Descoberto terceiro exoplaneta aquático a transitar de “surpresa” a estrela Nu2 Lupi

A uma distância de 48 anos-luz da Terra, a estrela Nu2 Lupi pertence à constelação do Lobo () e é brilhante o suficiente para ser visível a olho nu.

Foto
Imagem artística do sistema exoplanetário Nu2 Lupi ESA

Um estudo internacional, no qual participaram investigadores do Instituto de astrofísica e Ciências do Espaço (IA), encontrou, através do satélite Cheops, da Agência Espacial Europeia (ESA), um terceiro exoplaneta “aquático” a transitar de “surpresa” a estrela Nu2 Lupi.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um estudo internacional, no qual participaram investigadores do Instituto de astrofísica e Ciências do Espaço (IA), encontrou, através do satélite Cheops, da Agência Espacial Europeia (ESA), um terceiro exoplaneta “aquático” a transitar de “surpresa” a estrela Nu2 Lupi.

Em comunicado, o IA afirma esta segunda-feira que ao estudar a estrela Nu2 Lupi e os seus dois planetas mais interiores, o satélite Cheops encontrou um “exoplaneta único”. “Um planeta aquático com uma órbita de mais de 100 dias apareceu de surpresa nos dados do Cheops, também a transitar a estrela” de um sistema planetário próximo ao da Terra, refere o comunicado.

A uma distância de 48 anos-luz da Terra, a estrela Nu2 Lupi pertence à constelação do Lobo (Lupi) e é brilhante o suficiente para ser visível a olho nu. Os seus três planetas conhecidos (Nu2 Lupi b, Nu2 Lupi c e Nu2 Lupi d) foram detectados em 2019 pelo espectrógrafo Harps, que está instalado no telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul (ESO).

Observações posteriores, com recurso ao satélite TESS, da NASA, mostraram que os dois planetas mais interiores (com órbitas de 11,6 e 27,6 dias, respectivamente) transitavam a estrela, “mas desconhecia-se que o planeta “d”, com uma órbita de cerca de 107 dias, também passava em frente à sua estrela”. “Se orbitasse o Sol, o Nu2 Lupi d ficaria situado entre as órbitas de Mercúrio e Vénus”, afirma o IA.

Citada no comunicado, Susana Barros, investigadora do IA e da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), refere que o estudo de exoplanetas, a par dos métodos de trânsitos e das velocidades radiais, permitem “medir o seu diâmetro e inclinação da órbita e daí calcular a massa”. “Sabendo a massa e o diâmetro do planeta, podemos estabelecer limites à sua composição, isto é, a quantidade de rocha, gelo e gases que o compõem”, acrescenta a investigadora.

Também Sérgio Sousa, investigador do IA e da FCUP e um dos representantes portugueses no consórcio do Cheops, salienta que apesar de ser uma pequena missão da ESA, o satélite “continua a demonstrar a sua enorme capacidade ao apanhar este trânsito improvável de um planeta de longo período no sistema Nu2 Lupi”. “Esta elevada precisão fotométrica só é possível porque estamos a fazer observações fora da nossa atmosfera, ao mesmo tempo que tentamos perceber e corrigir erros sistemáticos nos instrumentos, característicos das observações do Cheops”, afirma.

A elevada precisão do Cheops permitiu aos investigadores determinar que o planeta “d” tem cerca de 2,5 vezes o diâmetro da Terra, mas uma massa 8,8 vezes maior do que o nosso planeta. “A sua composição será semelhante à do planeta “c”, sendo ambos planetas aquáticos, envolvidos em atmosferas de hidrogénio e hélio”, refere o IA, acrescentando que se calcula que “quase um quarto da composição de ambos [exoplanetas] será formada por água”. “Por isso terão bastante mais água do que a Terra”, salienta.

O consórcio do Cheops, liderado pela Suíça e pela ESA, conta com a participação de 11 países europeus, sendo que em Portugal a participação é liderada pelo IA. A participação de Portugal neste consórcio integra uma estratégia mais envolvente que visa promover a investigação em exoplanetas no nosso país, através da construção, desenvolvimento e definição científica de vários instrumentos e missões espaciais como o Cheops ou o espectrógrafo Espresso, que já está em funcionamento no Observatório do Paranal (ESO).

A estratégia vai continuar nos próximos anos, com o lançamento do telescópio espacial Plato e a instalação do espectrógrafo Hires, “no maior telescópio da próxima geração, o ELT”.