Terminou a fase de grupos: os números que explicam (quase) tudo
Diz-se que num grande torneio de futebol, há duas competições distintas: a fase de grupos e as eliminatórias. Agora que entramos no tudo ou nada, vale a pena fazer um balanço do que fica deste Euro 2020.
O resultado final de um jogo de futebol é o que fica para a história, mas há outros números que ajudam a explicar o que se passou em campo. Isto, claro, num contexto em que cada grupo teve a própria narrativa e em que a matemática nunca conta tudo, muito menos a impressão que fica de um jogo – o Portugal-Alemanha, por exemplo, foi o encontro com mais golos desta fase do Euro 2020 (seis), mas para os portugueses o balanço não é agradável.
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O resultado final de um jogo de futebol é o que fica para a história, mas há outros números que ajudam a explicar o que se passou em campo. Isto, claro, num contexto em que cada grupo teve a própria narrativa e em que a matemática nunca conta tudo, muito menos a impressão que fica de um jogo – o Portugal-Alemanha, por exemplo, foi o encontro com mais golos desta fase do Euro 2020 (seis), mas para os portugueses o balanço não é agradável.
Os comandados de Fernando Santos foram pouco agressivos e andaram sempre longe dos adversários, comentou-se no final. E há um número que sustenta esta impressão: Portugal fez apenas cinco faltas perante os alemães, o total mais baixo entre as 36 partidas da primeira fase da prova. Dois recordes num jogo e nenhum de boa memória para Portugal.
Para lá dos destaques colectivos e individuais, há muita coisa que se pode “ler” sobre as equipas e o desenrolar dos acontecimentos quando se analisam as estatísticas compiladas pela UEFA. A primeira pode ser a resposta a esta pergunta: o que define a melhor equipa de um grupo? Os golos, a organização colectiva, os valores individuais?
Até ao último dia desta fase de grupos do Euro 2020, a resposta parecia evidente: a melhor equipa é a que soma mais passes – foi o que aconteceu nos grupos A (Itália), B (Bélgica), C (Países Baixos) e D (Inglaterra). Só que depois vieram o Grupo E, que a Suécia venceu com o pior registo de passes de todo o torneio; e o Grupo F, onde a Alemanha somou mais passes, mas ficou atrás da França…
A eficácia inglesa na finalização
No Grupo A, o País de Gales chegou ao segundo lugar com a pior média de posse de bola (39,7%) entre os quatro contendores – aliás, também foi quem menos passes realizou (893 – só mesmo a Hungria, com 854, e a Suécia, com 850, ficaram atrás) e quem menos vezes visou a baliza (28 remates). Já que falamos de tentativas de finalização, fica o registo curioso da selecção inglesa, que ganhou dois jogos e empatou outro sem ter feito mais remates do que o adversário em qualquer das partidas.
Trata-se, então, acima de tudo, de uma questão de eficácia? Em dois casos, não: Itália e Países Baixos foram quem mais tentou o golo nos seus grupos. Nos restantes, sim, a eficácia foi relevante: Inglaterra foi quem menos rematou no seu grupo e a Escócia foi última com o maior total de tentativas de finalização; no Grupo B a Dinamarca rematou quase o dobro das vezes da Bélgica mas ficou atrás na classificação; no Grupo E a Espanha rematou mais do que a Suécia mas acabou em segundo; no Grupo F aconteceu o mesmo com a Alemanha.
Os ingleses estão mesmo entre os que menos rematam no conjunto dos seis grupos. E a Escócia fez mais remates do que os adversários em todas as partidas, mas foi última.
Itália e Espanha concedem poucos remates
Se não é pelos remates, será então que os jogos se decidem do outro lado, na cobertura ao sector mais recuado? Aqui os dados são mais evidentes: a solidez defensiva potencia melhores resultados. Conceder menos remates é um bom caminho para estar nos primeiros lugares, mas o País de Gales é, novamente, uma excepção gritante: Gareth Bale e companhia permitiram 58 tentativas de finalização aos seus adversários (pior só a Turquia, com 63). E, mais uma vez, a jornada de quarta-feira trouxe casos especiais: a Espanha só concedeu 12 remates (o melhor registo nesta fase, a par da Itália), mas não ganhou o seu grupo e a Alemanha (20) esteve melhor do que a França (25) mas acabou atrás dos franceses.
Façamos, então, um ponto da situação. Atacar muito é bom, mas é melhor atacar bem. E, mais importante ainda, defender com qualidade dá as maiores garantias de bons resultados globais. Conjugar esses dois momentos do jogo implica correr muito? Pelos vistos, nem por isso: com excepção da Itália e da Suécia, nenhuma das equipas que correu mais venceu o seu grupo. A Rússia (327,3km), uma das selecções com maior distância percorrida em campo, acabou em último e a República Checa, campeã da quilometragem (337,0km), foi terceira.
A Turquia foi a equipa que cometeu mais faltas (48), seguida da Polónia (46), enquanto Espanha (43 faltas sofridas), Dinamarca (40), País de Gales (40) e Portugal (39) foram as selecções mais castigadas pelas entradas dos adversários.
Os números podem ajudar a perceber alguma coisa do que se passa no relvado, mas ainda deixam muitas perguntas sem respostas taxativas. Apenas para nos recordar que o futebol é um jogo. E é também nessa imprevisibilidade que reside a sua magia.