Bélgica
Nada como um campeonato de futebol para lembrar aos expatriados da chamada “bolha de Bruxelas” (como por exemplo: eu) que, afinal, vivemos na Bélgica. Habituados a lidar diariamente com tudo o que é “europeu”, e a ver bandeiras azuis de estrelas amarelas a voar em quase todos os edifícios, ficámos desconcertados com esta euforia belga que surgiu do dia para a noite — ou vice-versa.
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Nada como um campeonato de futebol para lembrar aos expatriados da chamada “bolha de Bruxelas” (como por exemplo: eu) que, afinal, vivemos na Bélgica. Habituados a lidar diariamente com tudo o que é “europeu”, e a ver bandeiras azuis de estrelas amarelas a voar em quase todos os edifícios, ficámos desconcertados com esta euforia belga que surgiu do dia para a noite — ou vice-versa.
Demorámos a ajustar-nos a essa “nova” realidade. Enquanto os nossos vizinhos se afadigavam no abastecimento de cachecóis, bolachas, refrigerantes e balões com o tridente dos “Diables Rouges”, e se faziam notar nas esplanadas por causa dos debates acalorados sobre o sistema dos três centrais e a forma do Eden Hazard.
Nós na “bolha” andávamos entretidos a comentar uns com os outros como este torneio se revelou um pesadelo para os regimes autoritários do continente — Rússia, Turquia, Polónia e Hungria saltaram fora na fase de grupos —; a fazer piadas sobre se o vencedor do Itália-Áustria também devia ficar com o Tirol, e a confirmar, encolhendo os ombros, que os gauleses beneficiarão sempre de grandes penalidades duvidosas, porque — Jean-Claude Juncker dixit — “a França é a França”. C’est normal? Oui, mas non, respondem os belgas.
Entrados nesta nova fase decisiva do Euro 2020, parecia que estávamos finalmente preparados para assumir uma simpatia particular pela Bélgica. Agora que tivemos tempo de nos adaptar à envolvente, e de pensar um bocado no assunto, acabámos por perceber que uma vitória de Bélgica corresponde a festa para todos os que vivem na “bolha”, e ainda por constatar como os “diabos vermelhos” são um reflexo perfeito deste país que, por agora, é a nossa casa.
A Bélgica, que tanto nos confunde e exaspera, como ao mesmo tempo nos desafia e surpreende; que num momento inspirado de génio inventou o surrealismo, e parece fazer questão de o praticar quotidianamente: desde que aquele cachimbo não foi um cachimbo, nunca mais nada foi aquilo que é suposto ser neste país.
Eis o nosso destino de portugueses na Bélgica: pintar um sorriso de amarelo depois do jogo de logo à noite.