Cabul investiga a recente retirada das suas forças de localidades conquistadas pelos taliban
Suspeita-se de que houve ordens para que os militares afegãos saíssem dos locais, deixando caminho aberto ao grupo jihadista. Desde Maio, quase 60 dos 370 distritos do Afeganistão ficaram nas mãos dos taliban.
O Ministério do Interior do Afeganistão começou uma investigação sobre as recentes retiradas das forças de segurança afegãs de dezenas de localidades que acabaram por cair nas mãos dos taliban, em resultado da grande ofensiva do grupo insurrecto, que conquistou mais de uma centena destas áreas nas últimas semanas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Ministério do Interior do Afeganistão começou uma investigação sobre as recentes retiradas das forças de segurança afegãs de dezenas de localidades que acabaram por cair nas mãos dos taliban, em resultado da grande ofensiva do grupo insurrecto, que conquistou mais de uma centena destas áreas nas últimas semanas.
Esta ofensiva fez surgir fortes críticas ao Governo afegão e à sua capacidade de manter a estabilidade no país após a retirada completa das forças internacionais. Localidades como Shireen Tagab, Pashtun Kot ou Qaisar, na província de Faryab, ou Qarabagh e Muqur, na província de Ghazni, caíram nas mãos dos taliban sem que tenha havido qualquer resistência das forças de segurança afegãs.
Enquanto isso, os taliban tomaram ainda nas últimas horas mais nove localidades nas províncias do Badaquistão e Kandahar. Trata-se de sete distritos do Badaquistão, segundo os governantes locais Mohammad Zakir Aryan e Mahbub ul Rahman Talaat, e ainda dois em Kandahar, disseram o deputado Jalil Ahmad Muyahid e o conselheiro municipal Nematula Wafa.
Também houve ainda confrontos na zona de Maruf (Kandahar), onde os militares alertaram as autoridades que se não recebessem rapidamente apoio não iriam conseguir travar os ataques.
Desde Maio, quase 60 dos 370 distritos do Afeganistão ficaram nas mãos dos taliban. Foi a primeira vez em duas décadas de guerra que os insurrectos tomaram o controlo de tantos distritos num período de tempo tão curto.
"Evacuámos áreas para evitar baixas"
“Há especulação de que as forças de segurança receberam ordens para não lutar, mas não sabemos de onde possa ter vindo esta mensagem”, explicou o deputado Khan Agha Rezaee ao canal afegão de notícias Tolo News.
O Ministro interino do Interior, Abdul Sattar Mirzakwal, confirmou a abertura de uma investigação com a participação do Ministério da Defesa. Este argumentou que a falta de equipamento e o atraso na entrega de ajuda de emergência às forças de segurança estão entre os factores que conduziram ao problema.
“Evacuámos algumas áreas para evitar baixas entre civis e militares, e para evitar danos em áreas residenciais e atrasar a entrega atempada de mantimentos ao nosso pessoal”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Rohullah Ahmadzai.
Esta investigação surge quando os Estados Unidos continuam a desvincular-se das suas operações militares no Afeganistão. Na sexta-feira, as tropas americanas completaram a sua retirada da base aérea de Bagram, a maior do país, após quase 20 anos.
A base, localizada a cerca de 70 Km a norte da capital, Cabul, tem sido o principal centro de operações dos EUA no Afeganistão. Os Estados Unidos planeiam completar a sua retirada a 11 de Setembro, 20 anos após os ataques de 11 de Setembro, e deixar um pequeno contingente para apoiar o pessoal diplomático no país, que poderá ser de cerca de 650 soldados.