Um mundo sem doenças incuráveis? Para já é “ficção científica”, mas não é impossível

O terceiro debate organizado pela comunidade do PSuperior procurou responder à questão “Um mundo sem doenças incuráveis: utopia ou distopia?”.

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Nelson Garrido

É possível alcançar um mundo sem doenças incuráveis? Para já “é ficção científica”, nas palavras do bioquímico David Marçal, contudo, com os constantes avanços da ciência e da tecnologia, não é impossível. Mas apenas se conseguirmos reduzir as desigualdades sociais.

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É possível alcançar um mundo sem doenças incuráveis? Para já “é ficção científica”, nas palavras do bioquímico David Marçal, contudo, com os constantes avanços da ciência e da tecnologia, não é impossível. Mas apenas se conseguirmos reduzir as desigualdades sociais.

No terceiro debate das PSuperior Talks, as desigualdades sociais e o difícil acesso a cuidados de saúde de qualidade, sobretudo nos países mais pobres, foram apresentados como os maiores obstáculos a um futuro sem doenças invencíveis — ou, pelo menos, onde o seu impacto seja menor. Enquanto estes problemas persistirem, “os países de mais baixos recursos vão continuar a ver aumentar a incidência das chamadas doenças incuráveis”, como notou Patrício Soares da Silva, director-geral da área de investigação e desenvolvimento da BIAL.

Tendo como tema “Um mundo sem doenças incuráveis: utopia ou distopia?”, o debate contou com a presença de Patrício Soares da Silva, David Marçal, bioquímico e comunicador de ciência, Rui Nunes, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e investigador do CINTESIS, e Henrique Moreira, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Com moderação da jornalista do PÚBLICO Andrea Cunha Freitas e o apoio da BIAL e da Universidade do Porto, procurou dar resposta a questões como “quais os principais obstáculos a um futuro sem doenças incuráveis?”.

De acordo com Rui Nunes, “há problemas globais que só podem ser resolvidos de forma global”. E para que tudo se concretize são necessários fármacos.

Para ajudar a combater as desigualdades, Patrício Soares da Silva notou que a indústria farmacêutica tem apoiado consideravelmente as instituições que fazem investigação científica e produzem conhecimento — conhecimento a partir do qual depois a indústria produz medicamentos. Há contudo doenças, como a tuberculose, que continuam a atingir fortemente “populações mais desfavorecidas”, afirmou, e que no continente europeu são uma realidade quase esquecida. E esta é uma prova clara de como as desigualdades persistem.

Para Rui Nunes a prioridade devia estar em perceber que “a saúde é um bem universal e não uma miragem que apenas se realiza em determinados países e sociedades”. Por esse motivo é necessário unir esforços, gerar mais conhecimento, investir. Patrício Soares da Silva lembrou a propósito que a cooperação dos estados é “extremamente dispendiosa”, mas a covid-19 mostrou que é possível.

Para Henrique Moreira, estudante de medicina, há necessidades que vão além daquilo que as doenças em si implicam, como é o caso de doentes oncológicos. Na perspectiva do jovem o futuro deve passar por uma medicina que envolve o doente no seu processo de cura, estando a par do diagnóstico e das diferentes opções terapêuticas.

Num painel que defende que mais do que prolongar a vida, o mais importante é prolongar a sua qualidade, David Marçal abordou, por último, a necessidade da literacia científica.

O comunicador de ciência sublinhou a importância de os meios de comunicação terem um papel mais activo, procurando demonstrar que o “processo científico é um processo de retrocessos constantes”, mas que é assim que se atinge o resultado final.

O debate inseriu-se no projecto de literacia mediática PSuperior Talks, organizado pela comunidade PSuperior. Os debates irão decorrer até ao mês de Julho através das plataformas digitais. A iniciativa envolverá os parceiros privados do projecto e onze universidades do país.

Texto editado por Andreia Sanches