Summer School on Art & Cinema: uma semana para reflectir sobre colonialismo e sobrevivência
Terceira edição desta iniciativa organizada pela Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa levará filmes, convidados e uma exposição à cidade do Porto para discutir, entre outras coisas, a marginalização de algumas comunidades.
Entre os dias 5 e 9 de Julho, a Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa vai estudar o colonialismo, o racismo sistémico, o silenciamento e a resistência. Organizada em parceria com a instituição alemã Haus der Kulturen der Welt, a terceira edição da Summer School on Art & Cinema conta com uma série de iniciativas abertas ao público e levará filmes, artistas, palestras e uma exposição a diferentes espaços culturais do Porto — o Museu de Serralves, a sala de exposições da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, o Cinema Trindade, o Cinema Passos Manuel e o Coliseu Porto Ageas. O programa, que tem a curadoria de Nuno Crespo, Daniel Ribas e Filipa César, pretende lançar um olhar sobre o quotidiano de comunidades marginalizadas e sobre a discriminação de que são alvo, bem como apontar para os seus mecanismos de sobrevivência e os “gestos de empoderamento” que nelas vão surgindo.
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Entre os dias 5 e 9 de Julho, a Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa vai estudar o colonialismo, o racismo sistémico, o silenciamento e a resistência. Organizada em parceria com a instituição alemã Haus der Kulturen der Welt, a terceira edição da Summer School on Art & Cinema conta com uma série de iniciativas abertas ao público e levará filmes, artistas, palestras e uma exposição a diferentes espaços culturais do Porto — o Museu de Serralves, a sala de exposições da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, o Cinema Trindade, o Cinema Passos Manuel e o Coliseu Porto Ageas. O programa, que tem a curadoria de Nuno Crespo, Daniel Ribas e Filipa César, pretende lançar um olhar sobre o quotidiano de comunidades marginalizadas e sobre a discriminação de que são alvo, bem como apontar para os seus mecanismos de sobrevivência e os “gestos de empoderamento” que nelas vão surgindo.
Nuno Crespo, director da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, conta ao PÚBLICO que a Summer School on Art & Cinema foi pensada para cumprir “uma dupla função”: assume-se como um curso intensivo de novas práticas cinematográficas, que oferece aos participantes “a possibilidade de dialogarem com uma série de convidados ligados às áreas do cinema e das artes visuais”, e, ao mesmo tempo, a “ambição de construir um projecto formativo aberto à cidade e à comunidade na qual se insere” levou o responsável a associar a esta oferta mais restrita um “programa público de acesso livre”, que arranca às 20h de segunda-feira, no Museu de Serralves, com a exibição de Day in the Life, interventiva curta-metragem do Karrabing Film Collective.
“O trabalho dos Karrabing reflecte as condições de vida nomádicas e precárias da comunidade aborígene australiana”, com os terrenos que ocupam “quase sempre a serem-lhes retirados pelas autoridades”, diz Nuno Crespo. “O colectivo usa a arte para que as suas denúncias consigam sair da esfera da sua própria cultura. Ao mesmo tempo, o cinema surge aqui como uma forma de registo, de fazer sobreviver uma determinada forma de vida.”
Quem faz parte do Karrabing Film Collective é Elizabeth Povinelli, antropóloga e realizadora de 59 anos que estará no Porto para a Summer School e cujo trabalho, sugere Daniel Ribas, “mostra que, se olharmos para a História a partir do ângulo dos povos que foram colonizados e silenciados, iremos abrir uma nova História”. E, “abrindo uma nova História” cria “um possível novo futuro”, assegura este curador.
“A reescrita da História é uma das nossas preocupações. Aliás, era para ter sido esse o tema da Summer School no ano passado, mas, com a pandemia, acabámos por não a fazer”, acrescenta Nuno Crespo. “Quando dizemos ‘reescrita da História’, não estamos a falar em apagá-la. O que queremos fazer é repensá-la a partir da inclusão de novos sujeitos, de novas falas”, explica o comissário e crítico de artes plásticas do PÚBLICO. “A História parece partir sempre do ponto de vista do vencedor: há uma narrativa de heroísmo, de conquista, de domínio. As práticas artísticas lembram a necessidade de incluirmos os sujeitos que foram silenciados.”
Quanto a Filipa César, artista, e Sónia Vaz Borges, doutorada em História da Educação, estrearão a exposição Leituras do Mangue no dia 6, pelas 19h, na sala de exposições da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa. O trabalho retrata uma viagem que ambas fizeram à Guiné-Bissau com o objectivo principal de ficarem a conhecer as condições em que vivem os alunos nas “escolas guerrilheiras” das florestas de mangue, explica-se num comunicado. Esta intenção inicial acabou por levar as duas autoras a tornaram-se alunas de uma dessas escolas, ilustrando a exposição “as suas experiências e aprendizagens ao longo desse período.”
Na quarta-feira, o Cinema Trindade exibirá o filme Isabella, de Matías Piñeiro — realizador argentino cuja curta-metragem Sycorax, feita com Lois Patiño, terá a sua estreia na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes —, e no dia seguinte o Cinema Passos Manuel recebe a obra de Patrícia Yxapy, cineasta indígena brasileira que trabalha com o projecto Vídeo nas Aldeias. Os seus filmes, diz Daniel Ribas, testemunham o dia-a-dia de algumas aldeias na Amazónia. É um retrato que “passa muito pelos rituais mais pequenos: ir buscar madeira ou comida, ver os miúdos a brincar... Há um lado muito diarístico, uma ética da observação”, revela. “Mas não é uma observação daquele que está a olhar para o exótico, [é antes] uma observação que se envolve e que faz parte da acção, do território”, conclui Nuno Crespo.
O programa público completa-se com a exibição de Un-Documented: Unlearning Imperial Plunder, filme de Ariella Aïsha Azoulay que passa na sexta-feira no Coliseu Porto Ageas. Ariella trabalha fundamentalmente sobre o conflito israelo-palestiniano.