Colonos israelitas recusam abandonar construções ilegais na Cisjordânia
Novo Governo diz que vai demolir o colonato de Beita, no Norte da Cisjordânia. Só em Maio 34 palestinianos foram mortos em incidentes com colonos. ONU quer que Israel suspenda “imediatamente” estas construções.
As tensões na Cisjordânia estão ao rubro com colonos israelitas a expropriarem cada vez mais terras de palestinianos, em alguns casos desafiando as autoridades israelitas. Só em Maio, 34 palestinianos foram mortos, o número mais alto em dez anos em incidentes violentos com colonos, diz a televisão pan-árabe Al-Jazeera. Os serviços secretos de Israel contabilizaram quase 600 incidentes violentos no mesmo período, com os militares a reforçar a sua presença.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As tensões na Cisjordânia estão ao rubro com colonos israelitas a expropriarem cada vez mais terras de palestinianos, em alguns casos desafiando as autoridades israelitas. Só em Maio, 34 palestinianos foram mortos, o número mais alto em dez anos em incidentes violentos com colonos, diz a televisão pan-árabe Al-Jazeera. Os serviços secretos de Israel contabilizaram quase 600 incidentes violentos no mesmo período, com os militares a reforçar a sua presença.
Beita, uma localidade em Nablus, no norte da Cisjordânia ocupada, está a tornar-se um dos principais centros de tensão. Depois de os militares israelitas terem ferido alguns jovens residentes nas manifestações de quarta-feira à noite contra o novo colonato de Evyatar, nas imediações de Beita, os activistas apelaram à vinda de palestinianos de todas as partes da Cisjordânia nesta sexta-feira.
Antes, quatro palestinianos já tinham sido mortos a tiro por tropas israelitas quando protestavam contra o roubo de dois hectares da sua terra, que usavam para cultivar oliveiras, para a construção de Evyatar. As autoridades ordenaram a evacuação deste colonato, de umas 50 casas pré-fabricadas, defendendo que as construções desestabilizam a segurança na área.
Só que estes colonos não só recusam sair como planeiam construir mais 70 casas, uma sinagoga, um centro de dia e uma escola, numa ousadia alimentada por décadas de apoio político e económico ao seu movimento.
Na quarta-feira, Yair Lapid, ministro dos Negócios Estrangeiros do novo Governo de coligação israelita, que afastou Benjamin Netanyahu do poder, garantiu que “o colonato vai ser evacuado”.
Entre 600 e 750 mil israelitas vivem em mais de 250 colonatos nos territórios ocupados: de acordo com a lei internacional são todos ilegais, mas Israel considera 130 oficiais e os restantes 120 como ilegais ou selvagens por não terem sido autorizados. Muitos dos colonatos que as autoridades israelitas ameaçam derrubar acabam por se eternizar e até crescer.
A par do aumento de situações que mesmo Israel considera ilegais, o Estado hebraico continua a promover estas construções e acaba de aprovar um plano para acrescentar 540 unidades de habitação ao colonato de Har Homa, em Jerusalém Oriental, e estabelecer novos colonatos, denuncia a ONU.
“Volto a sublinhar, com absoluta clareza, que os colonatos israelitas constituem uma violação flagrante das resoluções das Nações Unidas e da lei internacional”, afirmou o coordenador especial da ONU para o processo de paz, Tor Wennesland, que na quinta-feira apresentou um novo relatório ao Conselho de Segurança, em conjunto com o secretário-geral, António Guterres. “A expansão de todos os colonatos deve cessar imediatamente”, sublinhou Wennesland, relembrando que estes são “um grande obstáculo” à “solução dois Estados” e a qualquer perspectiva de paz.
Demolições e despejos
Tanto Wennesland como Guterres apelaram ainda às autoridades israelitas para porem fim à demolição de casas e de outras propriedade, assim como à deslocação forçada de palestinianos, aprovando, em vez disso, “planos que permitam a estas comunidades [israelitas] construírem legalmente e enfrentar as suas necessidades de desenvolvimento”.
Foi o plano de Israel para despejar várias famílias palestinianas dos bairros de Sheikh Jarrah e Silwan, em Jerusalém Oriental (ocupada), que esteve na origem dos protestos do mês passado nos territórios e em Israel. A repressão a estes protestos, por sua vez, desencadeou o lançamento de rockets do Hamas contra cidades israelitas, com Israel a responder com uma nova e brutal ofensiva na Faixa de Gaza.
O relatório apresentado ao Conselho de Segurança é o último ponto de situação sobre a resolução aprovada em Dezembro de 2016 (com a abstenção dos Estados Unidos, no fim do mandato de Barack Obama), que declara que os colonatos “não têm validade legal”, pedindo que a sua construção seja travada e apelando a passos imediatos que previnam a violência contra civis e permitam relançar de negociações de paz.
Quatro anos e meio depois, notaram Guterres e Wennesland, nenhum dos apelos obteve resposta. Pelo contrário, no período coberto neste relatório, entre Março de Junho, “houve um aumento alarmante de violência entre israelitas e palestinianos, incluindo as hostilidades entre Israel e facções em Gaza, numa escala e intensidade que não se viam há anos” – pelo menos 256 palestinianos, incluindo 66 crianças, foram mortos em Gaza, enquanto 13 pessoas (duas delas crianças) foram mortas em Israel.
Wennesland diz que a trégua acordada após onze dias de assalto israelita a Gaza “permanece muito frágil”.