A alimentação não é uma moda. É Saúde!
A (boa) alimentação é um saber, um direito e o respeito pela vida. Pelo que também é uma obrigação: a de cuidar da nossa saúde.
Em tempos de pandemia e de pós-pandemia, o tema da alimentação vem sempre a propósito. O que seria a oportunidade para melhorar os estilos de vida acabou, para muitos, por facilitar o acesso a comida ‘rápida’, processada, a mais doces e salgados e, pior ainda, ao petiscar contínuo.
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Em tempos de pandemia e de pós-pandemia, o tema da alimentação vem sempre a propósito. O que seria a oportunidade para melhorar os estilos de vida acabou, para muitos, por facilitar o acesso a comida ‘rápida’, processada, a mais doces e salgados e, pior ainda, ao petiscar contínuo.
Nas últimas décadas, fomos assistindo a um declínio marcado na qualidade dos nossos hábitos alimentares. Por falta de acesso aos ingredientes necessários? Perda de poder de compra? Os alimentos frescos são mais caros do que os mais ricos em sal, daí que a dieta mediterrânea seja mais onerosa? A culinária tradicional já não é passada entre gerações?
O facto é que, em Portugal, a maioria da população não pratica a dieta mediterrânea e a causa pode também estar na aliteracia sobre saúde e alimentação.
Muitas poderão ser as respostas que cada um encontra para justificar-se, mas sabemos que o consumo de alimentos muito processados, doces e salgados, e restantes comportamentos alimentares, vieram para ficar e para tornar o acréscimo de anos de vida que conquistámos, nas últimas décadas, em anos de doença.
Dados da Direção-Geral da Saúde, de 2015, mostravam que os hábitos alimentares inadequados eram, logo a seguir ao álcool e drogas, o segundo fator de risco para a mortalidade precoce. Dito isto, precisamos de saber qual o impacto desta situação e como a poderemos reverter.
As escolhas que fazemos para o prato ou, mais grave, mesmo já sem prato, contribuem decisivamente para o excesso de peso, primeiro, e, depois, para a obesidade, a diabetes, a doença cardiovascular, o cancro e o declínio cognitivo, que comprometem séria e decisivamente o desejado envelhecimento saudável. Isto é, viver mais, mas com saúde.
Sendo responsáveis por mais anos de vida com doença, as nossas opções alimentares implicam maiores custos em saúde e comprometem a sustentabilidade do Sistema e do Serviço Nacional de Saúde.
Apesar de o diagnóstico estar bem feito e ser do conhecimento público, não tem sido possível alterar os comportamentos deletérios para a saúde das populações.
Os estilos de vida, juntamente com os genes individuais, condicionam os anos de vida em saúde e o risco para inúmeras doenças. A dieta é um dos mais importantes comportamentos daqueles estilos. Na promoção da saúde e prevenção da doença, existem ideias completamente erradas sobre o que é comer ‘mais saudável’. A melhor e mais simples das mensagens é: não comer mal.
Mas esta mensagem, embora linear, é intrinsecamente complexa, dado que continuamos sem saber por que comem ‘mal’ os portugueses. A lógica leva-nos a questionar se um investimento, sério e transversal, na adoção de hábitos alimentares adequados, associados a comportamentos de vida ativa, não será poupador de muita morbilidade e mortalidade e, em consequência, de avultados recursos gastos em Medicina Curativa. Tudo leva a crer que sim.
Um plano educativo em saúde, obrigatório e prioritário, nos estabelecimentos de ensino de todos os níveis, coordenado entre os ministérios da Educação, Saúde e Ensino Superior, com uma aposta clara na aprendizagem teórica, mas também prática, sobre o que e como devem os portugueses comer. O resultado deste programa terá de ser avaliado, tendo sempre em conta que o putativo sucesso de uma iniciativa educativa deste género tem de ser considerado por etapas e sobretudo a médio e longo prazos.
A (boa) alimentação não é uma moda, mas sim um saber, um direito e o respeito pela vida. Pelo que também é uma obrigação: a de cuidar da nossa saúde.
Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico