Eswatini promete “diálogo nacional” para acalmar protestos que fizeram pelo menos 27 mortos
Mortes podem ser pelo menos duas vezes mais. Oposição e analistas acreditam que a promessa de diálogo visa acalmar a agitação a curto prazo e não de responder às exigências de reformas.
As autoridades de Eswatini, a antiga Suazilândia, prometeram realizar um “diálogo nacional” numa tentativa de acalmar a agitação social e os protestos contra o rei Mswati III por causa da repressão. Segundo as autoridades, os confrontos entre a polícia e os manifestantes resultaram em 27 mortes, a maioria na última semana.
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As autoridades de Eswatini, a antiga Suazilândia, prometeram realizar um “diálogo nacional” numa tentativa de acalmar a agitação social e os protestos contra o rei Mswati III por causa da repressão. Segundo as autoridades, os confrontos entre a polícia e os manifestantes resultaram em 27 mortes, a maioria na última semana.
O ministro do Comércio, Manqoba Khumalo, disse ao Guardian que as autoridades precisam “de responder às acusações”, mas afirmou que tal só poderia ser feito quando a situação sanitária melhorar.
Ainda na quarta-feira, Khumalo confirmara à AFP que “27 pessoas perderam a vida”, a maioria na última semana. “Foi necessário recorrer à força em alguns casos”, referindo-se a roubos e incêndios, esclareceu. Contudo, a oposição afirma que o número de mortes pode ser o dobro.
A promessa de diálogo foi recebida com cepticismo pelos líderes da oposição e analistas, receando que a violência se mantenha se não forem concretizadas reformas políticas. Contudo, os especialistas duvidam que venham a acontecer verdadeiras mudanças, pretendendo o Governo apenas acalmar os protestos a curto prazo.
A agitação social no país intensificou-se no último mês, quando as autoridades suspenderam a apresentação de petições ao Palácio Real, uma das poucas formas de a população poder manifestar às autoridades as suas queixas. Os protestos que se seguiram foram acompanhados por incêndios, saques e repressão policial.
Testemunhas contactadas pelo Guardian falam em disparos indiscriminados com munições reais. Também o acesso à Internet foi limitado, muitos serviços públicos estão fechados, outros foram queimados.
Quem mais tem saído à rua são os jovens, motivados pela morte de um estudante universitário em Maio, alegadamente com o envolvimento da polícia. “Estamos a lutar pela democracia, liberdade, emprego e por comida. Estamos numa luta pela libertação, não para roubar”, disse ao Guardian um estudante de 26 anos, que pediu o anonimato.
Num país com cerca de 1,3 milhões de habitantes e onde a idade média é de 21 anos, a taxa de desemprego supera os 40% e quase 60% da população vive na pobreza, de acordo com o Banco Mundial. Esta realidade contrasta com a vida luxuosa da numerosa família real. Além disso, a monarquia controla grande parte da vida política do país, onde os partidos políticos são silenciados por leis repressivas.
Face à evolução da situação, a ONU manifestou a sua preocupação na terça-feira, apelando a uma investigação independente ao “uso de força desproporcional e desnecessária, assédio e intimidação” pelas forças de segurança. Também a Amnistia Internacional denunciou a situação como um “ataque directo aos direitos humanos”.