Podemos ser amigos? Num mundo pós-pandémico, o sexo não é tudo

As apps de encontros, como o Tinder e o Bumble, estão a lançar e a adquirir novos serviços focados em criar e manter relações de amizade.

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Reuters/Mike Blake

Acabei de sair de um confinamento de longo termo. Podemos ser amigos? As relações amorosas não são o mais importante e o mais presente na cabeça de quem sai de longos períodos de isolamento pandémico. Em vez disso, as pessoas anseiam pelas amizades e pelos grupos sociais dos quais estiveram privados ao longo do último ano. 

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Acabei de sair de um confinamento de longo termo. Podemos ser amigos? As relações amorosas não são o mais importante e o mais presente na cabeça de quem sai de longos períodos de isolamento pandémico. Em vez disso, as pessoas anseiam pelas amizades e pelos grupos sociais dos quais estiveram privados ao longo do último ano. 

Este é o veredicto das apps de encontros, como o Tinder e o Bumble, que estão a lançar ou a adquirir novos serviços, inteiramente focados em fazer e em manter relações de amizade. 

“Há uma tendência interessante a acontecer neste espaço de conexão, que é o desejo de ter relações platónicas”, conta a fundadora e directora executiva da Bumble, Whitney Wolfe Herd. “As pessoas estão à procura de uma forma que só aconteceria offline e antes da pandemia.”

A empresa de Whitney está a investir na Bumble BFF (best friends forever) e que, segundo a própria, compreendeu cerca de 9% do total de utilizadores mensais activos do Bumble, em Setembro de 2020. “À medida que aumentamos o nosso foco, [a Bumble BFF] tem espaço para crescer”, esclarece.

O Match Group, concorrência e rival da Bumble – e proprietário de uma serie de aplicações, como o Tinder e o Hinge –, está também a investir em mais além do amor e da do desejo. Este ano pagou 1,7 mil milhões de dólares pela empresa de comunicação social sul-coreana Hyperconnect, cujas aplicações permitem aos seus utilizadores conversar com pessoas de todo o mundo, recorrendo à tradução em tempo real. 

Em 2020, os rendimentos da Hyperconnet cresceram 50%, enquanto a Meetup, uma aplicação que permite aos utilizadores conhecer outras pessoas com os mesmos interesses, em eventos locais ou online, teve um aumento de 22% de novos utilizadores, desde Janeiro. Aliás, este ano, a palavra mais procurada no Meetup foi ‘amigos’.

Amigos há mais de um ano

Estes serviços de amizade verificaram um aumento do envolvimento dos utilizadores desde que as restrições impostas pela pandemia de covid-19 têm vindo a ser levantadas um pouco por todo o mundo, permitindo às pessoas que se encontrem fisicamente, segundo a analista do Evercore Shweta Kharjuria, para quem fazia sentido que os negócios tentassem aliciar mais clientes. “Isto permite uma abertura do mercado total disponível de apenas solteiros para solteiros e casados”, disse.

A importância do contacto físico foi salientada por Amos, um francês de 22 anos que usa a Bumble BFF em Londres. “É difícil sentir arrebatamento se for online e se tudo estiver fechado”, conta. “As pessoas não se conectam de verdade até se encontrarem pessoalmente.”

Rosie, uma enfermeira de 24 anos de Bristol, no Sul de Inglaterra, teve dificuldades em conectar-se com os colegas de trabalho durante o confinamento. Começou a usar o Bumble BFF para conhecer pessoas novas. “Eu sou uma pessoa bastante sociável e gosto de conhecer pessoas novas, mas nunca encontrei a oportunidade. Passei de receber apenas mensagens da Vodafone para também receber bastantes desta aplicação, o que é agradável. Parece haver muitas raparigas na minha posição.”

Nupur, uma professora de 25 anos da cidade de Pune, na Índia, que usa o Tinder e o Bumble, comentou que o facto de as aplicações estarem a promover uma vertente de encontro com amigos, ao invés de se limitarem às relações mais casuais e amorosas, “pode funcionar bem”. “Eu conheci pessoas online, encontramo-nos e mantemos uma relação de amizade há mais de um ano.”

De acordo com a empresa Apptopia, ao longo dos meses e em termos de utilização diária, algumas aplicações de amizade, como a MeetMe e a Yubo, superaram algumas das mais populares aplicações de encontros.

À Reuters, a especialista em encontros online e ex-socióloga do Tinder e do Bumble, Jesse Carbino, sublinhou o facto de o isolamento social devido à pandemia ter sido mais difícil para as pessoas que estão solteiras e vivem sozinhas. “[Isto] inspirou e influenciou as pessoas a utilizar as ferramentas que tinham à sua disposição, nomeadamente a tecnologia, para encontrar amigos.”

Tendências estão aqui para ficar

De acordo com a correctora Canacoord Genuity, as apps de encontros LGBTQ+ têm trabalhado para impulsionar o aspecto social do namoro. A aplicação chinesa Blued, por exemplo, oferece serviços de barriga de aluguer e a Taimi serviços de livestreaming.

Enquanto isso, a aplicação de encontros gay Hornet procura ser mais uma espécie de rede social centrada nos interesses pessoais dos utilizadores, ao invés de apenas um serviço de encontros centrado na proximidade e no aspecto físico. À Reuters, o fundador e director executivo da Hornet, Christof Witting, disse que seria improvável as pessoas regressarem às “velhas formas” de se conectarem offline, como o caso da vida nocturna, do activismo ou dos eventos desportivos. 

Ainda segundo o mesmo, o número de utilizadores que procuraram e acederam ao feed de notícias, a vídeos e a comentários subiu 37% até ao mês de Maio. O número de pessoas à procura de amigos e das comunidades online durante o confinamento também aumentou, consequência do encerramento de bares e ginásios e do cancelamento de eventos Pride.

“Estas tendências vieram para ficar”, acrescenta. “Tal e qual como as videoconferências e o teletrabalho.”