraude, na quinta-feira, recupera uma ameaça feita na semana passada, quando Bolsonaro afirmou que se recusará a transferir o poder a um adversário que o bata nas urnas se considerar que houve irregularidades, num aviso a fazer lembrar as declarações de Donald Trump antes e depois das presidenciais de Novembro dos Estados Unidos.