Covid is coming home
Ganhem ou não a final de domingo, os ingleses já exorcizaram os traumas passados, confiantes que esta geração, cedo ou tarde, os recompensará com o ansiado título internacional.
Imaginem uma nação de 55 milhões de adeptos fervorosos, daqueles mesmo doentes, que vão pôr tarjas a reservar a praça do Marquês de Pombal para celebrar a vitória do campeonato ainda em Dezembro. É esse o espírito aqui em Inglaterra sempre que há uma competição internacional de futebol. Este povo usualmente estóico e conformado olha para a colecção de excelentes jogadores que costuma ser convocada e passa temporariamente por um momento de euforia colectiva. No entanto, tal como a previsibilidade das marés, o êxtase rapidamente dá lugar ao desgosto. Hello darkness, my old friend. Desde a famosa (e única) vitória do Campeonato do Mundo em Wembley, em 1966, que a equipa nacional fica sempre bastante aquém das expectativas. Ao ponto de o hino que toca até à exaustão de dois em dois anos, o famoso Three Lions (Football’s Coming Home), parodiar esse sentimento de saudade que julgamos ser tão português:
England's gonna throw it away / Gonna blow it away / But I know they can play / ‘Cause I remember
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Imaginem uma nação de 55 milhões de adeptos fervorosos, daqueles mesmo doentes, que vão pôr tarjas a reservar a praça do Marquês de Pombal para celebrar a vitória do campeonato ainda em Dezembro. É esse o espírito aqui em Inglaterra sempre que há uma competição internacional de futebol. Este povo usualmente estóico e conformado olha para a colecção de excelentes jogadores que costuma ser convocada e passa temporariamente por um momento de euforia colectiva. No entanto, tal como a previsibilidade das marés, o êxtase rapidamente dá lugar ao desgosto. Hello darkness, my old friend. Desde a famosa (e única) vitória do Campeonato do Mundo em Wembley, em 1966, que a equipa nacional fica sempre bastante aquém das expectativas. Ao ponto de o hino que toca até à exaustão de dois em dois anos, o famoso Three Lions (Football’s Coming Home), parodiar esse sentimento de saudade que julgamos ser tão português:
England's gonna throw it away / Gonna blow it away / But I know they can play / ‘Cause I remember
Entretanto, cá estamos, na crista de uma onda de optimismo tal que os meus amigos ainda estavam a meio de ver a Inglaterra a causar um traumatismo ucraniano e já falavam em que parte de Trafalgar Square se iam encontrar para celebrar a conquista do título europeu e em meter férias para o dia seguinte por causa da ressaca que se avizinha. Desta vez é diferente. Com um conjunto de jogadores jovens, já sem memória ou ligação directa às calamidades transactas e unidos dentro e fora do campo (ao contrário do resto do país, que nunca esteve tão dividido), o futebol regressou, finalmente, ao seu lar. A semi-final já foi despachada, com uma ajudinha da vantagem de jogar em casa inacessível para quem vem de fora. Ganhem ou não a final de domingo, os ingleses já exorcizaram os traumas passados, confiantes que esta geração, cedo ou tarde, os recompensará com o ansiado título internacional.
Por falar em ondas, o nosso novo Governo decidiu que agora, com mais de 30 mil casos por dia e uma parte significativa da população ainda não vacinada, é a melhor altura de pegar no travão de mão, atirá-lo pela janela e descer a Serra da Estrela. As mesmas pessoas que não querem tomar a vacina devido à falta de conhecimento em relação aos seus efeitos de longa duração parecem não ter problemas nenhuns em deixar que se propague um vírus para o qual há falta de conhecimento quanto às suas consequências a longo prazo em modo bar aberto pela população, principalmente nos milhões de crianças não imunizadas e pessoas com sistemas imunitários comprometidos. Ninguém pede ou quer que as restrições draconianas sejam reintroduzidas. Só que se protejam as pessoas até o máximo possível de imunização ser atingido e não fazer com que os sacrifícios dos últimos anos e sucessos de vacinação tenham sido em vão.
Temos todos de aprender a viver com o vírus... dos governantes medíocres. Após ter sido acusado de mentir ao povo britânico múltiplas vezes, de incompetência pelo primeiro-ministro e ter tido um papel preponderante em enviar mais de 150 mil almas para o além durante a pandemia, o secretário de Estado da Saúde, Matt Hancock, finalmente despediu-se após ter sido apanhado em vídeo no “roça-roça” extra-marital com o seu amor de infância (parecia uma curte de viagem de finalistas a Lloret de Mar), à qual ofereceu uma posição de conselheira a cobrar mil libras por dia. Deu lugar a Sajid Javid, grande fã da privatização (saque?) do serviço nacional de saúde e, como tal, excelentemente posicionado para ajudar a distribuir os escombros deixados pelo tsunami de 100 mil casos diários que antevê pelos bancos de investimento onde trabalhou. Diz que esta grande abertura (The Great Unlocking) é irreversível, mas, no entanto, todos sabemos lá no fundo que esta iniciativa se vai juntar brevemente ao acordo do Brexit “pronto-a-cozinhar” no cemitério dos chavões populistas. Daqui a três meses cá estaremos todos a tentar dar a volta como se tivéssemos que atravessar a A6.
England's gonna throw it away / Gonna blow it away. Football Covid is coming home