Câmara de vídeo baixo custo vai “democratizar” a investigação do mar profundo

Este sistema tecnológico já fez 250 mergulhos em dois anos, o que corresponde a 185 horas de imagens, permitindo explorar montes submarinos e estruturas geomorfológicas nos Açores.

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Imagens do fundo do mar recolhidas pela câmara agora apresentada Imar/Okeanos/Universidade dos Açores

O Grupo de Investigação do Mar Profundo do Okeanos apresentou uma “plataforma de vídeo de baixo custo” que vai permitir a “democratização” da investigação do mar profundo, destacam os cientistas.

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O Grupo de Investigação do Mar Profundo do Okeanos apresentou uma “plataforma de vídeo de baixo custo” que vai permitir a “democratização” da investigação do mar profundo, destacam os cientistas.

Esta ferramenta, a Azor drift-camé “construída com componentes de uso comum”. Por isso, é uma tecnologia “eficaz, de baixo custo, de simples montagem e fácil operabilidade, resiliente, operacional e confiável, para exploração do mar profundo até aos mil metros de profundidade”, explica o Observatório do Mar dos Açores em nota de imprensa.

O projecto do Instituto de Investigação em Ciências do Mar – Okeanos, da Universidade dos Açores, foi apresentado esta quarta-feira numa sessão organizada em parceria com o Observatório do Mar dos Açores (OMA), que decorreu na cidade da Horta, ilha do Faial.

“A Azor drift-cam tem o potencial de tornar a exploração do mar profundo mais democrática e acessível para muitos”, explica o OMA, acrescentando que “o sistema não pretende substituir as plataformas de vídeo e fotografia subaquáticas mais sofisticadas”, mas sim “fornecer os meios para realizar avaliações rápidas de habitats bentónicos do mar profundo”.

O projecto nasceu da necessidade de fazer cumprir a agenda de investigação do Okeanos conhecer todos os elementos topográficos da zona económica exclusiva (ZEE) dos Açores até aos 1000 metros de profundidade , que dependia da disponibilidade de recursos escassos e muito caros.

Este equipamento tem vindo a ser testado no mar dos Açores, com 250 mergulhos em dois anos, “que correspondem a 140 quilómetros de fundo e 185 horas de imagem”, adiantou o investigador Carlos Dominguez-Carrió, do Okeanos e um dos criadores do sistema. “Permitiu fazer uma exploração de larga escala dos montes submarinos e das estruturas geomorfológicas da ZEE dos Açores”, explicou, por sua vez, o investigador Telmo Morato, também do Okeanos. Veja algumas das imagens em vídeo aqui.

Telmo Morato realçou a “oportunidade que este sistema deu para explorar zonas que, de outra forma, não se veriam” e adiantou que os “Açores terão uma das maiores reservas de esponjas e de corais do mundo, certamente uma das maiores do Atlântico Norte”.

A ferramenta tem um custo total inferior a 15 mil euros e consiste em duas câmaras, que filmam em 4K e HD, dentro de uma estrutura oval, que permite retirar o instrumento mais facilmente se este ficar preso em redes de pesca, e que deve incorporar também duas luzes com bateria interna e uma fita de LED, para iluminar a escuridão do mar profundo. Tem ainda dois lasers e um leme, que garante a estabilidade do aparelho, explicou Carlos Dominguez-Carrió.

O intuito é “democratizar a investigação”, destacou Telmo Morato, acrescentando que a equipa irá partilhar com a comunidade científica um “livro de receitas que explica que partes compõem este instrumento, como devem ser montadas e como devem ser operadas”.

A Azor drift-cam tem uma “configuração fácil de montar, barata, fácil de reparar, que se consegue reparar em qualquer parte do mundo, e que se consegue operar a partir de cada navio, seja de médio ou pequeno porte”, como embarcações de pesca, prosseguiu.

Para o actual ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, “um dos pioneiros na investigação do mar profundo” dos Açores, como frisou Telmo Morato, esta ferramenta demonstra que “é possível explorar o tempestuoso mar profundo, na acentuada Crista Média-Atlântica, com imaginação, conhecimento e capacidade”.

Também a oceanógrafa Sylvia Earle saudou a “genial abordagem para explorar o oceano” e sublinhou que os Açores, que se juntam a outros cerca de 130 sítios no mundo que foram considerados Hope Spots para os oceanos são pioneiros por estarem “a oferecer protecção total às criaturas do mar  que conceito!”, exclamou.