Quando ela nasceu, nada ficou como estava

O poeta Sebastião da Gama que nos perdoe por contrariar o seu “Quando eu nasci, ficou tudo como estava”. Nunca fica.

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Um livro pensado e escrito por uma mãe (pela primeira vez) em licença de maternidade, a viver aqueles “meses cansativos” iniciais, mas cheios de “maravilhas”. Diz a autora do texto, Maria João Lopes: “Enquanto andava à volta da mesa da sala, em círculos, a adormecê-la, ia pensando na mudança tão grande que estava a acontecer, uma mudança tão grande e ela tão pequenina ao meu colo.”

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Um livro pensado e escrito por uma mãe (pela primeira vez) em licença de maternidade, a viver aqueles “meses cansativos” iniciais, mas cheios de “maravilhas”. Diz a autora do texto, Maria João Lopes: “Enquanto andava à volta da mesa da sala, em círculos, a adormecê-la, ia pensando na mudança tão grande que estava a acontecer, uma mudança tão grande e ela tão pequenina ao meu colo.”

A história, que é sobretudo um relato de emoções e não uma narrativa no sentido clássico do termo, começa assim: “Quando saí da barriga da minha mãe, era muito pequenina, mas tudo o que fazia era em grande.”

Pela voz da criança acabada de nascer, é-nos dado conta de todas as mudanças que a chegada de alguém ao mundo impõe. “Longas madrugadas”, “olheiras bem profundas e escuras”, “caminhadas sem fim, comigo ao colo, pela casa”. Mas também canções cantadas ao ouvido, visitas de toda a família, ofertas de roupa e conselhos infinitos (e cansativos) sobre como cuidar da menina.

Brincar com as escalas

Maria João Lopes, jornalista do PÚBLICO, mas que em breve deixará de o ser (em Setembro, iniciará um projecto de investigação em literatura infanto-juvenil na Universidade de Aveiro, como bolseira de doutoramento), brincou com a ideia de escalas: “Entre o tão pequenino e o tão grande, na alteração de rotinas, no cansaço, nas pequenas transformações do quotidiano, no colo, nos mimos, no amor e no espanto que eu e o pai sentimos ao vê-la crescer.” Afinal, “ela era tão pequenina, mas capaz de mudanças dignas de gigante” e a própria mãe se sentiu, aqui e ali, também “pequenina”.

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Maria Remédio

Depois, contou ainda: “Quando ela adormecia, punha-me a tentar dar forma à ideia com palavras. Já não me recordo bem de todas as fases de escrita do texto, sei que a primeira versão aconteceu nessa altura e que, mais tarde, voltei ao texto, fiz algumas alterações, mudei certas palavras, acrescentei algo, embora tivesse mantido o essencial. E o essencial, para mim, foi também tentar captar os desníveis dessa fase tão particular.”

Tesoura em vez de lápis

A ilustradora, Maria Remédio, recorreu às suas memórias de maternidade para ilustrar o texto. “Inspirei-me em situações e objectos da minha própria maternidade e também da maternidade da Maria João, a quem pedi fotografias e também uma lista das primeiras palavras da sua filha”, contou ao PÚBLICO.

Disse ainda, com expressividade: “A tesoura é o meu lápis na altura de criar as ilustrações. Recorto as formas livremente e vou colando os pedaços de papel à medida que se ajustam à imagem que quero fazer nascer.”

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Maria Remédio

Utilizou a técnica da colagem de uma forma diferente da que costuma usar. “Escolhi a paleta de cores que queria usar para as ilustrações e a partir daí criei bancos de cor e texturas: pintei papéis de diferentes tamanhos e feitios, de tinta e aguarelas e com diferentes tipos de pincéis.”

Depois, desenhou um storyboard para os planos do livro. “E percebi como queria mostrar o bebé da história, em que situações apareceriam os seus pais e como tornaria em imagem determinados sentimentos.”

O trabalho nasceu em situação de confinamento, recorda Maria Remédio: “Fui viver para o campo com a minha família e lá montei o meu espaço de trabalho, rodeada de tintas e papéis e um texto à espera de ser transformado em livro.”

A ilustradora revela ainda: “Guardo todos os papéis em várias caixas, todos mesmo, até os mais pequenos. As guardas foram a última coisa a fazer. Acabei por desenhar folhas de papel no início do livro, ainda vazias e como que ainda dentro da barriga da mãe. Nas guardas do final do livro, também linhas, mas já imersas em paisagens e caminhos que se vão fazendo à medida que se cresce.”

Um livro que emociona, mas que talvez toque mais os adultos (sobretudo os pais recentes) do que propriamente as crianças. No entanto, estas ficarão a pensar no tamanho da sua importância e no que significa um amor sem fim.

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